Menino linguarudo

Rémunda Corcunda morava na roça com seus trêis fiio - os cambada era pafrente feit’êles só!!! Seu cumpanhêro, pai das criança, tinha partido sa-bi-la Deus pr'onde. O mais novo, cunhicido pru Restôi, já era minino duns deiz ano... além de birrento e entrão era lerdo, danisco na mancada.

Dispois duns seis ano qui tinha nascido o minino da cumá-bastiana , ali mémo nu Córgo on'morava, Rémunda arresorveu antão ir fazê uma visita.

Ricibiada, ca–priguntação e azaração quêis junto inha aprontá levô só o Restôi qü’ela, qui era afiado di batizado; mais recomendô ele dimais da conta pra qui num priguntasse nada acerca da ôtra orêia qui fartava no minino.

Chegaro lá cedo, berano a hora da bóia, e já foi ino rumano prus fundo, pa- porta da cuzinha mémo; condo parô na prosa ca -cumá-bastiana qu’invinha nu incontro; Prosa pra lá, prosa prá cá, iscapole daqui e iscapole dali. Nisso, Restôi, qui rudiava a prosa, sem dá orença sua mãe saiu correno feito um cachurrin atrais dum gato qui tinha pulado du fugão, on'tava isquentano fogo... e sumiu patrais da casa a fora.

Dispois duns vinte minuto déro farta dele - antão, sai as duas cumade atrais du minino. Condefé Cuma- Bastiana, di longe, avistô o artêro du Restôi inté vêsgo incarado naquê-qui-fartava uma das orêia, iguale uma cobra condo ta quereno pegá um sapo - injuêiado e cas –mão-a-postas levantada, cramava ansim, oiano pru minino e pru céu: Santa luzia qui-ti-dê boa vista... Santa luzia qui-ti-dê boa vista... Santa luzia qui-ti-dê boa vista... Santa luzia qui-ti-dê boa vista; e num parava mais não.

Bastianinha intendeno quio fedazunha du restôi impurtunava seu fiio apertô o passo.

Condo iscuitô a narquia, da ripitição, pensô in –dá nele uma rêiada na cacunda... e o fedamanha de tão intirtido nem viu ela chegano! - Cutucô ê-na-nuca cum pé du rei, ele assustô deu um pulo e gritô nó-sinhora!!! Munto duída e cismada, Bastiana prigunta: prumodiquê ocê ta falano isso qu’ele? - O minino num sofre das -vista não meu fiio, num incomod'ele não!

Restôizin, deu uma oiada pra Rémunda Corcunda, sua mãe, qui-murdia us beiço di–raiva com vontade vuá nele; nisso ela foi chegano di–leve inté qui apariô du lado - sem falá um "A" deu nele uma dedada na custela, qüesse dedo maió, cum tanta força, quêle sartô pafrente e sortô um burro dum peido. - Mais foi tiro-e-queda!

Na méma hora ele lembrô da recomendação da omõe - di-qui-num pudia falá nada a respeito da farta da ôtra orêia do minino; antão, zoiô dend’uzoi da sua madrinha e falô ansim: ieu tô veno divera, madrinha, e é pur carsa disso mémo quio-tô cramano pra-santa luzia, protetora das vista, pramode ela tê piedade e num dexá as vista dele istrapaiá... Sinhora já pensô se for priciso pô -nele um ócrus!?

Mandruvachá
Enviado por Mandruvachá em 03/09/2014
Reeditado em 05/03/2015
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