EXEMPLO DE MÃE

Esta é uma daquelas histórias, que toda mãe que almeja criar os filhos com o mais puro esmero, dando-lhes uma educação séria, comprometida com princípios e sendo exemplo fiel, tenta esconder a todo custo.

Até que numa tarde degustando um delicioso cafezinho, derrama o líquido quente de sobressalto quando percebe o avô estufando o peito e iniciando a história aos dois netos. Atentos a cada detalhe os dois garotos escutam o avô narrar minuciosamente as constantes fugas da mãe, da escola, quando tinha apenas seis anos de idade. Numa tentativa desesperada de se furtar dos olhares inquisidores dos filhos, a mãe imerge em pensamentos. De volta a Pedro Leopoldo, aquela magricela de cabelos escuros levemente cacheados nas pontas, era o terror da escola em que estudava. Não havia portões e grades que impedissem, que fizessem barreira para os planos de evasão educativa da garota. Para desespero da diretora, que sofria todos os dias a responsabilidade na pele. Assim que o portão era fechado, alguns funcionários se colocavam a paisana no intuito de pegar a pequenina no pulo. Parecia que a danadinha tinha poderes de invisibilidade. Era só alguém se distrair e lá ia ela, com as alças da jardineira dependuradas, correndo de volta a casa. Por várias vezes chegava antes da mãe, que parava em algum mercado, para fazer acertos, anotados em cadernetas pelos comerciantes.

Findo alguns meses, ali por meados de setembro, a pequenina já se comportava como uma princesinha, rendida aos encantos da educação infantil. Naquela altura do ano, já não mais se fazia vigília de seus passos, era uma inocente menininha andando livre pela escola. Até que... Com os arroubos da paixão que a primavera traz tão febrilmente... Percebeu talhado na madeira de sua carteira um coração com as iniciais do seu nome. Fitou toda a classe tentando desvendar possíveis suspeitos. Sentiu-se tão ultrajada e violada, parecia o sangue ferver e o coração disparar.

E com as alças da jardineira, arriadas e os cachinhos ao vento, passando mais uma vez invisível pelo portão da escola, a pequenina voltava correndo pra casa. Enquanto corria ouvia agora os sons das risadas dos filhos, a cada narrativa do avô.

Lilia Costa
Enviado por Lilia Costa em 12/10/2012
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