Sobre as sardas de Luana

#1 Alguns dizem que Luana é uma guria que sob seus olhos enormes existe um labirinto no qual quem ousa arriscar a pensar na possibilidade de tentar entrar nele será sujeito a se apaixonar por tudo o que encontrará lá dentro ou, como o de costume, a ser fadado pelo sofrimento até que os seus próprios olhos se fechem para sempre, perdidos. Outros, por suas vezes, ficam calados.

#2 O moletom das mangas surradas pelo tempo e pelas noites perdidas nas ruas da grande cidade identifica Luana sendo quem ela realmente é através dos olhares alheios: uma guria completamente entregue à felicidade que a vida e que os seus amigos lhe proporcionam, e composta, além de múltiplas sensações prazerosas, também por inseguranças desenfreadas e por medos que lhe sufocam o peito e impedem o seu ar de se esvair para que se sinta livre, como ela normalmente se encontra.

#3 O Sol lhe socou a bochecha esquerda de uma forma tão dolorida que inconscientemente Luana abriu os olhos e olhou bem fundo nos do que lhe acordara. Aquela bola amarela gigante suspensa no céu claro ora a fazia se sentir calma consigo e com o ambiente em sua volta, em razão dos seus raios esquentarem as suas desgraças e o seu coração gelado, ora a tornava extremamente insuportável por lhe convencer ser apenas mais uma dentre tantas as cabeças que ela - a bola - insiste em queimar.

Uma memória vaga de algumas horas atrás a impulsionou a pisar no chão frio do seu quarto e ir até à sacada para olhar bem mais de perto, face a face, tudo o que lhe garante que mais um dia passou e que outro está apenas começando, como hoje, como agora, como o próprio Sol refletindo sob o seu brilho a felicidade no rosto da menina cuja bochecha dá sinais de inchaço.

NietzscheCywisnki
Enviado por NietzscheCywisnki em 14/08/2011
Reeditado em 15/08/2011
Código do texto: T3159473