O cúmulo

Nunca dissera que o amava. Também não seria verdade se o dissesse. Acomodara-se a ele, ao tipo de vida que levavam transferidos de cidade em cidade, quando assim o trabalho dele exigia. Realista demais, não lembrava se alguma vez alimentara qualquer tipo de sonho romântico.

Dizia de si para si que aquele casamento também era um emprego, pois de todo modo teria que se sustentar, ter um lugar para morar, comer, se vestir. Em troca, cuidava da casa, das roupas, fazia comida, limpava e agradecia aos céus por não ter tido filhos, pois considerava a pior das tarefas quando, vez ou outra, tinha de abrir as pernas para ele.

Nunca era consultada para nada, também não dava palpites, porém quando ele apareceu em casa com uma escritura de compra de um jazigo, naquela cidade de calor infernal, fez a mala e se foi. Quem aguentaria uma eternidade tão tediosa?

*Da série : Histórias de vida de mulheres comum