lapsos I

LAPSOS I

Diana era uma dona de casa exemplar. Disso ninguém duvidava.

Tinha quatro filhos, cada um o mais treloso: Júnior, Mário, Roberto e Rui. Nunca vi uma pessoa tão assoberbada de tarefas, responsabilidades, cuidados. Levava e trazia as crianças da escola, ajudava nas tarefas escolares, fazia compras no supermercado, além de supervisionar ou executar o serviço doméstico. E quando os meninos estavam doentes? Desdobrava-se em zelos e mimos.

Super exigente, queria tudo muito limpo a tempo e à hora. Isso, somado às traquinagens dos filhos, faziam com que as empregadas se demitissem com freqüência. Mais um transtorno que contribuia para dar um nó na cabeça. Talvez porisso se tornara tão esquecida; desmemoriada, como dizia o marido.

Dia de supermercado. Fazia cuidadosamente a lista de compras. Quando chegava lá, percebia que a tinha esquecido. Não é possível, eu jurava que tinha colocado na bolsa! Justo nesse dia que precisou levar os quatro anjinhos.

Começou a confusão. Júnior, o mais velho, brigando com os outros porque eles, daquele tamanho, queriam subir no carrinho junto com Rui, o mais novo. Este, choramingava o tempo todo: ora pelo calor, ora porque queria chocolate; vai era de sono mesmo, ela pensou. Mãe, compra yogurt. Aí a luta era pelo sabor. E os biscoitos recheados, mãe? meu pai disse que podia, não estou mais com dor de barriga.

Finalmente, chegaram ao caixa. Diana, já exausta, pagou as mercadorias e, então, se dirigiram ao estacionamento. Primeiro, ela tentou abrir um carro parecido com o seu: mesma marca, cor e tamanho; nem prestou atenção à placa. Júnior alertou para o engano, e aí acharam o deles.

Arrumou as sacolas e deu partida no carro. Andou uns dois quarteirões, sempre ouvindo as querelas dos meninos, um Deus nos acuda, quando sentiu falta de algo. Olhou para trás e contou as cabeças. Bem que ela pressentiu; estava faltando uma cabecinha: o mais novo. Parou o carro imediatamente, contornou e voltou ao supermercado.

A criança já estava, aos prantos, nos braços de uma mulher. Aflita, correu para pegar o filho, sorrindo e chorando, o abraçou fortemente e até se esqueceu de agradecer aquela senhora tão gentil. Precipitou-se para a saída e quase deixou os outros para trás.

A partir daquele dia, decidiu deixar os filhos em casa quando saía para as compras. Em última análise, levaria um dos mais velhos. Sábia decisão. Era bem mais seguro.

norma brito
Enviado por norma brito em 07/03/2006
Código do texto: T120172