Meu 12 de Junho inesquecível

Aconteceu o 12 de junho. Dia dos namorados e eu, muito além de estar apaixonado, arrisquei tudo por um momento do qual jamais me esqueceria. Não me importava saber se perderia o emprego, se morreria no caminho da ida ou da volta... o pedido dela parecia uma ordem e tinha que ser cumprido a qualquer custo.

Um simples telefonema na véspera, e lá estava eu na ansiedade típica de um primeiro encontro, em pleno Aeroporto Santos Dumont, aventurando-me na capital. A ida foi das mais engraçadas. Fui num carro da funerária, depois de conseguir a carona que levou-me até a entrada principal do começo de meu sonho.

Viagem conturbada, aconteceu de tudo. O carro furou pneu, a Avenida Brasil congestionada, eu suando bicas e o pensamento fixo: tenho que chegar! O amor deixa qualquer um convicto de que tudo vai dar certo. E penso que isso faz com que dê mesmo!

Adentrei aquele saguão como se fosse o próprio filho do vento. Ajeitei o desalinho dos cabelos mirando-me numa vidraça. Nas mãos, um presente: o livro do Arthur da Távola que toda mulher apaixonada deveria ganhar. E a minha não ficaria sem. Não de novo...

Anos atrás eu havia presenteado minha então namorada com aquele livro, justamente eu, que não tenho tendências literárias. Li em um jornal uma crônica que nada mais era que parte daquela que seria por mim qualificada como bíblia amorosa. "Do amor: ensaio de enigma". Ela, sei lá porque motivo (e nem quero imaginar) perdeu o livro. Prometi outro, no calor do desejo e assim o fiz. Dia dos namorados...

Quando a avistei, o mundo parou. Instante de magia, o maior encantamento do universo. Ela ali, linda! O avião, naquela época, chegava antes do carro a qualquer lugar... Minha deusa... Visão do paraíso! Trajando uma blusa verde colada no corpo, uma saia preta que realçava suas curvas (o tecido parecia acariciar aquele corpo) e as botas também pretas... (Adoro mulher usando botas... Principalmente aquela minha mulher...). Fui em sua direção e quando a abracei senti que meu corpo foi desintegrado. Transformei-me em um espírito. Fundi-me naquele ser maravilhoso... A paixão nos dá certezas tão verdadeiras, que cobra caro por isso depois...

Não me lembro do que falamos. Ela trouxera um presente lindo para mim. Uma almofada branca com os dizeres "COMUNICAR MEU AMOR NÃO BASTA... EU PRECISO TE SENTIR, TE PEGAR, TE BEIJAR E AÍ, ENTRE UM SUSPIRO E OUTRO, DIZER BEM BAIXINHO, PERTINHO DA SUA ORELHA: AMO VOCÊ!"

Todo encontro, obviamente, tem que ser acometido por um aborrecimento. Encontro é festa e festas nunca são 100% perfeitas. Deu-se o impasse: para onde ir? Rio de Janeiro, todas as confusões do mundo cercando a cidade maravilhosa e nós dois no aeroporto. Ela não aceitou minha sugestão e eu não podia levá-la para onde eu conhecia. Eu estava com o amor da minha vida. Não com uma mulher que me acompanhasse nas baladas. Tinha que fazer aquele encontro especial e minha mente ficou vazia. Não conseguia pensar em nada. Meu nervosismo deixou-me cego.

Ela, que estava ali especialmente para nosso encontro, havia literalmente fugido de seu castelo para encontrar-se com seu vassalo apaixonado. Pegou o celular e depois de alguns minutos tomou as decisões que, em circunstâncias normais, eu deveria tomar. Entramos num táxi e seguimos para a Barra da Tijuca. Foi o passeio mais mágico que já fiz em toda a minha vida! Estávamos ambos extasiados! A reciprocidade daquele amor podia ser sentida a anos-luz de distância!

Até hoje ainda me arrependo quando ao cruzar o túnel ela quis gritar um "EU TE AMO" lá dentro e eu não permiti... Explodíamos de amor! Adolescentes apaixonados, anos e anos depois...

Chegamos a um flat lindíssimo depois de rodarmos por quase três horas com aquele taxista. O cara explorou na corrida. Percebeu que não éramos dali. Infelizmente, a desonestidade está por toda parte. Mas isso foi outro daqueles detalhes que estragariam a festa, não fosse esta o evento principal.

Fizemos o amor acontecer em todas as suas instâncias... Foi o dia mais lindo de minha vida! Nunca mesmo tive algo tão abençoado...

Hora de voltar e, toda volta, como se sabe, é mais rápida. Ela deveria estar no avião das 19h para chegar a tempo no castelo, onde "a corte" a esperava. Não poderia haver atraso. Mas foi o que quase aconteceu...

De volta ao Santos Dumont, despedimo-nos vezes sem fim. Penso que meu olhar brilhava tanto que refletia no dela. Ou talvez fosse o contrário... Eu poderia morrer naquele instante. Agradeceria a Deus por isto! Conheci o amor, não precisava conhecer mais nada...

Ela marcou o papel de embarque com um beijo e entregou-me... Entre tchau, te amo, vai, volta, ela quase perdeu o vôo. Foi a última a embarcar... Rimos muito disso depois... Na hora, eu apenas fiquei ali, paralisado, como quem acorda de um sonho, com a certeza mais que absoluta de ter vivido o melhor dia dos namorados de toda a minha existência... Eu e o amor da minha vida...

E ainda agora, ao ler isso que aqui descrevo, meus olhos ficam marejados, uma emoção imensa toma posse de mim. Revivo as cenas que não dissertei, cenas nossas, sorrisos, olhares, os apertos de mãos, aquele táxi que seguia sem nunca parar... Os beijos e abraços apaixonados que trocamos...

Ainda agora e por muito tempo, eu sei, trarei guardado dentro de mim esse que foi o encontro mais verdadeiro de minha vida, o encontro comigo mesmo, porque acredito piamente que todo ser somente é pleno quando vivencia o acontecimento recíproco de um grande amor!

LEÃO FERIDO
Enviado por LEÃO FERIDO em 25/05/2008
Reeditado em 20/03/2013
Código do texto: T1004503
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