Luzes

"Eu existo; é tão suave, tão suave, tão vagaroso..."

Jean-Paul Sartre

Ela também existe, como eu. Ela tem uma mãe, um belo celular. Também eu. E basta para mim compartilhar junto com ela, no ônibus, a existência. Se nunca estarei entre sua pele alvíssima e seus cabelos ruivos e alaranjados, a brincar, isto é outro problema longíquo, quase metafísico. Ela existe um momento comigo, ela sem nome, eu sem nome também. Momento presente que pode acabar a qualquer hora, ela comigo, ela existe comigo, sua bolsa é minha, sua pulseira, nosso ônibus. No soslaio dos olhos pretos de felina eu estou nela, este texto também é dela. Seu cinto e sua gargantilha passaram por mim. Ela desceu. Não existiremos juntas nunca mais. Pálida luz alaranjada...