ÚLTIMO PEDIDO

Acamado há meses e sem expectativa de melhoras chamou junto ao catre a esposa e a fez jurar que cumpriria aquele último desejo: morrer em seu leito, na casa.

Era um homem probo. Gabava-se de nunca ter chegado atrasado ao serviço, de religiosamente batido o ponto ás sete e meia por trinta e oito anos ininterruptos até o AVC.

Na cama jazia mais de quatro anos, lúcido. Ao primeiro sinal de demência pressentiu que era o momento para as derradeiras ações mundanas. Não teve filhos e de bens somente a casa que pouco valia. Não precisou tabelião pra formalizar testamento, mas o consentimento da esposa ao último desejo pareceu-lhe de mais valia do que um documento formal reconhecido.

Naquela manhã de inverno o céu era azul e entrava pela janela do quarto. A mulher acudiu da cozinha o terrível grito que soou na casa toda e o encontrou sem discernimento. A ambulância chegou com vinte minutos. Viveu ainda dois dias no hospital.

Jonas Kernitskei
Enviado por Jonas Kernitskei em 28/07/2015
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