Joaninha na Janela

Joana estava à beira da janela pensando em como era chato ter de ser exposta à uma máquina barulhenta à cada hora que um adulto passasse por ela, algo que eles chamam de fotografia. Ela tinha noção de que não era um bicho tão raro assim, mas talvez tivera sido abençoada com suas pintas pretas ao fundo vermelho mais do que alguns besouros não muito queridos. Por vezes, era bom sentir-se bela aos olhos de seres tão apressados e ocupados. Mas uma coisa que ela não entendia era o fato de qualquer coisa que fosse menor do que eles, tinham de colocar o tal do inha. Porque não trocam o joaninha para o inseto Joana D'arc? Uma mulher que fora tão corajosa como aquela joana na beira de uma janela de um arranha-céu. Ela não gostava nenhum pouco daquele diminutivo criado por uma gramática de seres humanos. Pensar na joaninha tão pequena assim, a leva pensar nos poucos dias que se tem.

Para o calendário de vocês, nós vivemos até cento e oitenta dias. Pode parecer pouco para quem vive anos, mas enquanto estamos vivinhas da D'arc, fazemos valer a pena os nossos dias. Paciência, ser humano. Vou dizer o por quê. Algum nerd de nossa espécie ainda não inventou o smartphone, e sobre a maça: as nossas amigas larvas a adoram. O itunes não nos faz tanta falta, apesar dos pássaros não serem fãs do nosso cheiro, ainda conseguimos ouvir o seu canto. Algum couch potato também ainda não inventou um hambúrguer que meça menos de dez milímetros, mas deixo bem claro que nossa refeição é rica. Comemos até duzentos pulgões por dia, e é bem natural, ao contrário da dieta gordurosa de sua espécie. O que eu também não entendo em vocês é que reclamam do alimento prontinho no prato. Mais sal, menos sal. Cada um quer de um jeito, tenho até dó de quem trabalha com o chapéu branco na cozinha. Quem me dera se houvesse uma mosca de fruta na sopa. Mas enquanto isso, temos de disputar nossa comida com o exército de formigas e ainda ter de aguentar as vespas folgadas. Mas chegando onde quero chegar, nós temos um papel importante na sociedade verde, nós comemos tudo aquilo que é ruim para as plantas. E é por isso que muitos seres humanos possuem um belo jardim. Essa minha pintinha não é atoa, isso faz pensar que os predadores e destruídores de jardins nos achem venenosas e assim, saem correndo. È engraçado até. Embora vivamos poucos dias, não deixamos de conhecer o mundo e tampouco aproveitar os países frios para hibernar. Minha amiga Mariquita me manda folhas postais da Argentina, e a coccinelle sempre manda algumas receitas diferentes de polénouille. Agora deixe-me aproveitar o restante de meus dias, meus irmãos Lady e Bug me esperam. E uma observaçãozinha: chega de me chamar de joaninha, somos grandes dentro do nosso pequeno formato.

Uma Beatriz
Enviado por Uma Beatriz em 15/04/2015
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