Conto dos Anjos

Em um parquinho, com vários brinquedos recreativos, está uma menina sentada em um balanço. Ao seu lado, de pé em frente a um balanço vazio, está um garoto com um olhar firme e limpo. Ele segura com firmeza as correntes do balanço.

<Menina>- Ei, você poderia me empurrar?

<Garoto>- Ah...sem problemas!

Ele sai de onde está e começa a empurrá-la devagarinho.

<Menina>- Sabe...? A vida é estranha...

<Garoto>- Por que?

<Menina>- Porque às vezes parece que todo o mundo te apóia e tem horas que todo mundo foi embora. Por que é assim?

<Garoto>- Veja bem...eu acho que é porque umas pessoas seriam felizes e outras não.

<Menina>- Mas eu poderia ter ao menos alguém que goste de mim...eu não tenho ninguém que me am...

O garoto pára de balançá-la, segurando o balanço. Enquanto fala ele dá a volta e a encara.

<Garoto>- Não digas isto! Jamais repita! Esta é a maior mentira que alguém pode dizer a si mesmo. Há sempre alguém que ama alguém.

<Menina>- Não parece...eu devo ser a exceção...

<Garoto>- Não, não é. E eu te provo. Eu até conheço uma história assim.

<Menina>- Uma história? Oba! Me conte, adoro histórias.

<Garoto>- Feche os olhos. Imagine um mundo com castelos, fadas e heróis. Neste mundo há também gente má e triste. E uma destas pessoas era uma menina. Ela era muito triste. Era triste porque as pessoas não eram boas com ela. Naquele mundo havia também um anjo com asa quebrada.

<Menina>- O que tinha ele? Por que tinha a asa quebrada?

<Garoto>- Ele as quebrou. As asas dele se transformaram em pétalas de flores. Porque ele quis presentear a menina que amava com elas. Ele amava a menina triste. E era a única forma deles se falarem. Ela não podia vê-lo, mas as flores, sim. E poderia sentí-lo através do mimo.

<Menina>- E ele entregou as flores?

<Garoto>- Não, elas murcharam antes dele chegar até ela. Ele acabou por ficar só com uma asa. E sem mostrar que a amava.

<Menina>- Nossa. O que aconteceu com ele depois?

<Garoto>- E então, ele arrancou a outra asa e doou a quem amava. Desta vez, a asa virou uma estrela e passou a morar no coração dela. Com isto, ela soube da existência dele. E eles podiam agora se encontrar nos sonhos dela.

<Menina>- E a pessoa o que achou?

<Garoto>- Esta pessoa aceitou a estrelinha, e ficou muito tempo sem saber o que dar em troca.

<Menina>- E a pessoa conseguiu dar algo em troca?

<Garoto>- No fim, ela percebeu que o que ele mais queria, ela sempre fora capaz de dar. Arrancou um pedaço do próprio coração e deu a ele.

<Garoto>- Com aquilo, o anjinho não mais era anjinho. Há muito ele não tinha asas. Não podia voltar aos céus.

<Menina>- O que ele era?

<Garoto>- Ele tinha virado um garoto e podia amar a menina, porque eles se deram asas novas. Asas invisíveis feitas de amor.

<Menina>- A menina deve ser feliz agora.

<Garoto>- O garoto pode sorrir todo dia por causa disto.

<Menina>- Eles crescerão juntos?

<Garoto>- Estão crescendo, eles ainda têm medo do mundo, mas desde que deram as mãos, não temem mais nada.

<Menina>- Nem o novo?

<Garoto>- O novo, eles saboreiam. O garoto carrega a menina quando ela tem medo de andar.

<Menina>- Ele é gentil.

<Garoto>- A menina acalenta o garoto quando ele está cansado.

<Menina>- Ela o ama né?

<Garoto>- Muito.

<Garoto>- E ele sabe que pode contar com ela quando ele mesmo perde as esperanças. Pois pode olhar bem dentro dos olhos dela.

<Menina>- O que ele vê em seus olhos?

<Garoto>- Tudo

tudo que ele sonha

tudo que ela sonha

tudo que ele sente

tudo que ela sente

tudo que ele é

tudo que ela é