Simples histórias

Aos poucos, entrou em contato com os novos vizinhos. Moravam no mesmo andar, e as portas dos dois apartamentos olhavam uma para a outra. A senhora, mais jovem, mostrou-se muito simpática, no meio de suas andanças, suas entradas e saídas frequentes: soube que, apesar de já aposentada, dedicava-se a vários afazeres. Ele, menos aberto, aparentava ser uma pessoa bem-educada. As relações avançavam entre breves conversas no elevador, sorrisos de passagem, encontros na reunião de condomínio ou na garagem. Um dia, a vizinha lhe pareceu abatida. Logo se soube no prédio que ela lutava contra um câncer. O processo foi rápido: uma tarde, ao sair de casa, bateu com a fisionomia desfigurada do vizinho: “Como está Maria?”, perguntou-lhe. “Acaba de partir.” Desconcertada, não soube propriamente o que dizer. Pouco tempo depois, ele mudou-se. Reencontrou-o na rua, cerca de um ano mais tarde. Rígido e forte, na sua idade já avançada, agradeceu-lhe pelos bons préstimos enquanto haviam morado no mesmo prédio. Falou sorrindo e, na despedida, tomou-lhe as mãos. E aquele gesto de carinho - inesperado, eloquente - marcou o início de uma nova história.