A Bicharada.
Jogar bola acho que é a atividade mais legal para se fazer entre o cachorro e o seu dono. Todo fim de tarde, o meu dono e eu jogávamos bola... Quer dizer ele jogava a bola, eu ia pegar e devolvia na mão dele. O Lucas é o nome do meu dono; ele não é um adulto, é um garotinho de nove anos que não para de correr, é assim que ele chega em casa, já querendo pegar a minha bolinha para jogar.
- Vai Benji, pega!!
E lá vou eu!! Vou correndo pegar a bola, vou a toda velocidade que corro mais do que a bola e acabo passando ela, mas quando vou pegá-la, a bola passa por baixo das minhas patas e cai no galinheiro.
- Olha só Marieta, eu acho que alguém perdeu a bolinha.
- Eu também acho que a brincadeira chegou ao fim. Nós avisamos que se a bola cair mais uma vez aqui não iríamos devolver.
Essas são as galinhas Maria e Marieta as mais cruéis que já vi na face da terra, mas para que elas possam devolver a bolinha, vou pedir com a maior delicadeza.
- Com licença, será que as senhoras podem devolver a minha bolinha?
- Marieta, o que você acha. Nós devemos devolver a bola a eles?
- Eu acho que não Maria, está bola cai aqui no galinheiro toda hora que acaba atrapalhando o nosso sono.
- É verdade. Portando, a resposta é não!
- Prometo que a bola não vai cair no galinheiro novamente.
- Não! – Disse Maria.
- Ah, por favor! Vocês vão estragar a brincadeira mesmo?
- Não... Quer dizer sim, nós vamos ficar com a bola e só vamos devolver amanhã! – Disse Marieta.
- Benjiiii!! Trás a bola!
- Estão escutando, o Lucas quer a bola e se vocês não devolver, ele vai entrar ai para pegar. – Disse Benji.
- Nós vamos defender o galinheiro e a bola agora é nossa! – Disse Maria.
- Está bem mas, se uma de vocês avançarem no Lucas, vão parar na mesa do jantar. – Disse Benji.
- Maria, eu não quero parar na mesa do jantar! – Disse Marieta.
- Nem eu Marieta vamos devolver a bola para este vira-lata! – Disse Maria.
- Obrigado por devolver a bola e sou vira-lata com muito orgulho! – Disse Benji.
- Orgulho de que? Todo cão vira-lata é mal-educado, feio. – Disse Marieta.
- Eu não ligo para o que vocês falam, têm muita cachorrinha que abana o rabinho para mim suas feiosas! – Disse Benji.
- Este cachorrinho anda sonhando muito. – Disse Maria.
- Eu aposto um ovo se uma cachorra de atenção a ele hahaha. – Disse Marieta.
- Benji, trás aqui pra mim! – Disse Lucas.
Consegui recuperar a bola das patas daquelas duas galinhas agora Lucas e eu podemos continuar jogando.
- Lucas, vem jantar! – Disse Helena.
Ah, não a mãe chamou o Lucas para jantar. Helena é o nome da mãe do Lucas que para mim é o meu irmão então ela é a minha mãe também.
- Oi, Benji. Quer jogar bola? Vai pegar! – Disse Helena.
- Opa, mamãe jogou a bola e ela tem mais força que o Lucas... Nãoooooo!! – Disse Benji.
- Hahahaha olha só o que está de volta, Marieta? – Disse Maria.
- O cachorrinho deu azar outra vez. A bola vai ficar aqui! – Disse Marieta.
- Não vão devolver? Vou chamar a mãe! – Disse Benji.
- Olha Lucas, a bolinha do Benji caiu no galinheiro. – Disse Helena.
- Vai lá pegar mãe! – Disse Lucas.
- Isso mãe, pega a bola daquelas galinhas feias! – Disse Benji.
- Huuum hoje não! Amanhã eu pego, já está tarde ta na hora de jantar e dormir. O Benji também precisa ir dormir. – Disse Helena.
- Tá bom, até amanhã Benji. – Disse Lucas.
- Até amanhã, Lucas. – Disse Benji.
- Isso vai dormir! – Disse Marieta.
- Cala a boca, galinha feia! – Disse Benji.
- Parem de falar! – Disse o Arnaldo(Periquito).
- Para de falar você papagaio! – Disse Benji.
- Vem calar o meu bico, isso se você alcançar a gaiola e eu sou um periquito para a sua informação! – Disse Arnaldo.
- Eu não vou ai, mas tome cuidado que a lagartixa está de olho no ovo da sua namorada. – Disse Benji.
- Ah, que cachorro x9! Eu estava quase entrando na casa deles! – Disse a lagartixa.
