Sonho é Destino

Sonho é Destino

“Querida, desejo-lhe boa noite.

Que o teu sono seja leve e tranqüilo.

Que o teu coração sonhe e logo se transforme em realidade durante o teu dia.

A vida te deu a bênção, agora trate de me abençoar também com esse teu olhar logo após o despertar.

Te espero abrir os olhos. Assim que der o primeiro suspiro estarei aqui e te darei o teu abraço.

Agora durma e não esqueça o que passou.

Você faz parte de mim e eu faço parte dos teus sonhos.

Durma bem... meu bem”

* *

O final da tarde se aproximava e Carolyn não sabia o que fazer com tanta alegria. Tudo que ela tinha pensado no dia anterior havia acontecido até o pôr-do-sol. Ela pensava e planejava um novo rumo para a sua vida. Um quarto novo, um par de sapatos, a reaproximação com o seu irmão e um aumento de salário. A única coisa que ainda não havia se concretizado era o desejo de voltar aos lábios do seu rapaz. Aquele que foi para não voltar.

Carolyn quase dobrando a rua voltando para casa, depois do seu dia cheio, se depara com ele. Parecia estar esperando. Ele morava no quarteirão ao lado em que a casa de Carolyn fora construída. Carolyn teve um forte calafrio e logo desviou o olhar; talvez por não acreditar no que estava vendo. Johnny estudava a noite. Àquela hora ele deveria estar na faculdade, mas estava ali, com uma sacola preta escorada no muro ao seu lado.

Carolyn precisava dobrar a esquina para chegar em casa. Era inevitável passar por Johnny, mesmo que fosse do lado oposto da rua. Mais seis passos dados e Johnny começa a atravessar a rua.

Carolyn começa a pensar – oh, meu Deus! Dá-me forças! Agora que ele está perto, traga-o ainda pra mais perto de mim, ou leve-o para bem longe.

Ela não conteve a ansiedade. Num golpe instintivo resolve atravessar a rua... em vão. Uma parte dela queria ficar e ter novamente aquele abraço.

“Amor!”, -ele me chamou de “amor”?! oh, meu Deus!-. “Me espere, por favooor! Tenho um presente pra vocêêê!!”.

Carolyn não teve outra reação, ficou inerte entre a calçada e a poucos centímetros de onde os carros passavam. Sutilmente Johnny a puxou para a calçada. Instantaneamente Carolyn não se conteve e deu-lhe talvez o abraço mais demorado de sua vida.

Johnny foi convidado a ir tomar um chá na casa de Carolyn. Era o mesmo chá que ele mesmo fazia e servia em quase todas as ocasiões que estava na casa de Carolyn.

Conversaram muito sobre o que havia acontecido durante o tempo em que namoravam. Cada um contou o que havia feito e vivido depois do término do seu noivado.

Ambos não conseguiam esconder o desejo e a saudade que estavam em ter novamente os seus contatos íntimos. Todos os dias antes de dormir pensavam no tempo em que dividiam um único travesseiro. No tempo em que nem mesmo dormindo um saía dos pensamentos dos outros.

Foi então que surpreendentemente Carolyn, no meio de uma conversa, propõe que Johnny passe uma última noite com ela. Repetiu outras duas vezes esse pedido. Johnny embasbacado aceitou sem pestanejar e pensando em como seria maravilhoso estar com Carolyn novamente por uma noite inteira.

Continuaram conversando por muito tempo até que Carolyn foi ao banho. Enquanto isso ele lembra de um trecho de uma carta feita por ele e enviada à Carolyn: “caderninho já nao basta, eu quero ser a sua pasta o seu carinho todo para mim. Como se nao fosse muito, eu quero estar pra sempre junto na foto da sua cabeceira a sorrir”. Imediatamente Johnny revira a casa de cima a baixo, somente com o olhar, procurando pelas tantas fotos que havia tirado ao lado de Carolyn. Ela tinha espalhado fotos deles por toda a casa. Agora não mais estavam sobre a camiseira, na parede da sala, na estante de mármore. Agora estavam possivelmente em alguma gaveta que Carolyn não teria fácil acesso.

Johnny ouve a porta do banheiro se abrir enquanto espera sentado no sofá da sala. Carol –como era chamada por Johnny- possivelmente teria ido ao seu quarto enrolada em sua toalha. Colocaria o seu pijama de estrelinhas, pensava Johnny.

-Bingo! Era o mesmo pijama de seis meses atrás-, pensou ele.

Carol com ironia tenta arrancar um sorriso envergonhado de Johnny: “Quer o teu calção? Aquele que o senhor esqueceu e fez questão de não vir buscar?!”.

Johnny ficou envergonhado e logo tratou de se encaminhar ao banheiro com o calção esquecido. Carolyn pendura na maçaneta da porta a toalha que Johnny também havia esquecido, enquanto o seu rapaz toma banho.

Carol estava secando o cabelo enquanto ele pensava nas tantas vezes que eles fizeram amor no banho e depois seguiam ainda molhados para o quarto de Carolyn. Ainda assim, ele sentia que deveria esperar que Carol desse o sinal verde para que acontecesse algo durante aquela noite.

Ela estava olhando fixamente para a porta esperando que ele saísse do banheiro. Carol estava pensando nas mesmas coisas que Johnny estava pensando enquanto se banhava.

Enfim ele sai do banho e se depara com o olhar mais doce, sincero, carinhoso e potente que jamais tinha visto em Carol. Neste instante o mesmo calafrio, que Carolyn teve ao ver Johnny na esquina, consumiu o corpo de Johnny e o deixou sem reação. Ou melhor: o deixou sem reação por apenas cinco segundos. Logo após este pequeno estado de estupor, Johnny voa aos os braços de Carolyn, esquecendo a idéia do sinal verde.

Aquilo que tanto sentiam saudade estava acontecendo. Era uma mistura de surrealidade e paixão. Paixão maior do que a sentida na primeira vez em tiveram o seu primeiro contato mais ardente.

Estavam exaustos e sem conseguir falar uma única palavra. Ambos estavam pensando na surrealidade que havia acontecido. Estavam totalmente presentes e vivendo plenamente aquele momento.

Em um estalo Carol desabafa entre lágrimas e gemidos: “eu te amo para sempre, meu amor. É eterno! Não sei como vivi esse tempo longe de ti. Todos os nossos sonhos e nossas planos não podem ter acabado. Não é possível que o nosso amor tenha esquecido disso”. Johnny só consegue repetir as mesmas palavras, por ainda estar em êxtase depois de toda emoção que ainda o comovia.

Estavam deitados entrelaçados com seus braços e pernas. Os dois só pensavam no que recém havia acontecido ali naqueles momentos. Relembravam os infinitos momentos que tanto sentiam falta e que não desejavam que acabassem.

Carolyn estava exausta e aos poucos seus olhos demoravam mais para abrir a cada vez que piscava. Johnny resolve deixar as coisas como estavam. Tinha medo de estragar algo com alguma palavra. Queria que o “adeus” fosse como tinha acontecido. Ele também acaba adormecendo por algum tempo, mas logo acorda e vê o amor da sua vida ali, com o rosto ao lado do seu, aquele rosto lindo que nunca imaginava um dia reencontrar. Estava na hora de ir.

* *

Ele levanta, coloca a sua roupa e escreve o bilhete.