O tigre das Montanhas (Cap. 2)

O TIGRE DAS MONTANHAS

Capítulo 2 – O caminho para Plumargento

Era muito cedo para as pessoas da cidade de Rivengard virem um jovem de cabelos na altura dos ombros, blusa branca e calça azul, com uma mochila nas costas correndo rumo a saída norte da cidade.

O caminho que teria pela frente nem era dos menores, mais também não era dos maiores, lembrou-se que quando teve que ir morar como sua tia-avó fez um caminho muito maior do que de Rivengard para Plumargento.

Passado uma hora mais ou menos, as casas coloridas no estilo do final do século XVII iam ficando para trás, a sua frente uma longa e tortuosa estrada. Ele nunca tinha ido para Plumargento, só ouvira falar, diziam que era uma cidade muito desenvolvida e muito bonita, suas ruas eram largas e a noite tudo se iluminava. Viu uma vez no livro, que a estátua na praça central era a maior de toda a região.

Escutou um barulho ma mata perto dele, e estava se aproximando, ele apressou o passo e continuou a andar.

- Opa! – Gritou um homem gordo que dirigia uma carroça na estrada já perto do meio dia, ele parou ao seu lado e continuou. – Está indo para onde Jovem? estas estradas na são mais seguras como antigamente ouvi falar que muitos ladrões estão à espreita.

- Ladrões? – Perguntou assustado Davis.

- Sim, Dizem que quem eles pegam não sobra nada. Alguns inclusive matam. Você está indo para onde?

- Plumargento. – Falou Davis.

- Curioso, estou indo para lá. Você quer carona?

Por um momento ele hesitou, mas o sorriso daquele velho senhor era tão cativante que aceitou a carona. Ele também queria logo se ver o mais longe que podia da casa de sua tia-avó aquelas coisas podiam está atrás dele agora.

Logo depois que subiu o Homem perguntou o motivo da viagem para Davis, ele pensou em dizer a verdade, mas em vez disso ele falou:

- Estou indo visitar a minha Tia-avó. Ela está precisando muito de mim agora.

- E seus pais?

- Estão trabalhando. Eles trabalham num mercado e não podem sair.

Depois disso nada foi dito. A tarde foi calma, estava mais frio que o normal para aquela época do ano. Pouco se conversava entre os dois homens que estavam em cima da carroça. Davis então ocupou seu tempo olhando a paisagem, via como as árvores estavam mais coloridas no final do outono. Os animais estavam alegres, mas ao ver a carroça se aproximando eles fugiam, “Talvez os animais daqui tenham medo dos humanos.” Davis pensou.

Mas então ele perguntou para o dirigente

- Qual é o seu nome?

- Ah, pode me chamar de Bop. É o meu apelido, quase ninguém me chama pelo meu nome verdadeiro. – E então surgiu naquele rosto cansado um sorriso sobre a longa barba, em seguida ele começou a cantar. Ao final da música ele falou. – Você não quer descansar? Tome, eu tenho alguns panos aqui e você pode usar.

Quando ele retirou o pano que cobria o conteúdo da carroça Davis sentiu um cheiro muito forte e um mal estar o invadiu. Bop retornou sua atenção a ele e com um sorriso ofereceu um pano branco que tinha algumas manchas vermelhas.

- O que você está levando aí a trás? – Perguntou Davis.

- Carne. Vou vendê-la em Plumargento. Mas Descanse. – E falando isso continuou a cantar.

Davis se deitou e fechou os olhos e ficou escutando Bop cantar, ele estava cantando uma música triste, que falava de guerras e de um amor não correspondido. Já era fim da tarde quando ele sentiu algo encostar em suas costas.

- Vamos ver o que esse garoto tem. – A mão de Bop pressionava as costas de Davis tentando puxar a sua mochila que estava debaixo dele.

Davis não se mexeu, ficou parado, como se continuasse dormindo. O dirigente demorou para retirar a mochila das costas do passageiro.

- Ele caiu direitinho. – Falou Bop – Com crianças é só você dá um sorriso que eles logo acreditam em você. Foi fácil de mais. O que só isso? – Ele devia ter aberto a mochila naquele instante. – Comida, e roupas? Não tem nada de valioso? Bom mais essas torradas parecem está apetitosas, vou guardar para mais tarde.

Então Davis sentiu o bafo do dirigente bem perto do seu rosto.

- Você nem vai sentir a sua morte.

Davis sentiu quando ele desceu da carroça e pegar algo na parte de trás depois só o silêncio. Não escutava nenhum movimento, mas também não abria os olhos. Esperou cerca de quinze minutos, que na verdade pareceram mais, até abrir os olhos. Observou o céu violeta com azul escuro do final da tarde, já se podiam ver as estrelas que brilhavam fortemente no céu. Ao redor um silêncio enorme, parecia que toda a floresta estava com a respiração suspensa, como se esperassem algo.

