Expectador da Vida


Achava-se o máximo em tudo.

Não se imaginava na platéia - lugar dos comuns.
Precisava do palco, das luzes, dos aplausos.

Fazia-se de difícil para qualquer aproximação - se bastava.

Astro intocável,  centro das atenções.

Passava horas e horas  conferindo as somas bancárias.

De tão importante que se sentia não percebeu a falência gradativa de sua "competência".

Primeiro perdeu a família, depois os amigos.

Parou décadas no tempo, profissionalmente lhe bastou o único diploma.

Achava a maior bobagem a reciclagem profissional.

A superioridade e o narcisismo impediu que enxergasse a exclusão gradativa do mercado de trabalho.

Perdeu  emprego, convênio médico,  cartões de crédito.

Cairam as rotas cortinas do palco,  cobriram  a esperança.

As "reservas de superioridade" em nada lhe socorreram.

No abrigo onde vive depende dos semelhantes - dos mesmos que pisou para suprir as  necessidades básicas como higiene e alimentação.

Com o fio de voz que lhe resta quase que acenando para a reta final, insiste em relatar  o passado de glórias que jamais existiu.

Mero expectador do existir, nada mais.

 

(Ana Stoppa)




Ana Stoppa
Enviado por Ana Stoppa em 24/03/2012
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