O Lamurioso Anjo Negro

Do alto da antiga catedral, envolto a funestas gárgulas de pedra fico a observar as luzes da cidade e os humanos em suas vidas abastardadas; acima de mim o céu está negro, não vejo estrelas, luar, pesadas nuvens me afastam do meu júri celeste.

Em meio a eterna solidão o vento me traz um agradável perfume, imediatamente sou transportado para um passado que insiste em viver dentro de um coração a muito tempo sem vida.

Ainda me lembro do seu sorriso perfeito, a intensidade de seus olhos e toda a alegria que sentia quando ela estava em meus braços, me recordo de planos feitos que nunca se realizarão, quadros, perfeitamente pintados com as tintas da ilusão. Um misto de questionamento e ódio me toma e a pergunta que não se cala, ecoa em minha mente:

Porque?

Compenetrado em minhas indagações não percebo que uma lágrima escura mancha meu rosto alvo e frio, neste momento sinto uma pontada em meu peito, meus dentes parecem projetar-se para fora dos lábios por vontade própria, ah... a sede... minha única e fiel companheira veio me arrancar das minhas poucas lembranças humanas.

Me recomponho e vejo as lembranças serem levadas pela brisa noturna , tal como me foram trazidas.

Não procuro ser ouvido, não procuro mais coerência nas minhas palavras, se existe uma razão para tudo isso, esta me foi tirada. Se os deuses me negaram a ambrosia do Olimpo, seguirei implacável me alimentando daqueles que cruzam meu caminho.

Hoje a noite, não serei o único a chorar...

É hora da caça.

Armand
Enviado por Armand em 20/05/2016
Reeditado em 25/05/2022
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