Calmamente ele se levantou, por precaução apalpou sua barriga e sentiu o volume e a dureza da capa do livro. Procurou sua mochila e a viu no canto onde Bop estivera a viagem toda. Sem fazer movimentos bruscos pegou sua mochila, estava mais leve, mas preferiu não olhar o que tinha sido retirado. Calmamente retirou um pouco do pano que cobria a parte de trás da carroça e o que viu foi forte de mais que teve que abafar um grito. Sobre as cobertas, corpos de três pessoas, ou assim pareciam pelas seis pernas que via, mas só enxergava duas cabeças, uma de uma mulher loira e outra de um homem barbudo.

Escutou então um barulho vindo da mata. Voltou a fingir-se de morto. Ele sentiu as pisadas fortes do dirigente da carroça e a voz pesada.

- Morte aos infiéis. – Falou – Morte aos infiéis. – Repetiu dessa vez, já quase em cima do garoto.

Suspendeu Davis que ainda fingia está dormindo e o levou para a mata. Davis sentia os braços roçarem nas árvores, e a blusa enganchar uma ou duas vezes. Andou por cerca de dez minutos na mata até que foi posto cuidadosamente no chão. E então sentiu as pisadas irem se afastando em direção da onde tinha vindo. Esperou até que mal se escutasse os passos de seu raptor para abrir os olhos.

Ele observou o tronco da enorme árvore que estava encostado e sentiu mais uma vez o chão áspero coberto por folhas da floresta. Esperou até que seus olhos se acostumassem com a escuridão para então visualizar uma pá e ao seu lado um grande buraco cavado do chão da mata.

“A morte são os que esperam os acompanhantes de Bop” Falou uma voz arrastada. Ele assustado procurou da onde tinha saído tal som. Mas ele não conseguiu descobrir.

Levantou-se calmamente, mas o pouco que se mexeu algumas folhas ao seu lado já se estalaram, ia ser difícil sair dali sem ser ouvido. E tinha deixado a mochila na carroça. Virou para trás e com cuidado andou por entre as árvores, depois de ter andado uns duzentos metros escutou um grito. Bop tinha visto que sua vítima havia fugido. Se corresse mais rápido, o estalar das folhas denunciaria sua posição e andasse mais devagar seria alcançado facilmente.

Davis Pegou algumas pedras no chão e colocou em seus bolsos e tentou inutilmente subir em algumas árvores ao seu redor, somente na terceira tentativa que ele conseguiu se agarrara aos galhos mais baixos e subir, ficando escondido entre as folhagens. Com sorte, Bop não ia notar sua presença e ele desceria dali na manhã seguinte.

E assim passou a noite, tenso, como se Bop fosse lhe pegar a qualquer momento. Mas observou, pouco antes de dormir, que seu raptor tinha passado logo abaixo de onde estava, mas não notou sua presença. Continuou andando pela mata a sua procura. Nesse momento Davis fechou os olhos e não lembrou mais de nada. Não viu os vultos que se aproximavam dele, muito menos escutava o que falavam. Mas escutou quando um deles falou na manhã seguinte:

- Acorda! – Dando um tapa em seu rosto.

Com olhos semicerrados ele viu vultos parecidos com homens, eram eretos, mas tinha mais pêlos que o normal.

- Ele acordou – falou um deles. – Tragam Fan Gli.

Dois desses seres ficaram a espera enquanto um terceiro saiu, provavelmente atrás do Fan Gli, que ele não fazia a mínima idéia de quem era. Os minutos passaram e ele ficou analisando seu cativeiro. Toda a sala era feita com galhos de árvores, do chão ao teto, as colunas e as portas. Era uma sala pequena, devia ter em torno de dez metros quadrados, colunas laterais eram feitos de ramos mais finos e da única janela podia-se ver as copas das árvores. Foi então que um barulho o fez virar a cabeça para a a porta.

- O intruso acordou? – Fan Gli era um ser mais alto que os demais, seu rosto era coberto por pelos castanhos e seus olhos eram verdes. Usava roupas rústicas e tinha mais pelos nos braços e pernas do que uma pessoa normal, mas não chegava a ser tanto quanto um macaco. – Qual o seu nome? – gritou pressionando sua garganta.

- Da-Daniel – Gaguejou.

- Quem pensa que é invadindo nosso território?

- Eu estava só fugindo, um homem estava querendo me matar e... – Levou um tapa no rosto.

- Humanos. – Gritou Fan Gli – Se vocês querem se matar, se matem no território de vocês. Foi um erro seu invadir o nosso território. Agora verá as conseqüências. Mas vou lhe dar uma chance para se redimir. Você pode trabalhar ou lutar para nos divertir, ou morrer como sacrifício para a Deusa Fani?

