Sobre uma caixinha de madeira, fotografias marcando momentos de outrora enquanto no canto dos olhos de Maria Clara, escorrem sentimentos que fervem em saudade sobre a sua face gélida, onde aquelas lembranças parecem ainda latejar em seu coração.

Mesmo após dez anos, até parece que foi ontem, sua mãe, a grande atração do circo, trapezista graciosa, que dançava sobre os ares de um lado para o outro como um anjo, brilhando nos olhos do publico que sempre a aplaudiam de pé… até que um dia enquanto ela voava, algo saiu errado, onde numa fração de segundo, suas mãos não alcançaram o seu objetivo e dessa forma, ela acabou caindo de uma altura de vinte e cinco metros diante dos olhos de clarinha que gritava em desespero com lágrimas em seus olhos, abraçada em sua boneca de pano.

Clarinha cresceu numa família circense, onde sempre viajavam pelo mundo espalhando alegria e onde também, ela sempre sonhou em ser uma trapezista assim como a sua mãe, onde a cada espetáculo a admirava e cheia de orgulho sempre dizia: “aquela é a minha mãe”… mas após aquele momento, nunca mais ela assistiu algum outro espetáculo.

Ela passou então a tentar buscar outros caminhos e por mais que se esforçasse… nada parecia lhe trazer inspiração, nada parecia lhe trazer satisfação, nada parecia suprir aquele vazio que cada vez mais gritava em seu peito. Desde a morte de sua mãe, todas as noites, Clarinha ainda parecia ouvir o som do trapézio grunhindo enquanto a sua mãe treinava arduamente e ao dormir, sempre o mesmo sonho, onde via as suas mãos tentar alcançar o trapézio e nunca chegar até ele e em meio a uma sensação de queda, ela acaba sempre acordando assustada abraçada com a sua boneca de pano Lilli.



Uma certa noite, já cansada dos mesmos pesadelos e cansada de não saber como arrancar aquele vazio em seu peito, Clarinha decidiu então ir até o circo vazio e subir os vinte e cinco metros para enfim, tentar superar aquilo… ela sabia que precisava seguir em frente e já com uma altura considerável, ela vestiu a roupa que era de sua mãe e ficou ali paralisada segurando o trapézio, observando o outro trapézio parado no alto do centro do circo onde era o seu objetivo… apreensiva e com a suas mãos suando frias e seus olhos cheios de lágrimas, as lembranças começaram a bater mais forte a cada segundo, tornando aquilo ainda mais difícil, até que ela segurou a respiração, segurou firme e voou... e enquanto ela sentia a brisa bater em sua face, ela reviveu cada momento daquele dia , como se do outro lado a sua mãe saltasse ao seu encontro para buscá-la… Seus traços ainda eram perfeitos nas lembranças de Clara…  que via aquele doce sorriso se aproximando e acalmando o seu coração, até que chega a hora de largar o trapézio e esticar as mãos para segurá-la… na hora de soltar, Clarinha fechou os olhos e sentiu um aperto no coração, onde assim como em seus sonhos, parecia não conseguir alcançá-la, mas ao lembrar dos olhos de sua mãe, fez um esforço a mais até que ela pôde sentir algo solido tocar suas mãos, onde ela segurou firme e não mais soltou…



Desde então, clarinha passou a ser a grande atração do circo, onde a cada salto, ela voa em busca de sua mãe… Onde é conhecida como ‘A Nuvem Branca’ que voa de forma graciosa, pairando sobre o céu e fantasiando os olhares brilhantes que a observam e a apreciam.




                 Em memória a um anjo que me ensinou a voar

                

          E que continua me acompanhando em cada võo da vida

                                            Obrigada mãe





(Felipe Milianos)

Imagem via google/Tumbl


Felipe (Don) Milianos
Enviado por Felipe (Don) Milianos em 15/03/2011
Código do texto: T2849656
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