- Aqui, está lagartixa não entra! – Disse o periquito.
- Uma hora esse papagaio terá que dormir e quando ele acordar não vai ver mais o ovo! – Disse a Lagartixa.
- Escutou está Arnaldo? Desafiou você e o seu sono. – Disse Benji.
- Eu não ligo! – Disse Arnaldo.
- Liga sim! – Disse Benji.
- Liga sim! – Disse Arnaldo.
Comecei a estranhar o comportamento do Arnaldo papagaio. Olhei para ele por alguns instantes e perguntei.
- O que foi? – Perguntou Benji.
- O que foi? – Perguntou Arnaldo.
- O que foi Arnaldo?! – Perguntou Benji.
- O que foi Arnaldo?! – Perguntou Arnaldo.
- Pare de me imitar! – Disse Benji.
- Pare de me imitar! – Disse Arnaldo.
- Você é um papagaio chato! – Disse Benji.
- Você é um papagaio chato! – Disse Arnaldo.
- Agora essa ave deu para ficar repetindo o que eu falo. – Disse Benji.
- Agora essa ave deu para ficar repetindo o que eu falo. – Disse Arnaldo.
- Repita comigo, Arnaldo! – Disse Benji.
- Repita comigo, Arnaldo! – Disse Arnaldo.
- Eu sou idiota! – Disse Benji.
- Bom se você está dizendo, quem sou eu para duvidar. – Disse Arnaldo.
E a bicharada toda riu de mim, todos que estavam no quintal, mas preferi não ligar, então entrei na minha casinha e fui dormir.
No dia seguinte, ouvi um falatório no quintal e logo percebi que o assunto era eu.
- Ai, o Arnaldo começou a imitar o Benji que ficou irritado – Disse Marieta.
- Eu queria ter visto está cena do cãozinho indo para a sua casinha com lágrimas nos olhos. – Disse Brutus o galo.
- O que estão falando ai? – Perguntou Benji.
- Olhem só, o cachorro da casa acordou. – Disse Brutus o galo.
- Isso são horas de acordar moço? – Perguntou Maria a galinha.
- Vocês ficaram falando e rindo até tarde que demorei a pegar no sono. – Disse Benji.
- Estávamos falando da brincadeirinha que o Arnaldo fez com você. – Disse Brutus.
- Na verdade ele é um bobão! – Disse Benji.
- Na verdade ele é um bobão! – Disse Arnaldo.
- Não vou tolerar mais uma brincadeira sua Arnaldo! – Disse Benji.
- Não vou tolerar mais uma brincadeira sua Arnaldo! – Disse Arnaldo.
Então decidi partir para o ataque e como eu pulava bem alto, era fácil para mim alcançar a gaiola do papagaio e com uma boa corrida e um bom pulo consegui derrubar a gaiola do papagaio mas acabei me dando mal.
- Mais que bagunça é está?! – Disse Marcos.
Marcos é o dono da casa, o pai do Lucas e ele viu toda a confusão.
- Olha o que você fez Benji! – Disse Marcos.
- Acho que alguém vai ser preso. – Disse Maria.
- Eu também acho que ele vai ser preso. – Disse Marieta.
- Fiquem quietas suas galinhas! Ele não vai me prender. – Disse Benji.
- Benji, por causa da gaiola quebrada você ficará preso. – Disse Marcos.
- Não vou mesmo! – Disse Benji.
Comecei a correr pelo o quintal e o Marcos correu atrás de mim com a coleira na mão. Esbarrei em muitos objetos e acabei derrubando todos, parece que um furacão tinha passado.
- Marcos, o que está acontecendo? – Disse Helena.
- Estou tentando por a coleira no Benji, mas você sabe como ele é, não gosta de ficar preso. – Disse Marcos.
- Eu vou ajudar. – Disse Helena.
A Helena mexeu com o meu ponto fraco e em quanto eu estava correndo para escapar do Marcos, ela veio com um pedaço de biscoito e isso pôs um fim na minha correria por que fiquei parado na frente dela, abanando o meu rabinho e ficando em pé pedindo para que jogue logo o biscoito e foi isso que aconteceu.
- Biscoito muito bom. – Disse Benji.
- Agora eu o peguei! – Disse Marcos.
- O que?! – Disse Benji.
- Agora não tem como ele escapar querida. – Disse Marcos.
- Você sabe que o Benji gosta de biscoito, pão e se ele ver vem logo pedir. – Disse Helena.
- Hahahaha esse cachorro é um viciado em biscoito, queria que ele fosse viciado na ração dele. – Disse Marcos.
- Armaram para mim! Socorro! – Disse Benji.
