Lagarta Sofia
Sofia esforçou-se para se libertar daquele ambiente apertado. Sentia-se sufocada naquele casulo claustrofóbico. Remexeu o corpo, os membros superiores, queria descobrir-se depois de tanto tempo.
O escuro a afligia, estava cansada dele, queria escapar.
Forçou as paredes em torno de si até senti-las rasgando.
O calor do sol penetrou e ela desfrutou-o pela primeira vez depois de tanto tempo.
Espremeu-se pelo espaço aberto, movendo-se malemolente, experimentando suas novas formas.
Do lado de fora suas cores reluziram ao sol, brilhando intensos o amarelo, o alaranjado e o vermelho.
Sou linda, pensou.
Abriu as asas lentamente, uma, duas, três vezes, até sentir que eram verdadeiras.
Tateou com as patas diminutas o invólucro que habitou durante a transformação, desapegando-se das lembranças e entregando-se às novas experiências.
Lançou-se no primeiro vôo, deixando-se conduzir pela brisa, sentindo cada nova sensação, como se tivesse nascido naquele exato momento.
Viajou por alguns metros, subindo e descendo, pousando quando necessário.
Não sentiu falta do tempo em que seu corpo feio movia-se lento e pegajoso, mas soube que fora aquele tempo que dera a ela a oportunidade de estar ali, desfrutando das benesses de voar e ser linda, de refletir a luz do sol, de trazer alegria a quem tivesse a chance de vê-la passar.
Descobriu que o medo da mudança é aprisionador. Decidiu, então, não se deixar mutilar por ele e voou livre para o novo, o desconhecido.