Nasceu a estrela

Ao nascer do sol, grita o choro da criança, um grito tão forte, que surpreende a todos a sua volta. –“Que fôlego” - diz o seu médico surpreso e assim, nasce então à pequena Maria Eduarda, que após os procedimentos básicos, se aninha nos braços de sua mãe ainda emocionada, que logo se preocupa com os olhares e cochichos dos médicos a sua volta, até receber a triste notícia… Maria Eduarda nascera com problemas em seus olhinhos e por isso, infelizmente terá que viver uma vida sem poder enxergar o mundo a sua volta.

Superação a cada dia

Dessa forma, Maria Eduarda teve que crescer sob cuidados especiais e por sua mãe não ter boas condições financeiras e pela renda que não era muita por conta da ausência de um pai, acabava indo para os cursos especiais que eram necessários para o seu desenvolvimento e por conta de suas limitações, nunca pode participar de todas as recreações de suas amiguinhas e por conta disso, ela cada vez mais ia se fechando, se deprimindo e cada vez mais passando a perceber o que ela teria que enfrentar. Sua mãe percebia a sua tristeza e a entendia, mas não havia muito que fazer, a não ser estar sempre presente, conversando e de alguma forma, ir tentando moldar o mundo de uma forma que parecesse mais agradável para ela e era o que ela sempre fazia e isso foi cada vez mais fortalecendo o laço entre as duas.  



Sonho

A mãe de Maria Eduarda sempre foi evangélica, aonde toda semana, juntas iam à igreja, um lugar onde Maria Eduarda se sentia bem, onde todos a recebiam bem e a tratavam como se não houvesse problema algum, até que certo dia, algo de muito especial aconteceu em sua vida… onde em meio a uma oração, ouviu o som de um piano, somado a uma linda voz e um coral por trás… Sentada ao lado de sua mãe, Maria Eduarda não se moveu, apenas se concentrou no som da voz e do piano… Logo já era noite e hora de ir embora. Como de costume, sua mãe lê sempre uma história antes de dormir… Maria Eduarda ainda com aquilo na cabeça interrompeu a narrativa e disse:

-Mãe…
-Sim…
- Eu quero ser cantora!


Sua mãe lhe olhou surpresa e como sempre, não sabendo lhe negar nada, acabou tendo uma idéia, onde no dia seguinte a levou a igreja, onde havia aulas gratuitas de canto e onde também, todos já a conheciam e onde sempre a trataram bem. Maria Eduarda então fora apresentada ao piano, onde através de sua sensibilidade auditiva, soube captar e se familiarizar com cada nota, cada tecla, cada tom e de forma surpreendente, em pouco tempo, ela já dominava o teclado como poucos e esse passou a ser o seu prazer de viver, de sentir e crescer… Aos sete anos Maria Eduarda já cantava no coral e aos oito, passou a ser a voz que ditava o coral, onde passou a chamar a atenção com sua voz potente e aveludada.

Dom

Maria Eduarda tinha um dom pra música, onde criou o seu próprio tom e todos acabavam se encantando com o seu som, com a sua voz e em meio a isso, todos queriam estar perto dela, inclusive as crianças que sempre a evitavam e isso tudo, só emocionava a sua mãe que orgulhosa, cada vez mais enxergava Maria Eduarda feliz e isso era o que mais a deixava feliz. Logo uma grande oportunidade surgiu, onde o professor de Maria Eduarda lhe indicou para uma audição, onde seriam selecionados cantores e cantoras para fazerem parte de um musical envolvendo uma cantora que ela gostava muito, seu segundo ídolo, sendo o primeiro, a sua mãe. Maria Eduarda ficou feliz pela oportunidade, mas também apreensiva, pois era muito tímida e nunca havia cantado fora de sua igreja ou para outros públicos e a sua mãe ao perceber a sua apreensão, procurou sempre estar presente para lhe dar forças.

Esperança

Para completar a felicidade de ambas, uma das pessoas sempre presentes na igreja, se aproximou e lhes falou sobre um novo tratamento, que segundo ele a faria enfim, poder enxergar… De repente, Maria Eduarda viu isso como uma grande oportunidade e acabou criando grandes expectativas sobre isso. Sua então juntou o que tinha e o que não tinha, junto a algumas doações da igreja, para que ela pudesse fazer esse tratamento… Como a audição ainda levaria um tempo para ocorrer, Maria Eduarda ainda tinha esperanças de no dia, poder estar enxergando e assim talvez, estar mais confiante.



Frustração

Maria Eduarda enfim fez o tratamento… a expectativa era grande, onde teve que manter os seus olhos protegidos por curativos, não podendo ficar expostos ao sol durante pelo menos uma semana… Ela então usou esse tempo para ensaiar, até que chegou o dia de voltar ao hospital e enfim tirar os curativos e enfim, poder ver os resultados do tratamento. Sua mãe parecia mais ansiosa do que ela, até que o medico enfim tirou os curativos e todos ficaram ali esperando que ela tivesse alguma reação positiva. Maria Eduarda se manteve calada, seu olhar fixo manteve todos ali apreensivos, até que ela chamou por sua mãe e pediu para que ela a tirasse dali. O tratamento não dera certo e Maria Eduarda por ter apostado tanto nisso, acabou desabando… Sua mãe desabou por dentro, mas não podia demonstrar isso, onde mais uma vez, teve que ampará-la.

-Mãe… Me promete uma coisa?
-Diga filha…
-Caso apareça qualquer outro tratamento, por favor… não me diga, não quero mais ter que criar tantas expectativas. Essa sensação é tão dolorosa… tenho que aceitar quem eu sou e parar de querer mudar isso.

