O menino da janela de doces

Pois ele ia lá todo dia... sim, não importando o fator clima ou condições do tempo. Aliás, tempo era o que ele mais tinha pois era só um menino. Todo dia estava ele lá empoleirado na janela da confeitaria. O vidro engordurado da testa, da testa escorrendo suor, a baba escorrendo no vidro.

Era, em sua profanada inocência, psicologicamente diabético... esteticamente gordo. Nunca se soube o por que de tal menino nunca ter subido o único degrau que o conduziria ao interior da loja. Nunca se soube nem nunca ousou-se perguntar-lhe o por que disso ou de tudo enfim pois o menino, a cada pergunta, sugeria: estou vivendo poesias.

Um dia o velho-menino-já velho, morreu de anorexia.

No epitáfio dizia:

“Aqui jazz um menino-poeta que não sabia ler e morreu com a mão encharcada de sonhos”

Em tempo:

Na luminária dizia: “Produtos Dietéticos”

Ana Átman
Enviado por Ana Átman em 21/11/2008
Código do texto: T1295940
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