A botija
 
     Acordou no meio da noite. Mais uma vez o sonho tinha se repetido. Durante dias vinha sonhando com uma bola de ouro, que se encontrava enterrada em determinado local dentro daquela velha casa, herança do seu avô a ele, único neto. Nunca acreditara nessas estórias folclóricas contadas através das gerações, mas aquele sonho que não o deixava em paz, estava começando a incomodá-lo, deixando-o com a pulga atrás da orelha.
     Certa noite, vencido pelas noites insones que seu pesadelo trazia, decidiu sair até o quintal da casa. Voltou munido de uma velha e enferrujada pá. Fez tudo como mandava o figurino. Seguiu para o local indicado sozinho e em silêncio, não havia comentado a ninguém sobre o seu sonho, embora não acreditasse na lenda, achou por bem permanecer calado. Vai que se transformasse em uma formiga. 
     Ao iniciar sua escavação no velho porão da casa  começou a ter visões. Coçava os olhos para ver se estava sonhando. Ao seu derredor figuras horrendas apareciam, como que com o intuito de fazê-lo falhar em sua missão.Porém, o destemido caçador de tesouros não se deixou abater. Agora seus olhos brilhavam ao contemplar o precioso achado: moedas de prata e ouro, jóias antigas... Eram reais, nada de miragem ou sonho. Tocava com as suas próprias mãos e com a sua mente convenceu-se que o que os antigos contavam era verdadeiro.
     No dia seguinte seguiu viagem com toda a família para a capital. Na bagagem o tesouro encontrado e a esperança de dias melhores. No fim de tudo, não se esquecera de mandar rezar algumas missas pela alma do velho avô.



*Conto inspirado nas histórias contadas pelo meu pai. Pena que as almas penadas da velha casa onde moro ainda nao me reservaram nenhuma dessas surpresas.
Márcia Kaline Paula de Azevedo
Enviado por Márcia Kaline Paula de Azevedo em 20/02/2012
Reeditado em 20/02/2012
Código do texto: T3509685
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