Vidas paralelas

Era como se as vidas se repetissem. À medida que crescia, ela incorporava hábitos, jeitos da mãe. Mas não só: as biografias também revelavam traços em comum. A filha fez um belo casamento e, naquela ocasião, uma nuvem toldou o olhar da mãe: rezou com ardor para que desse certo.

Em pouco tempo, a filha teve duas meninas, assim como ela própria havia tido. Ela só podia admirar uma família que, segundo todas as evidências, funcionava muito bem. Além de adoráveis, as meninas eram muito chegadas à vó. E ela fazia votos que aquela ternura continuasse para sempre.

Um belo dia, a filha apareceu em sua casa com um olhar preocupado. Ela perguntou se havia algum problema. A moça respondeu que ela e o marido tinham discutido, que aparentemente havia algo se interpondo entre eles. A mãe, instintivamente, levou as mãos à cabeça: mais uma vez aquela vida copiaria a sua?

A filha voltou para a casa, a mãe permaneceu angustiada. Ajoelhou-se diante do oratório, pedindo fervorosamente que nada perturbasse aquele casal, que uma família tão linda precisava ser preservada. Foram momentos de ansiedade e de fé. Até que, após dois dias, a filha ligou, dizendo que queria falar com ela. Estremeceu; pouco depois, abriu a porta.

A filha se atirou nos seus braços: "tudo resolvido, mãe. Foi um mero mal-entendido. Estamos mais firmes do que nunca". Assim que ficou sozinha, ela entoou ao seu Deus um cântico de agradecimento: esperava que, a partir daquele momento, a filha trilhasse o seu próprio caminho.