Sonhos: Um amor perfeito

As ilusões de nossa beleza juvenil dissiparam-se rapidamente. Não tardou para que sentisse o cheiro de sexo com outros, nela; eu ficava quieta, esperando que sorrisse para mim, mas ela vinha com sua cara de TPM e sua ânsia de se trancar no quarto. Nesses momentos, esgueirava-me de ouvido, tentando escutar, tentando identificar o que suas arfadas queriam dizer, e, principalmente, descobrir a fonte de suas gargalhadas inesgotáveis.

Suas roupas na lavanderia denunciam todo seu desprezo por mim. Cheiro-as numa vã tentativa de saber dela, mais do que saber dos seus amantes. Tento sentir o seu romantismo. Vou até sua pilha de revistas em quadrinhos e as folheio; são tantas lindas histórias entre meninas belas como nós, por que não consegue as reproduzir comigo?

Fumo um cigarro, sempre acompanhado de um mergulho na poltrona, e penso nela. Fecho os olhos, e me pergunto: por quê? Tive um sem número de chances de abandonar tudo, mas continuo a viver assim. Acho que espero vê-la na cama, chupando a buceta de outra, para cair na real. Ou será que é essa espera esfumaçada que me faz ser apaixonada por ela?

Eu sinto minha vida tomada por essas turbulências, desde que a conheci. Antes, eu me sentia capaz de cuidar de mim mesma, agora eu perdi as rédeas. Eu preciso daquele corpo maravilhoso que ela tem. Mesmo que eu tenha um equivalente, sinto que ele se perde, que ele não tem AQUELA poesia que transcorre nas veias dela. Que a faz tão atraente para o mundo.

Quão recursivo este momento?! As fumaças vivas, formando espadas no ar. As cinzas no cinzeiro desenham uma bocarra com dentes-desfiladeiros; o vaso sobre o armário mal iluminado parece a peruca de um ente tenebroso a me observar. As pequenas coisas que me cercam me põem em cerco.

É aí, sim, que déjà vu realista!, agora posso finalmente abrir os olhos. E acordar. À minha frente, o mais belo sorriso, que me prova que minhas dores foram apenas pesadelos. Ela me beija e ignoro os cheiros estrangeiros que traz.