Fotografia

Ela: biquíni bicolor deitada nas pedras, olhos fechados. Ele: escrivaninha. Houvera lido um trecho de um livro escrito por uma escritora espanhola. Um livro sobre paixões na História. Um livro cheio de Freud. Portanto, cheio de verdades. O livro leva-nos a pensar que qualquer alteração nos batimentos cardíacos de uma pessoa (apaixonada) pode desencadear uma guerra ou qualquer tipo de evento catastrófico de dimensões incomensuráveis, num tipo de efeito-borboleta. Autora pessimista sobre o assunto e ele não gostara muito daquela visão desencantada e anti-borboleta.

Ela, antes lagarta feliz e desligada, agora é uma metamorfose em andamento sobre a pedra. Ela: borboleta. O coração dele: borboleta. A roleta russa de suas vidas confusas de chão de sabão e fogo, de divã com pregos: ampulhetas. Ela deitada nas pedras com águas e musgos parece uma índia romântica, uma pintura. A imagem do seu corpo grande deitado é algo que massageia os neurônios dele. Arte, cinema, música, dança, sexo, ecologia, fome... é tudo uma coisa só. E assim ele a vê: arte, cinema, música, dança, sexo, ecologia, fome. Ele é o progresso circular dos heróis: de Gilgamesh a Che Guevara. Ele é a soma das massas de anti-heróis, feito Freud. Ele é culpa. Às vezes ele é paixão – a paixão, com sua peculiar ausência de culpa. Às vezes ele é amor. E amor é a pura culpa. Às vezes ele é árvore. Às vezes lobo. Às vezes leão. Às vezes vampiro. Às vezes pedra. Ela? Ela está deitada em cima da pedra. Suas vidas são águas que saem das pedras.

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