A conquista

As vozes estavam lá, talvez mais distantes, talvez menos agressivas, mas estavam lá. Ouvia-as como se formassem um fundo, zoavam nos seus ouvidos a princípio contínuas, depois intermitentes, sempre à espreita de uma vaga no seu universo interior. E ela procurava pensar mais forte do que elas, mais forte do que tudo, para abafá-las de vez, num processo sumário e importante de exclusão. Quando fechou a porta, e viu-se senhora absoluta da pequena casa branca, a casa que herdara do pai, e estava povoada por tantas recordações, respirou fundo. Não, não conseguiriam tirá-la de lá. Por mais que bramissem, não a amedrontavam mais. Os trinados dos pássaros chamaram-lhe a atenção. Debruçou-se na janela e sorveu com gosto o seu mais belo pôr do sol.