Epílogo
Buscara por muitos anos. Em seus versos, sonhos orações...
Porém agora, separava-se dela, mas, estava como que preso ao chão. Não conseguia sequer um pequeno movimento rumo à porta de saída.
Aqueles minutos pareciam uma eternidade e cheios de embaraços.
Um filme passava, projetado na parede da memória sua. Ela estava estática como uma estátua. Sentada, cobria o pálido rosto com as mãos espalmadas. Já haviam esgotado todas as possibilidades, e ele sempre intransigente. O aroma costumeiro de incenso ainda impregnava a saleta. Num canto, um pequeno vaso ainda acudia algumas flores, flores que ela mesma colocara.
Ah! o primeiro olhar, o primeiro encontro, o primeiro beijo...Lá nas entranhas do seu coração, ele sabia que ainda a amava, e sabia também, por ela amado. (Então, por que o desenlace, por quê?) Todavia, tudo parecia consumado. Ele em pé de costas para ela era só caminhar rumo à porta, abri-la e voar livremente. Eram somente quatro ou cinco passos. Alcançaria a gasta maçaneta e ouviria pela última vez, o suave ranger da porta. O mesmo rangido que muitas vezes o recebera, antes que os beijos de sua então amada, lhe assaltassem carregados de muita ternura.
O silencio era arrebatador, tanto, que era possível ouvir os murmúrios entranháveis dos dois. Ali estava a mulher que tanto buscara e que infinitamente amara, santificando-a no altar do seu coração. (Então, por que espicaçar assim o amor, por quê?)
Um cristal relutante por fim desmoronou-se em seu rosto. A sala parecia rodopiar, seu coração coiceava o próprio peito. Um segundo cristal rolou, depois mais outro.....
Deixou cair a valise e subitamente virou-se balbuciando o nome dela. .— Estela, Estela! Mas, para a sua surpresa e espanto, ela não estava mais ali. Enquanto ele com jeito moai fitava o infinito, ela saíra sorrateiramente pelos fundos e ganhara a avenida correndo tresloucadamente rumo ao....Chá!
José Alberto Lopes®
Jan. 06 de 2012