Devaneios na noite elétrica

"-Seu cartão vai cair do seu bolso!" Gritou o homem da última cadeira para a moça que acabara de descer do ônibus. Aquele grito foi perturbador, atingiu os alicerces da minha alma de ser humano. Por que diabos ele se importa com o cartão daquela moça, que nunca viu e nunca mais vai ver? Por que os seres humanos se importam com os problemas dos outros? E, no entanto, tudo continua humano, com seu dualismo cartesiano tedioso, bonzinho e malvado, humano, existente. Ele se importou com o cartão dela. Afinal, quem é bom e quem é ruim na história? No fim, será que são mesmo todos humanos?

Foi demais pra mim, ele se importou, os outros não se importam, essa coisa de ser humano. Desço do ônibus uma parada antes e vou a pé, na noite elétrica.