Entre o Céu e o Mar


Aproximei-me. Fiz uma agrado na inseperável "Benzinho", e deixei meus dedos roçarem nos cabelos do lindo pescoço, que encimava o ombro, em que estava aquela avezinha. Percebi que as penugens da pequena ave eriçaram-se e os pelinhos do pescoço de Rita também...Puro arrepio...!

Rita me olhou com aquele jeito indeciso que parecia me dizer: "Não faz isso comigo! Faz bem muito!... Não! Não pare!" Repeti o afago, dessa vez, pegando e afagando os belos e longos fios negros de cabelo. Benzinho, parecendo entender o que estava ocorrendo, girou irrequieta naquele ombro de pele alva e macia, protegido das pequenas garras de Benzinho, por uma pequena capa azul.

Passei a me lembrar das últimas confidências que Rita me fez. Falou-me do seu sofrimento com o fim do casamento, do estranho medo que passara a sentir, quando se afastava de casa, dos parentes próximos, ou seja, medo de perder mais, de sofrer mais.

Percebi que ela precisava, naquele momento, de um ombro amigo, de um confidente, e que se encontrava muito insegura para quaisquer relacionamento diferente de uma amizade sincera. Como estávamos veraneando num Hotel da belíssima praia de Muro Alto, convidei Rita para caminharmos na alva areia da praia, aproveitando que o por-do-sol dava cores belíssimas às nuvens, com formas que lembravam afrescos de Michelangelo.

Ela adorou a idéia e, surpreendentemente, preferiu deixar Benzinho no hotel. Senti uma imensa alegria ao perceber a felicidade estampada no largo sorriso daquele lindo e meigo rosto. Um sorriso de menina carente que ganhou um doce, carinhosamente colocado em suas mãos.

Caminhamos, por um longo tempo, em silêncio, sentindo e ouvindo o ruído da areia esmagando sob nossos pés, e eu tinha a nítida sensação de que as fortes batidas do meu coração, feliz, estavam sendo ouvidas por Rita, e que o discreto sorriso que ela mantinha nos lábios era o sinal de que estava gostando muito daquele momento, também.

Cansados de caminhar e com o céu escuro tomado pela noite, sentamos na areia batida pelas águas. Permanecemos mais um bom tempo em silêncio, contemplando a lua cheia que parecia verter suas lágrimas prateadas no mar. Rita deitou a cabeça no meu ombro e começou a falar, bem baixinho, da sua vida, sem conseguir conter a emoção por se sentir segura de me confiar tudo o que lhe afligia há tanto tempo. E lá ficamos por um tempo que, para nós, tinha a mesma dimensão do espaço entre o céu e o mar, os mesmos segredos, os mesmos encantos...