De Lua.
Lia nasceu entre os bons e entre estes cresceu. O mal - se existia - estava fora dos seus portões e a menina Lia temia qualquer coisa que pudesse afetar seu lar. Sempre foi dada a fantasiar e algumas fantasias eram perfeitos pesadelos, mas também cultivava sonhos bons. Foi uma ma menina boa, meiga, frágil e tímida.
Lia desabrochou na adolescência quando descobriu as delícias das relações afetivas e as perspectivas de liberdade. Muito cedo, porém, teve que optar entre o amor e a liberdade, aí cumpriu seu papel como mandava o figurino.
Lia era então um pássaro numa gaiola até que a paixão a chamou insistentemente e ela não conseguiu resistir ao apelo. Foi quando Lia perdeu o juízo: ela não dormia, não comia, não se concentrava em nada. Vivia de desejo e de culpa. Logo ela que era tida como uma moça tão boa!
Mas Lia não abriu mão do seu momento de paixão proibida e foi. Deu um passo para fora dos seus muros e arriscou. Céu e inferno; ela conheceu os dois em pouco tempo. O sonho não era tão dourado assim como ela sonhara ser e nunca mais Lia foi a mesma.
Mudou de par, mudou de casa, mudou de papel. Virou mulher de verdade e sofreu, mas reconhece que foi a menina tímida e rebelde que a fez a mudar.
Lia vem mudando sempre e sou testemunha dessa evolução. Ela não é muito convencional, ainda assim maioria das pessoas que a conhece poderia se assustar com seus arroubos ou transgressões, pois atrás de uma aparente racionalidade mora uma mulher guiada pelo amor e pelas sensações que este proporciona.
Ela tem lá umas esquisitices, mas nada que a comprometa. Na lua cheia, por exemplo, fica mais sensível ainda e se dana a chorar ou a escrever.
Às vezes põe no papel textos interessantes, em outras escreve um monte de bobagem. Mas tudo tem uma explicação, mesmo que só ela conheça a razão.
Nem tudo, aliás, pois até hoje ninguém descobriu as razões de mais uma mania doida dessa mulher: gostar de amores complicados. Ela tem um dom para viver relações impossíveis e o pior é que sofre feito uma Madalena.
Lia vive tentando se equilibrar entre a emoção e a razão. Em alguns momentos tudo se confunde e ela não sabe mais o que é realidade e o que é ficção. Mas consegue seguir no seu ritmo e tem seus momentos de profunda felicidade em meio ao emaranhado de emoções.
Evelyne Furtado, em 31 de março de 2007.