uma quintasexta

Com reservas de zinco se esgotando do meu corpo encaro a chuva, redescubro o submundo onde vivia. Me desencasulo com a última de minhas notas de cinquenta reais, a guardava dobrada para qualquer eventualidade. Seu número 5327, descobri dando uma última olhada de posse sobre sua textura virgem, que logo adiante poderia ser degustada nas mãos de um bicheiro, e futuramente se tornar a melhor coincidência produzida pelos últimos quatro números de sua série. Mas pensando em ter que encarar aqueles posters de galãs de tv colados na parede da banca, passei pela tal que nem vi, se dona Virgínia se encontrava ou não, e segui o caminho na chuva, direcionado a um de meus botecos preferidos numa quinta-feira. Decido andar por uma calçada que antes talvez não, de onde obtive um ângulo diferente da rua, será que a rua também me olhou diferente? Acho que não. Mas prossegui, em côncavas depressões submersas onde tateava chão, me tornando cada vez menos apresentável para qualquer mulher interessante. O velho tênis me deixou envergonhado, ao ponto de querer jogá-lo fora após esta noite, vontade que ainda não passou pela simples pobre consciência que ainda pode ser útil, mesmo assim caminhei, caminhei, cheguei, bebi, bebi, paguei e saí, não encontrando o que queria, mesmo sem saber o que queria, ainda caminhei de volta, em passos ainda menos seguros, de cara cheia e um universo menos vazio.