Juquinha e a timidez

Juquinha era um garoto que dificilmente faltava à escola. Chegava sempre no horário certo, banhado, perfumado, cabelo penteado, se preocupava em manter a farda escolar sempre limpa, pois teria que usá-la por toda a semana.

Na mochila trazia os livros de acordo com o horário da escola. Ao atravessar a rua olhava para os dois lados, cumprimentava o porteiro com um bom dia, entrava na escola sem fazer barulho e sem correria, para não suar, pois na cidade de Juquinha o calor é muito intenso.

Na sala de aula fazia todas as tarefinhas de classe e de casa, nunca reclamava para a professora que o dever do quadro era muito e que já estava cansado, até porque Juquinha não gostava muito de falar.

A Família de Juquinha era pobre e morava numa casa simples e com poucas móveis, num bairro afastado do centro da cidade, mesmo assim Juquinha era muito esforçado nos estudos.

Juquinha era tímido e reservado. Ficava sempre no mesmo cantinho da sala, quieto e raramente puxava assunto com algum coleguinha ou outro, na sala de aula. Se alguma das coleguinhas olhasse pra ela e lhe desse um sorriso, ele ficava vermelho de tamanha vergonha.

A maioria dos coleguinhas de turma não gostava muito de brincar com ele, pois ele era muito quieto, calado, não jogava papel amassado no chão e não brincava de guerra de bolinha de papel, sujando toda a sala.

Certo dia a diretora da escola espalhou um comunicado pela escola que dizia o seguinte:

CONVITE

Caros alunos.

A escola Municipal Deodoro da Fonseca tem o prazer de convidar todos os nossos alunos a participar de uma grande gincana escolar que ocorrerá nos dias 2 e 3 no corrente mês.

Contamos com a vossa participação e colaboração.

Agradece à direção.

Foi uma euforia geral, todos queriam participar. Afinal a gincana iria premiar a turma que apresentasse o maior número de atividades esportivas, culturais e de conhecimento, em alguma das disciplinas fosse matemática, história, português entre outras.

Logo a turma de Juquinha começa a se dividir em pequenos grupos para a distribuição de tarefas. Nenhum grupinho convidou Juquinha para participar, pois eles o achavam muito quieto e incapaz de realizar uma tarefa que somasse pontos para aquela turma ser campeã da gincana escolar.

No dia da grande gincana, todas as turmas estavam prontas, a 1ª série foi a primeira a apresentar sua atividade cultural: o bumba meu boi, foram muito aplaudidos e tiram nota 9 na avaliação dos jurados.

A 2ª série também apresentou sua tarefa, uma dança de rua, onde os coleguinhas dançavam parecendo uns robôs, muito legal, foram aplaudidos aos gritos pela arquibancada lotada da quadra da escola e tiveram dos jurados nota 9,3.

A 3ª série apresentou sua atividade cultural que foi o duelo entre dois violeiros repentistas, citando poesias muito engraçadas, onde todos riram e festejaram. Tiveram dos jurados a nota 9,5.

Chegou a hora da ultima turma apresentar seu trabalho, era a hora da

4ª série. Eles tinham ensaiado um número de circo muito interessante, com malabaristas e trapezistas. Porém na ultima hora a base de ferro do trapézio soltou e ninguém conseguia montá-lo novamente.

E agora o que vamos fazer? Perguntavam os lideres do grupo.

Vamos ser desclassificado, respondeu alguém.

Não isso não pode acontecer, ensaiamos vários vezes para chegar o dia e não apresentarmos, isso não é justo. Se vamos perder, vamos perder competindo e não desistindo. Afirmou Pedrinho o mais persistentes dos coleguinhas.

A diretora da escola que era a organizadora e apresentadora da gincana estava aos gritos no microfone perguntando onde estava o grupo da quarta série que iria fazer a apresentação e que daria somente mais 15 minutos de espera. Caso contrario seriam desclassificados.

Todos eles sabiam que o grupo campeão da gincana ganharia uma viagem para a cidade de Floresta, onde havia um lindo parque natural, com animais de várias espécies, vegetação típica, lagos e cachoeiras lindas para a prática de esportes aquáticos além de um enorme parque de diversão às margens do rio Parnaíba.

Estavam todos ansiosos sem saber o que fazer. O trapézio não tinha mais jeito.

Foi quando a Márcia se lembrou do Juquinha e disse:

_ Há o Juquinha é um grande equilibrista.

_ Eu mesmo já o vi fazendo.

_Ele aprendeu com o pai que trabalhava em circo quando era mais jovem.

Que tipo de equilíbrio ele faz:

- bem eu o presencie equilibrando cerca de cinco 5 garrafas, uma em cima da outra onde ele equilibrava na ponta do queixo com uma varinha de aço.

Juquinha não pensou duas vezes aceitou o convite, pra equilibrar era com ele mesmo, pra isso não tinha timidez que o atrapalhasse.

E com essa apresentação tiram nota 10 dada pelos jurados e foram campeões da gincana.

Moral da historia: as vezes achamos que o nosso coleguinha é muito quieto e que não sabe fazer nada de especial e nos enganamos. Ele pode ter uma grande habilidade em alguma área que desconhecemos.

David Bandian
Enviado por David Bandian em 20/10/2010
Reeditado em 26/10/2010
Código do texto: T2567468