O meu nome é Elói

21/11/11

Sabe quando as coisas começam a lhe apertar, te espremer contra a sua própria capacidade de suportar a força do mundo lá fora e das pessoas que lhe compõem, como se, através de uma brecha entre o seu corpo e todo este peso em cima dele, você ainda pudesse enxergar uma linha de esperança, longe do alcance de suas mãos, diga-se de passagem, mas ainda sim algo que lhe dê motivos para acreditar que nem tudo está perdido? Sim? Pois então, lhes apresento com um imenso prazer - ironias estão valendo aqui, não é? - o cara que assiste a tudo isso calado, sem sequer fazer um singelo movimento que garantiria ajuda ao próximo que sofre, pesado, de dor: o meu pai.

Procuro, incessantemente, crer que a essência do meu velho não seja, milímetro por milímetro, semelhante à imagem que durante os anos ele me transparece ser, desde que a tragédia que me fez o que sou agora aconteceu. No entanto, de uns dois anos pra cá, descobri uma maneira de me esvair do clima pesado que paira sobre o ambiente do nosso apartamento: sempre que possível, de noite, eu fujo para os apês dos amigos e só retorno ao meu casulo revestido de tijolinhos - agradeço eternamente ao meu amigo arquiteto J. que trabalhou na decoração do meu quarto - no dia seguinte, quando ele - meu pai - acorda de cara amassada pedindo, com aquela educação que só a sua própria pessoa sabe fingir ter, por café quente e jornal.

Porém, contraditoriamente a todo o meu sentimento por este ser humano que me garante comida e uma farta pensão, no fundo do meu âmago eu creio em um amor de mim dedicado, em silêncio, a ele, de uma forma que eu jamais saberei explicar como se dá tal dedicação, levando em consideração que a sua participação no que mudou as nossas vidas radicalmente, em 94, ano de copa do mundo, teve uma grande importância para que tudo decorresse como decorreu, até agora.

Enfim… Falei demais do que me aborrece para o primeiro post e esqueci de me apresentar, fui logo tratando de narrar a tensão que circunda entre eu e o meu pai e deixei de lhes dizer que o meu nome é Elói, e, por algum motivo transcendental, que eu ainda não descobri qual é, subitamente eu resolvi criar este blog para escarrar as minhas tensões, as minhas efusividades, os restos que me sobram após excessos sexuais - desconfio de uma ninfomania aí… - e também dos meus momentos solitários, propositais, que adoro incluir em tardes nubladas, dentro dos longos túneis espalhados pela cidade afora, enquanto eu ando, a pé, do seu começo ao final - não façam isso “em casa”, vocês podem morrer atropelados -, apenas para reorganizar a cabeça que às vezes promete tornar-se um emaranhado de fogos de artifícios e pintar o céu de perguntas não respondidas, como as de um cara perdido na sua própria confusão entre o mundo e o seu pedaço dele.

Elói

27/11/11

Meu pau escuro mesclado à palidez de G. transparecia a minha essência sendo absorvida lentamente pelas entranhas dela. De acordo com que o tempo se arrastava intensamente sobre nós e também sobre o relógio de ponteiro acima das nossas cabeças - sim, sou bastante observador e percebo detalhes em minha volta às vezes até desnecessários de serem percebidos -, notei que ela balbuciava alguns barulhos com a garganta extremamente diferentes de todos os sons que eu conheço e, de uma maneira bastante grotesca, a guria, além dos seus estranhos gemidos, me xingava de “filha da puta” como se isso fosse me excitar. No entanto, por algum motivo completamente tão non-sense quanto ter a mãe xingada enquanto você fode uma menina que acabara de conhecer em um bistrô qualquer, eu, de fato, tive a minha excitação crescendo a cada palavrão proferido por aquela boca vermelha que, até este atual instante, me deixa saudade, por mais que normalmente no dia seguinte após eu me relacionar sexualmente com certas mulheres eu não sinta tanta falta assim da presença delas, considerando que conheci G. há dois dias. Logo, para muitos, talvez isso me coloque no posto de insensível, o que não é verdade, já que é necessário sensibilidade forte para ter a capacidade de não guardar nostalgias que lhe fazem querer o que você não pode ter de volta.

