Aniversário de casamento

Amanheceu inspirada para cozinhar... Pensou no prato que ele mais gostava e decidiu surpreendê-lo. Vestiu-se apressada, dispensou a maquiagem e correu para o mercado para comprar o filé e acompanhamentos necessários. Passou na casa de vinhos e caprichou na escolha para a noite que ela queria que fosse especial. Afinal, quinze anos de casados mereciam uma comemoração com requintes de gala, jantar à luz de velas, regado a vinho e muito amor. Começou a fantasiar o final de noite e resolveu passar na loja de lingerie. Queria surpreendê-lo em tudo. Apostou no branco, uma lingerie com jeito debutante de ser, afinal, eram quinze anos... Em casa, não viu os minutos passando enquanto preparava os pratos, enfeitava a mesa e se cuidava entre um intervalo e outro entre as panelas e o forno. Já era quase noite quando tudo ficou pronto. Encheu a banheira e imergiu num delicioso banho relaxante. Massageou o corpo com o óleo que ele adorava e se produziu para a noite que queria tão especial. A lingerie ficou escondida no armário para a surpresa no final de noite. Oito horas... o coração ficou apreensivo esperando o barulho do carro que não chegava. E deu nove, dez, onze horas e nada... O telefone continuava incomunicável, desligado ou fora de área. Ele se atrasava muitas vezes, mas não queria que isso acontecesse logo naquela noite. À meia noite, chegou à conclusão que ele havia se esquecido da data. Recostou-se no sofá e adormeceu com o cansaço. Acordou com o interfone à luz do outro dia, e recebeu as flores das mãos do porteiro. No cartão, apenas um pedido de desculpas pela falta de coragem de não dizer adeus pessoalmente. E a confissão de que os quinze anos eram o limite para um passo que ele considerava o seu maior erro. Estava indo embora com alguém que ele amava de verdade em busca da felicidade que não tinha encontrado com ela. Amassou o cartão e colocou as flores com suavidade no lixo. Buscou o saca rolhas, abriu o vinho e bebeu da taça amarga, olhando em silêncio a bebida rubra que lembrava sangue... Foi então que algo que algo se quebrou na sua mente. Subiu as escadas para o quarto lentamente, colocou a lingerie branca, ajeitou os cabelos e espalhou perfume pelo pescoço e pelas mãos suavemente. Olhou-se no espelho com a expressão vazia e assim ficou por instantes... Abriu lentamente a gaveta do criado e estendeu a mão em direção ao revólver dele. Não havia tremor em suas mãos quando abraçou o travesseiro e apertou a arma contra o peito.

maria do rosario bessas
Enviado por maria do rosario bessas em 15/06/2012
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