Meu Pequeno Dom Quixote - republicado
 
Sábado de manhã, tempo frio e chuvoso e eu ali sentado na sala assistindo TV sem nada mais interessante para fazer, isso até aquela vozinha lá debaixo clamar com força:
- Hoje quero ser cavaleiro! – me disse o menino.
Olhei para baixo e vi meu pequenino com um chapéu de papel na cabeça (chapéu de marinheiro, mas não ia estragar a brincadeira) e brandindo uma colher na mão feito uma espada.
- Mas todo cavaleiro precisa de um cavalo – disse eu.
Por um instante meu pequeno cavaleiro se entristeceu:
- Ah papai, a gente não tem cavalo.
Arrependido do mal que fiz, logo dei um jeito de reverter à situação:
- Como não? A gente tem sim um cavalo – os olhos dele brilharam de novo.
Fui até o armário da cozinha e pequei a primeira vassoura que vi pela frente.
- Tome nobre cavaleiro, seu fiel cavalo Rocinante.
- Rocinante? Que nome feio papai.
- Mas esse é um famoso alazão espanhol meu filho, só os mais bravos entre os bravos podem montá-lo.
- Oba! Então vem aqui cavalinho!
Pronto. A aventura já podia começar.
- Tloc, tloc, tloc... vamos cavalinho, vamos cavalinho.
- Filho eu posso ser seu escudeiro?
- Escudeiro, o quê que é isso papai?
- O escudeiro é aquele que acompanha o cavaleiro em suas andanças e aventuras, ajudando-o em momentos de perigo.
- Oba! Pode sim papai.
- Mas agora eu não sou mais papai, pode me chamar de Sancho Pança!!
- Hehehe, hehehe – meu cavaleiro começou a rir sem parar.
- Oh, por que ristes nobre amo? – ele fez uma carinha de quem não entendeu nada e eu repeti a pergunta – do que você tá rindo meu filho?
- É que esse nome que você inventou combina mesmo com seu barrigão, Sancho Pança, hehehehe. – bem, as crianças são sempre sinceras.
Mas enfim partimos em nossa jornada pela casa em busca de aventuras.
Ao passar pelo quarto mamãe ainda estava deitada na cama sob o edredom.
- Veja meu filho – disse eu – aquela não é a adorável dama Dulcinéia que dorme sob o encanto de um malvado feiticeiro?
- Sim Sancho, vamos salva-la, mas cuidado com aquele dragão vigiando a donzela. Rocinante! Avante.
E lá fomos nós. Meu amo e cavaleiro retirou num só golpe o grande Dragão Edredom de cima de Dulcinéia e o golpeu com sua espada mágica.
Dulcinéia assustada e sem entender nada despertou de seu sono encantado.
- Mas o que as duas crianças estão aprontando?
O cavaleiro logo se pôs a frente e tranqüilizou a donzela:
- Princesa Dulcinéia, a gente te salvou do Dragão Edredom!
- Princesa Dulcinéia? – ela perguntou, nisso eu rapidamente pisquei um olho para ela – ah sim- ela disse entrando em nosso sonho – obrigado Cavaleiro da Alegre Figura, para sempre lhe serei grata por tamanho heroísmo, merece um beijo.
E assim o cavaleiro recebeu seu troféu!
- Agora tenho que ir princesa – disse o cavaleiro – tenho muitos perigos para enfrentar e princesas para salvar. Rocinante! Avante!
- Adeus cavaleiro, cuidado com os perigos e você Sancho Pança, cuide bem do meu amado!
E como nos contos de Cervantes partimos em busca de novas aventuras. Tudo bem que nossos gigantes não eram moinhos e graças a Deus nosso cavaleiro não era triste, mas o que importava mesmo era entrar na fantasia de uma criança e resgatar de dentro da gente esse pedacinho da vida onde a imaginação comanda e o importante é ser feliz.
E avante Rocinante!
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Luciano Silva Vieira
Enviado por Luciano Silva Vieira em 23/05/2012
Reeditado em 29/10/2013
Código do texto: T3684583
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