O Conto

Ele acorda. Sempre acorda. Acordou normalmente nesse dia, que seria como outro qualquer. Ele é um cara normal, como qualquer outro, mas diferente de todos. Tem seus desejos e sonhos, seus castelos e portos, seus amores e desilusões. Ele é normal. Hoje não seria diferente da normalidade, mas somente se hoje ele não a visse. Quando seus olhos a encontram, nada mais é normal, nem ele mesmo. Tudo muda, mesmo parecendo exatamente igual. Cada movimento que ela faz, ele vê, ele sonha. Sempre, e hoje. O que realmente muda, entre um olhar e outro, é a dor que ele sente, uma dor que atravessa a barreira do físico e atinge onde nenhuma lâmina alcança, e lá, no vale sombrio que reside dentro de nós, o amor grita e chora. Preso, contido. Ele tenta soltá-lo, mas o que faz é em vão. Suas mãos não conseguem tocar na grade que rodeia o amor. Mas ele tenta, e tenta. E nada. E o amor grita e chora de maneira mais intensa, aumentando o pranto dele. Porém ele sabe, só há uma maneira, só uma chave, para fazê-lo voltar a sonhos bons à noite. E essa chave é ela. Ele também sente-se preso. Num círculo vicioso, onde o seu amor trancafiado perde a voz e não consegue aclamar pela única pessoa que o salvaria. A lua, bela e misteriosa, que guarda muitos segredos sob seu manto de luz pálida, mas nunca deixa de ser radiante e esplendorosa. Ele admira a lua, pois essa lembra de sua chave. E ele vaga pela noite, tentando sentir o calor que emana do véu da lua, imaginando se ele sentiria o mesmo junto de seu amor. Seria verdade, fato, ou apenas mais um conto? Nunca saberemos. Hoje e sempre.