- Vamos Benji, vai ficar preso, de castigo. – Disse Marcos.
- Isso prende esse vira lata! – Disse Arnaldo o papagaio.
- Ele só brinca, não toma conta da casa! – Disse Brutus o galo.
- Tomo conta sim, pare de falar isso! – Disse Benji.
Fiquei preso na coleira ao lado da minha casinha na esperança de ser libertado um dia. Nem com a presença do Lucas, eu podia ser libertado mais essa é a realidade para o cão que faz bagunça. Fiquei o deitado e observando os meus donos arrumarem o quintal e eu fiquei de castigo por mais alguns dias, eles me soltavam de manhã um pouquinho e depois me prendiam.
- Pai, solta o Benji! – Disse Lucas.
- Não filho, ele vai fazer bagunça no quintal. – Disse Marcos.
Os outros bichos se divertiam enquanto estavam soltos e eu ficava do lado da minha casinha, deitadinho olhando os meus donos. O Lucas tinha uma bola maior, uma bola de futebol no qual ele ficava chutando na parede mas também ele jogava e olhava para mim parecendo que queria brincar comigo.
Mais tarde, o Lucas estava sentado em um canto no quintal e os seus pais estavam dentro de casa. O garoto estava triste por não poder jogar bola comigo mas logo depois o restante dos animas começaram a fazer um certo barulho e Lucas estava distraído com a sua bola.
- Crianças, o papai chegou! – Disse o Cobra.
Era uma cobra bem grande que chegou no quintal, veio no fazer uma visita surpresa.
- Quem vai nos defender? – Disse Maria.
- Acho que o ideal seria o Brutus. – Disse Marieta.
- Eu não vou lutar com está cobra! – Disse Brutus.
- Ai meu Deus, essa cobra veio comer os nossos ovos! – Disse Arnaldo.
- Crianças, eu estou muito cansado para ir na casinha de vocês pegar uns ovinhos. Por gentileza, joguem os ovos para o papai aqui. – Disse o Cobra.
- Brutus, faça alguma coisa! Você não disse que era um galo de briga? – Disse Maria.
- É que... Eu, galo de briga? – Disse Brutus.
- Hahahaha tenho que rir da piada desta galinha ai hahaha você disse que ele é um galo de briga? – Disse o Cobra.
O Lucas, nem percebeu a presença da cobra que estava bem perto dele.
- Galo, você vai querer brigar comigo? Venha aqui que vou quebrar os seus ossos! – Disse o Cobra.
- É melhor deixar para outro dia, você não acha? – Disse Brutus.
- Esse Brutus é um covarde, de Brutus ele não tem nada! – Disse Arnaldo.
- Olha vejam só, uma criança gente. Que menino bonitinho, que gracinha. – Disse o Cobra.
- Fique longe do Lucas, sua cobra ridícula! – Disse Benji.
- Um cachorrinho que está preso na sua casinha. O que vai fazer o pulguento? Acho que vou dar um abraço bem apertado nesta criança. – Disse o Cobra.
Foi neste instante que arrebentei a corrente com força e fui correndo em direção a cobra, travamos uma grande batalha.
- Pai! Pai! O Benji está brigando com aquela cobra! – Gritou Lucas.
- Ai meu Deus! Solta ela Benji! – Disse Marcos.
- Tira ele daí, Marcos! – Gritava Helena.
- Pronto! – Disse Marcos.
- Pai, o Benji está ferido? – Perguntou Lucas.
- Deixa eu ver, não ele não está filho. – Disse Marcos.
- Isso é para você aprender a não mexer mais com o Lucas e nem com os meus amigos! – Disse Benji.
- Ei, me solta! Me solta! Eu tenho os meus direitos! – Disse o Cobra.
- Agora vou soltar está cobra em um lugar bem longe daqui para que ela não volte nunca mais. – Disse Marcos.
- Mãe, o Benji pode brincar comigo? – Perguntou Lucas.
- Por ele ter te defendido ele pode ficar livre para brincar e correr. – Disse Helena.
- Quem diria que o cachorrinho na verdade é um cachorrão. – Disse Maria.
- Este sim é um cão de guarda, você não acha Brutus? – Disse Marieta.
- É... Este cachorro tem todo o meu respeito de agora em diante. – Disse Brutus.
- Nunca mais vou sacanear ele, vai que ele me ataca do jeito que fez com aquela cobra – Disse Arnaldo.
- Ah que isso! Vocês estão exagerando e se me derem licença vou brincar com o Lucas. – Disse Benji.
- Vai Benji, pega! – Disse Lucas.
- Lá vou eu, saíam da frente! – Disse Benji.
Um texto de Victor Nascimento.