O laço virgem

A desordem do quarto de Cecília evidencia detalhadamente a forma como o seu espírito encontra-se desajeitado e recluso dentro do seu corpo miúdo, no qual André mergulha os seus braços para um revestimento cálido que a proteja dos seus temores. Desde os primeiros minutos em que o garoto aparecera diante à vida da menina, o mesmo havia a transformado de uma tragédia que insistia perturbadoramente degradar os momentos deleitosos que poderiam lhe escorrer aos seus ânimos para algo que tornou Cecília parte de sentimentos felizes a respeito de si própria, sensações estas esquecidas por ela durante todo o tempo em que o seu então mais novo namorado não encontrava-se presente ao seu lado, de mãos entrelaçadas às suas. Porém hoje, mais do que jamais lhes aconteceram um ao outro, unidos em um único suspiro ansioso pelas prováveis novidades que podem os acatar sutilmente, ambos entregam as suas almas ao calor do cômodo pequeno sustentando a queda tão desejada pela qual os dois esperavam impacientemente, e as entretecem no fio em que eles teceram sobre os seus desejos perante à necessidade de tornarem-se um corpo só, de modo que acompanhando a escuridão que resplandece sobre o Sol lá fora, Cecília e o seu amante amam desde os seus pequenos gestos, contradizendo os seus movimentos bruscos e constantes por cima dos lençóis amassados, aos gemidos deitados por suas bocas sedentas, que os confundem em meio a peles e salivas. E consequente a tudo isto narrado, por um fragmento de instante quase que perdido, André e sua pequena dão-se conta, através de um súbito arrepio, de que o tempo em que propuseram-se esquecer das desgraças e dos lamentos que a vida às vezes lhes proporciona, fora edificado e cravado neste curto espaço tomado pela bagunça, concedendo ao casal a conveniência de tornar fato a jovem vontade de em um pulo só caírem sobre os delírios desatinados que inevitavelmente lhes seriam confiados, os fazendo, por fim aos prazeres instantâneos que cessam após o gozo, uma saudosa lembrança que percorrerá aos seus sentimentos mais íntimos para todo o sempre enquanto vivos.

NietzscheCywisnki
Enviado por NietzscheCywisnki em 06/09/2012
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