O homem que bebia cerveja

(O homem entrou e sentou-se no banco alto. Encarou o anfitrião e pediu. Não havia. Resignado, levantou-se e virou as costas, saindo).

Os conjuntos de garrafas alinhavam-se em filas caóticas, vestidos de imperfeição tão singela que fazia até lembrar posicionamento de pelotões em primeiro dia de recruta. Fitavam sortudos, confiantes, brincalhões, na ausência de um qualquer sargento ou alferes a distribuir berros para o ar. Postados lá no “seu cima”, observavam Carlos, aquele ser pequenino, de camisa aos quadrados e calças de ganga - algo remotamente parecido com um “barman”, homem magro e irrequieto, suporte do bigode e da calva, base do nariz afilado, espécime nervoso cujas mãos mexiam em loiça e copos e pratos enquanto olhava em frente e sorria proferindo “Bom dia. O que vai ser? Olá menina Francisca, a rapaziada está boa? E para o senhor doutor? O pãozinho de leite do costume?”.

(Carlos não gostava dos problemas que definia como vadios. Já trabalhava ali há catorze anos e sabia muito bem tirar-lhes a pinta. Ó se sabia!).

“ Anda José, já estamos atrasados!” Proferiu a primeira voz

“Vem daí, só bebemos uma. Está calor!..” respondeu a segunda

“Olha pá. Não dá. Eu vou indo. Se queres ficar, é contigo.” Disse a

primeira enquanto se afastava.

"Vai lá, vai. És um corte. Não se faz, abandonar assim os amigos”

Disse José, terminando o diálogo.

Olhou para a tabuleta pendurada na porta defronte dos pequenos quadrados de vidro. Dizia “Aberto”. Entrou.

Sentia calor e tinha o corpo, a camisa e as calças todos suados. O monte de cabelos era loiro, composição revolta de fios soltos e sujos. A barba mal feita e os dois furúnculos da cara também não ajudavam a uma boa aparência. Sentou-se, encarou o homem de olhos pequeninos e pediu uma fresquinha, estava com sede. O ser olhou-o de baixo a acima e respondeu “Desculpe mas não tenho”.

Examinando a sala, descobriu ao fundo o casal que debicava amendoins acompanhando-os com as “imperiais”. Mas não gostava de confusão. Por isso, sem uma palavra, levantou-se, virou as costas e saiu para a rua quente.

Como não havia, resignado, levantou-se e virou as costas saindo.