Os visitantes

Foi assim, de mansinho, que eles chegaram. Primeiro o neto, com quem ela adorava brincar, uma criança esperta, que a rejuvenescia. A filha pernoitou uma noite, porque já era tarde, permaneceu mais um dia, antes de ir-se. Até que, ao perder o emprego, estabeleceu-se no apartamento. O ex-marido vinha de vez em quando, para visitar o filho. As visitas, que se tornaram mais frequentes, possibilitaram uma reconciliação do casal. E, quando se deu conta, todos estavam amontoados no espaço relativamente pequeno de que dispunha. Tentou conversar, mas tergiversaram, sentiam-se bem ali. Até que, uma noite, ela não conseguiu dormir, como se o peito fosse estourar. Quando raiou a manhã, arrumou uma sacola de viagem, totalmente decidida. Acordou a filha e avisou que estava indo embora. “Como assim?” E ela impávida: “Vou ficar fora por um tempo.” Fechou a porta e enfrentou o ar da manhã. Respirou fundo, apropriando-se daquela entontecedora sensação de liberdade.