Brincar de morrer?!

Deitada no chão, anuncio: - Mãe morri! E fico lá de olhos fechados imóvel. Algum tempo depois, abro apenas um olho... E nada... Espero mais um pouco, abro o outro olho... E nada... Digo novamente: - Gente morri!

- Larga de ser boba menina! - diz minha irmã.

Fecho os olhos e penso que mesmo estando ali "morta" minha mãe continua na cozinha preparando o almoço, minha irmã passa e segue em frente resolvendo suas coisas, meu irmão brinca com seu carrinho, meu pai dorme no sofá, sonha, resmunga e eu ali "morta".

Deitada naquele chão, percebo que a vida continua igual. Todos seguem sua rotina, tomam café, lavam os rostos, arrumam a casa, riem, brincam, estudam, dormem, sonham e fazem tudo normalmente.

Percebo que é necessário todos seguirem em frente, mesmo que eu esteja morta, dessa forma, sinto a vida das outras pessoas, cada qual com seu papel, como numa história. É dessa sensação que eu gosto e que me faz brincar de morrer. Por outro lado, essa ideia de simplesmente desaparecer e ninguém sentir minha falta, assusta, fico com muito medo.

Pego levemente no sono, ouço vozes... De repente sou obrigada a reviver, minha mãe me chama para almoçar:

- Lulu pare com essa bobagem, todos estão te esperando para comer. Venha já!

- Nossa, que susto! Por hoje chega de brincar de morrer, agora vou brincar de viver.

Levanto-me rapidamente e corro até a mesa. Fico feliz em ver todos os personagens da minha história vivos e felizes.

Sandra Ferrari Radich
Enviado por Sandra Ferrari Radich em 05/01/2013
Reeditado em 27/01/2016
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