Chumbo trocado não dói

Desce a ladeira, tonto feito uma cabaça. Quem dera desta vez rachasse a cabeça numa pedra; pelo menos assim tomava um pouco de vergonha na cara. Início de mês: aluguel, luz, água e o supermercado; as latas estão vazias.

- Que papelão Silveira! Gasta todo o dinheiro com essa merda de bebida e suas putas. Sou mesmo uma idiota de ainda estar com você.

- Dinheiro a gente ganha outro, mulher! Não esquenta...

A mulher ainda meia-sola pensou bastante e no outro dia chegou ao bar antes de Silveira. Vestiu a melhor roupa; pernas à mostra, calcinha de visitas ao ginecologista, boca besuntada de batom vermelho. Estava no ponto.

- Uma cerveja, por favor! Solicita ao garçom, sentindo-se uma princesa.

O garçom leva-lhe a cerveja e, ela preparada, ao primeiro: abre-lhe as pernas, deixando-o com os olhos a saltar das órbitas. Ele não resiste e se aproxima, canta e sai. No motel ela vai logo dando o preço – por sinal um valor considerável. O homem pensa, consulta à carteira e já em estado avançado entrega-lhe o dinheiro.

Ela volta para casa. Toma um banho, troca-se e volta a ser a mulher trapinho do Silveira, o qual não tardaria a chegar. Novamente ladeira, tonto, Silveira, aluguel, luz, água e o supermercado – vida maldita. Ela o aguarda à porta:

- Cachorro, sem vergonha, vagabundo! Continua gastando todo o dinheiro com a bebida e as suas putas. E eu, obviamente, sem ter o que comer...

- Apenas troquei de puta! Retrucou.