A Lâmpada mágica

F., ao passar distraído defronte a porta semiaberta do depósito, sentiu a vibração costumeira, espécie de arrepio, a correr-lhe a espinha dorsal. Voltou dois passos e entrou. Acendeu a luz, como fosse noite, e a única lâmpada do recinto tremulou ligeiríssima em sua intermitência sem fim. Sem dúvida, o sistema havia entrado em curto-circuito e o problema se agravaria com a iminência de um incêndio. Desligada a chave de corrente para o setor, no dia seguinte F. sanou o incidente, saiu à rua, comprou novo lume e o fez tomar o lugar da luminária em pane.

F. entrara no depósito, naquela noite, porque sabia dos sinais de sua própria lâmpada mágica; da vibração em sua linguagem característica que eriça os pelos, do aviso silencioso e secreto a percorrer mais ligeiro que o sangue e, acima de tudo, que não deveria, sob hipótese alguma, prescindir dessas mensagens.