AINDA SE PODE SONHAR

A luz se apaga aos poucos, as pálpebras suavemente deslizam por sobre as pupilas que buscam relaxar. Primeiro, a negritude, as trevas, que logo vão dando espaços a imagens levemente turvas até se tornarem mais nítidas, mais reais...

A timidez dá lugar a auto-estima, valorizada por uma vida estável. As mãos concentradas ao volante de uma bela “pick – up”. A esposa sorri, contente, sem preocupações do dia a dia, no banco de traz o jovem bebê repete suas peraltices, trazendo graça ao veículo.

Os portões da garagem se abrem, a bela casa lhes espera, móveis novos, um sofá macio para poder olhar tranqüilamente seu jogo de futebol em uma bela tevê de quarenta e duas polegadas. A churrasqueira a espera do carvão para assar um pedaço de carne nobre em um belo domingo ensolarado.

Uma vida sem transtornos, sem preocupações, o que mais poderia querer. Sabia que o extrato bancário lhe era positivo – e bem positivo – que poderia curtir mais sua família seus amigos, bem diferente, do que também conhecia, a vida real.

Simplesmente podia curtir a vida. As vendas de suas obras de arte iam bem, em um leilão vendera um quadro por um quarto de milhão, o que lhe permitia as roupas novas, o carro, a casa, e inclusive seu belo “ateliê”.

E tudo isto, em não mais que trinta minutos, até que a visão voltasse a ser ungida pelas trevas, pela negritude de um sono profundo, do qual só se reergueria pela manhã, para se encontrar novamente com uma realidade um pouco diferente da de seus sonhos...

Douglas Eralldo
Enviado por Douglas Eralldo em 07/05/2007
Código do texto: T477801
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