Sua mãe não disse nada, apenas a abraçou forte e assim ficaram por um bom tempo.



Portas se abrindo

Maria Eduarda então passou a se focar na musica, se empenhando arduamente para que tudo saísse bem no dia da audição, até que enfim chegou o grande dia. Ela sempre cantou ao lado de sua mãe, que lhe trazia uma força a mais e bastante confiança, mas desta vez, ela teria que se apresentar sozinha e logo começou a audição, onde o nervosismo lhe tomou conta e nervosa, enfiou as suas mãos no bolso de sua blusa aguardando o veredito dos jurados que como ela já esperava… reprovaram-na. Aquilo acabou desanimando ainda mais Maria Eduarda e sua mãe mais uma vez presente, teve de ampará-la. Ninguém podia sair da audição, até que todos os participantes terminassem então, Maria Eduarda acompanhou a sua mãe até a outra sala e juntas se sentaram aguardando o termino da audição. Maria Eduarda ouviu o som de um piano sendo tocado, onde parecia estar desafinado e a pessoa que o te tentava afinar, parecia estar tendo dificuldades para fazê-lo, então, ela apenas disse:

-“LÁ”
O rapaz que tentava afinar o piano olhou para ela surpreso…
-Como…?
-O problema está no “LÁ”
O rapaz sem saber mais o que fazer, acabou seguindo o seu conselho e surpreso, percebeu que ela estava certa.
-Você percebeu isso em tão pouco tempo e só de ouvir?
- Acho que tocar piano é isso… ouvir, não é mesmo?
O rapaz sorriu:
-Você toca?
-Sim, eu toco.
-Poderia me mostrar?


Maria Eduarda exitou, mas a sua mãe lhe incentivou, alegando que aquilo iria ajudar a ocupar um pouco a cabeça.
Ao ouvir aquela pequena menina tocar, o rapaz ficou encantado e surpreso com o seu talento e ao perceber que ela era cega, ficou ainda mais impressionado e acabou tendo uma grande idéia, onde disse a ela que haveria um teste, onde seria selecionado um único pianista para a apresentação de uma cantora muito famosa… Aquela mesma apresentação onde ela havia falhado na audição de canto. Maria Eduarda estava desanimada e sua mãe a sua maneira, conseguiu motivá-la a fazer e dessa vez não teve erro… o talento de maria Eduarda acabou se sobressaindo e ela então, passou a ser a pianista do grande dia.



Brilhou a estrela

Feliz por logo poder tocar com a cantora que sempre admirou, Maria Eduarda passou a novamente sorrir, aonde em cada ensaio junto aos seus novos amigos, cada vez mais ela ia se apaixonando pela música. No meio dos ensaios, ela pôde enfim conhecer a sua cantora favorita, um momento de muita emoção para ela e também para sua mãe… A cantora ficou impressionada com a pequena menina e todo o seu talento… As duas então passaram há ficar mais tempo juntas e no meio da convivência, Maria Eduarda conheceu também os “contras” do mundo musical, onde a cantora passava por problemas de saúde, que acabaram prejudicando a sua voz e não podendo adiar, ela era pressionada por seus empresários.
Logo chegou o grande dia e Maria Eduarda estava muito feliz e também muito preocupada, pois a cantora não lhe parecia muito bem, onde demonstrava uma voz fraca e desanimada, mesmo tentando parecer estar tudo bem. Maria Eduarda era cega, mas tinha uma audição apurada para as coisas e cada vez mais ia se preocupando com ela. O som do ambiente mostrava que o lugar estava lotado, o palco estava envolto por uma platéia que o rodeava… O coral posicionado atrás da cantora e o piano impecável… já estava tudo pronto para a grande apresentação, que logo começou com um solo dedilhado por Maria Eduarda… Logo a voz da cantora não estava saindo muito bem, aonde a cada nota, ia cada vez mais se enfraquecendo, até não haver mais voz alguma… Maria Eduarda sabendo de seus problemas passou a ouvir da platéia, o som de cochichos reprovando aquilo… Ela havia se apegado muito a cantora e não queria que ela passasse por aquilo então, vencendo o nervosismo de cantar fora de sua igreja, tomou a frente puxando o microfone do piano e assumiu o lugar da cantora… A voz de Maria Eduarda então ecoou por toda a teatro… uma voz potente e emocionada, tão cheia de vida e prazer… A cantora então olhou para aquela pequena menina e sorriu diante do seu talento, que alcançou as maiores notas, emocionando todos os ouvidos e olhares ali presentes… principalmente um certo olhar que sempre torceu por ela… que sempre esteve presente, a apoiando e a amparando…  Maria Eduarda deixou que a emoção lhe tomasse conta, onde junto ao coral, deixou que a sua voz a guiasse, onde muitas lembranças lhe veio, mostrando todo o caminho que a fez chegar até ali… Logo todo o teatro tremeu diante de aplausos de pé de todos ali presente, inclusive de sua cantora preferida…  Após as palmas, emocionada, Maria Eduarda diz:

-Obrigado… Mãe… obrigado por sempre ter estado ao meu lado, por ter sido a minha força, o meu caminho e por ter sido os meus olhos… Te amo!




(Felipe Milianos)

Imagem Via Google/Tumbler  

Rascunho



Felipe (Don) Milianos
Enviado por Felipe (Don) Milianos em 17/03/2011
Reeditado em 17/03/2011
Código do texto: T2853834
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