Depois de nos entregarmos aos nossos prazeres que nos levaram um ao outro, sem sequer nos conhecermos profundamente, a deixei em sua casa e quis espairecer a mente e relembrar cada detalhe daquela noite que eu tinha planejado para somente jantar fora com a minha própria companhia, até que aquela guria branquela, sentada em uma mesa de frente à minha e também acompanhada só por ela mesma e mais ninguém, cujo nome eu descobri após poucas conversas, começou a me olhar nos olhos de um jeito que me deixou constrangido por uns segundos, mas que de tanta insistência, me convenceu de que eu não tinha outra alternativa a não ser me render à sua presença e lhe oferecer algo para beber. Como podem notar, ela aceitou não só um destilado como também o meu assunto, a boca que lhe anuncia e o resto que me compõe.

Ao finalmente levar a guria em questão em sua casa e despedir da mesma com um, por incrível que pareça, um beijo de língua tímido, fiz com que o meu Azira me transportasse para alguns locais caóticos e urbanos, e então desci do carro quando cheguei onde de fato eu queria, e lá de cima, em um encostamento distante de mim e do que me atinge, pude notar a cidade ao longe e perceber que as luzes dos postes, dos carros, que eram poucos naquele horário, e das casas e dos apartamentos, refletiam no quão certas pessoas mantinham as suas vidas acesas, mesmo quando tudo ao redor tivesse escurecido e lhes prometido sono, após uma rotina árdua que nos fode de dia e, consequentemente, nos deixa prostrados à nossa própria existência cansada, em cima de uma cama.

Tentei dar uma organizada na desordem mental que se debatia contra as minhas esperanças para o futuro e contra as mudanças que eu prometi que fariam parte da minha então “nova” vida, futuramente, e, convicto de que todas as noites em que eu me encontrava fora do eixo do meu senso de direção eu sempre olhava as pouquíssimas estrelas que coloriam, ofuscas, o negro do céu e imaginava se todas as promessas que executamos seriam senão um modo de nos mantermos vivos, em pé, diante ao ser humano e aos acontecimentos acarretados por ele, que tenta arduamente nos derrubar, de quatro, em um chão sujo de filha da putagens, como o do meu apartamento, onde o meu pai me esperava, naquela madrugada quase manhã, sentado no sofá da sala, para ter uma conversa de homem para um menino imaturo e covarde. E tivemos, e nos agredimos verbalmente e lhe lembrei do quão infeliz ele fora por ter deixado a minha mãe morrer e fodido para sempre, com isso, o seu filho de frente a ele, naquele instante, que o olhava com olhos cansados, desejando see jogar em sua cama e se enterrar nela até o final da semana que vem. E neste caso, como todavia, o homem da conversa a quem o meu pai se referia era eu, enquanto ele era apenas só mais um garotinho que acabara de perceber a merda que fez com a janela do vizinho, isto é, com o meu coração cuja fragilidade alcançara o ponto máximo e, portanto, sem excitar, se despedaçou.

Elói

01/12/11

Eu sou só um homem em formação que se esconde por trás da máscara de ouro que o meu pai comprara quando eu ainda era um garoto perdido, sem mãe, prestes a enfrentar a dureza do concreto que me esperava ao longo dos anos para um encontro frio e rígido, por onde eu tinha a oportunidade de ver, através de um buraco proveniente de balas de uma metralhadora alemã, ou algo semelhante, nesta imensa parede à minha frente agora, o lance pelo qual me despertou curiosidade e ganância: os monumentos erguidos sobre o suor humano, onde, no topo de todos eles havia os dizeres que caracterizavam totalmente a minha personalidade em poucas letras: o meu nome.

Elói

OBS: Estes textos pertencem a série "Elói", personagem que eu simplesmente esqueci de sua existência e o abandonei diante aos seus conflitos familiares que já estavam me enchendo o saco.

NietzscheCywisnki
Enviado por NietzscheCywisnki em 06/09/2012
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