Lagarta Sofia

Sofia esforçou-se para se libertar daquele ambiente apertado. Sentia-se sufocada naquele casulo claustrofóbico. Remexeu o corpo, os membros superiores, queria descobrir-se depois de tanto tempo.

O escuro a afligia, estava cansada dele, queria escapar.

Forçou as paredes em torno de si até senti-las rasgando.

O calor do sol penetrou e ela desfrutou-o pela primeira vez depois de tanto tempo.

Espremeu-se pelo espaço aberto, movendo-se malemolente, experimentando suas novas formas.

Do lado de fora suas cores reluziram ao sol, brilhando intensos o amarelo, o alaranjado e o vermelho.

Sou linda, pensou.

Abriu as asas lentamente, uma, duas, três vezes, até sentir que eram verdadeiras.

Tateou com as patas diminutas o invólucro que habitou durante a transformação, desapegando-se das lembranças e entregando-se às novas experiências.

Lançou-se no primeiro vôo, deixando-se conduzir pela brisa, sentindo cada nova sensação, como se tivesse nascido naquele exato momento.

Viajou por alguns metros, subindo e descendo, pousando quando necessário.

Não sentiu falta do tempo em que seu corpo feio movia-se lento e pegajoso, mas soube que fora aquele tempo que dera a ela a oportunidade de estar ali, desfrutando das benesses de voar e ser linda, de refletir a luz do sol, de trazer alegria a quem tivesse a chance de vê-la passar.

Descobriu que o medo da mudança é aprisionador. Decidiu, então, não se deixar mutilar por ele e voou livre para o novo, o desconhecido.

Elayne Sampaio
Enviado por Elayne Sampaio em 08/03/2011
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