O catador de papelão ( PARTE lV)

...Continua

Na hora do almoço, foram até o barraco do João. José colocou o ouvido na porta para tentar ouvir algo. E nada. Silêncio era total! Então, ele deu um solavanco na porta, abrindo-a de súbito, e ao vê-lo ali dormindo, todo folgado brincou, que João era um cara folgado e que havia bebido todas durante a noite e dormia feito um anjo. Entre uma gargalhada e outra, perceberam que João estava segurando uma carta.

Ezequiel inclinou-se para ler o que estava escrito no envelope como um menino peralta, e ao ver que a carta estava endereçada a mim gesticulou com as sobrancelhas em ritmados sobe e desce, sugerindo que deveriam lê-la, e que aquele era o momento de descobrir o segredo do amigo. Ao tirar o envelope de suas mãos notou que João havia falecido e imediatamente seguiram para a delegacia da cidade, entregaram a carta ao delegado que, ao ler, mandou nos chamar Dona Ana.

- Eu sou Angeita, a gerente do banco a quem João muito confiava. Dona Ana, na carta, João pede para que eu transfira a sua conta bancária para o seu nome e que lhe entregue, juntamente com o seu cartão e senha, as cartas que ele escrevia. O seu filho trabalhou duro, Dona Ana, poupou cada centavo do seu trabalho como catador de papelão até os últimos dias de sua vida, como ele havia planejado antes de sair de sua casa.

- Ele sabia que estava muito doente e que logo deixaria esta vida, por isso o hábito de dormir sempre limpo e de terno, porque sabia que a morte viria buscá-lo, e como não queria que a senhora o visse em aspecto decrépito, ele mesmo cuidou antecipadamente e detalhadamente do seu sepultamento, comprando um jazigo familiar em sua cidade, para onde, neste momento ele está seguindo para descansar em paz em sua morada final. Apenas a mim ele confiava as suas dores e desejos, por isso tomei a liberdade de tomar todas as providências assim que o delegado me avisou.

João passou trinta anos retirando do lixo o seu sustento, e o dinheiro que ele lhe enviava mensalmente. O restante era poupado para garantir o seu futuro. A senhora deve orgulhar-se do seu filho, ele nunca deixou de amá-la!

FIM