Diálogos Minimalistas #1

A PROMESSA

- compreende como isso me é importante?

- não me tomes por um insensível…

- vê aquela janela? Aquela, no andar 1, 2, 3, 4,…

- quer um cigarro?

- parei.

(tic. tic. tic.)

- tem fogo?

- não lhe disse que parei?

- que tem a janela?

- qual?

- desgraça de isqueiro que não funciona!

(tic. tic. tic. tic. tic. tic.)

- parei.

- já me disse. então, será hoje?

- ainda não sei. Afinal, quem sabe?

- é. Quem sabe? vê, uma aranha.

- tão pequenina, com patinhas tão fininhas…

- deixe-a. não deveria ter mostrado.

- então, que se passa?

(tic. tic. tic. tic.)

- o isqueiro… pior que ficar sem cigarros é tê-los, mas sem haver fogo.

- compreendo.

- vê aquela janela? Aquela, no andar 1, 2, 3,…

- qual? Me mostre! Não vejo…

- calma, estou contando…

- ah, sim.

- 1, 2, 3, 4...

- que houve?

- hein?

- que houve?

- perdi a conta.

- comece-a outra vez.

- decerto. Mas, só um instante, sim?

- claro.

(tic. tic. tic. tic. tic. tic. tic. tic. tic.)

- não há mais líquido.

- creio que seja a pedra.

- sempre lhe ocorre?

- o quê?

- Vê!!! Olha lá!

- o quê, homem?

- a menina! A menina!

- sim. Sim! Agora vejo!

- vamos observar, sim?

(tic. tic. tic.)

- sim, sim.

- percebes?

- hum?

- compreende como isso me é importante?

- não me tomes por um insensível...

(tic. tic. tic. tic.)

Diogo Nunes
Enviado por Diogo Nunes em 27/11/2008
Reeditado em 29/11/2008
Código do texto: T1306192
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