As opções não eram muito agradáveis. Estava sem saída Os olhos verdes de Fan Gli pareciam penetrar em seu pensamento e estava ansioso por sua resposta. Os outros três que estavam na sala, logo atrás de seu líder, também pareciam esperar a resposta ansiosamente. Davis ficou pensando em qual das alternativas poderia criar uma brecha para poder fugir dali e seguir seu caminho para Plumargento. Sem saber qual era a melhor escolha ele falou:

- Eu vou lutar. – falou decidido e tentando não demonstrar medo.

- Muito bem. São três lutas, vença as três e estará livre, se perder uma delas você morre. – E voltando aos demais – levem-no para a arena e prepare-o para a luta. – E então o líder saiu pela porta.

Davis, ainda amarrado, foi levado escoltado para fora da sala e o que viu foi uma grande civilização a cima das árvores. Pontes ligavam as árvores, casas inteiras e até pequenos edifícios eram feitos com os galhos e se erguiam por cima da copa. Muitos homens, se é que podiam ser chamados de homens, caminhavam pelas pontes sempre apressados, pareciam está sempre atrasados. Mas todos viravam seus rostos para ver o prisioneiro passar. Chegou então a um grande edifício, buracos nos troncos das árvores tinham sido entalhados, uma grande portal havia sido feita num espaço entre duas árvores. Os homens, entretanto, não o levaram para além do portal, eles viraram a direita e circundavam o edifício até chegarem a uma simples porta que dava para uma escada em espiral. Davis foi mandado descer a escada por o homem que estava a sua frente, era escuro lá dentro, mas no final da escada um grande aposento se abria cheio de porta ao redor. Dois grandes homens estavam vigiando o portal interior e abriu espaço par a entrada dos visitantes. O terceiro tomou a dianteira e falou para um dos homens;

- Prepare-o, ele vai lutar hoje a noite – e notando o olhar do outro homem falou – ordens de Fan Gli.

Davis foi deixado cuidados dos homens que vigiavam o aposento, estes o levaram para um das portas que dava acesso a um pequeno aposento.

- Você ficará aqui até à hora de sua luta. Vista-se adequadamente – apontando para umas roupas que estavam no chão, no canto da sala – e aguarde o chamado. – Os dois guardas fecharam a porta e Davis ficou esperando até não se ouvir barulho de seus passos. O quarto era pequeno, sem janelas e com uma única saída e entrada. As frestas entre os galhos retorcidos que faziam o alicerce do cômodo eram suficientes para deixar o ambiente iluminado. Davis então correu seus dedos sobre sua barriga e sentiu o livro. Rapidamente ele o pegou e chamou mentalmente:

“Bucharen”

Os ponteiros foram para o cisne e para o diamante, e então o livro abriu-se.

“Acho que aqui é seguro falar, eles não devem nos importunar por um momento” surgiu nas páginas amarelas do livro.

“Mas como é que eles não te acharam, levaram tudo que eu trouxe e Bop, ele não te viu?”

“Jovem Davis, só me acham aqueles que eu quero me achem, por isso que não me acharam.”

Davis ficou pensativo, se perguntado o que aquele livro tinha de mais misterioso,mas o livro não respondeu a esses pensamentos e sim a outro, como o que ele repetia desde que saiu da sala onde acordou: como ele faria para sair dali?

“As histórias desse povo das árvores já me foi contada, eles não são desse mundo, são o que chamamos de Romícios da guerra. Existem vários grupos de Romícios, cada um é diferente do outro, mas eles têm coisas em comum, possuem uma antiga arte que os permitem passar de um mundo para o outro em pouco tempo, não é como o portal que se existe em Plumargento, mas eles conseguem transportar toda uma cidade. São nômades, nunca passam muito tempo em um lugar, foi um grande azar seu ter caído em suas mãos, existe Romícios simpáticos e bons, uns são comerciantes, outros dançarinos, os da guerra, vivem para escravizar e lutar. Este grupo geralmente não gosta de ser desafiado e se ver alguém entrar em suas terras pensam que querem tomá-las de seu poder e logo aprisionam os intrusos”

“Que ótimo” Pensou Davis, “em tantos lugares para estar vim cair nas mão de um grupo de guerreiros. Agora só restava lutar três vezes e sair vitoriosos das três vezes, mas quem será meus adversários?”

“Outros escravos, ou guerreiros Romícios, eles não costumam usar feras em seus combates.” Surgiu no livro. “Se lutar com um romício de guerra tente desviar de seus golpes, eles não são tão ágeis, mas são muito fortes.”

Por mais algum tempo o livro deu importantes dicas de batalhas que ele presenciou, pelo que entendeu não era a primeira vez que caía no território dos Romícios de guerra. Sentia os ponteiros deslizar um animal para o outro, mas o ponteiro das pedras sempre permanecia parado no diamante.Viu algumas gravuras de lutas passadas, entre Romícios e de guerra com outros povos e entre outros povos, vez ou outra o livro parava de mostra figuras e falava um pouco sobre alguns desses povos. Mas então ele sentiu o ponteiro das pedras se mover e o livro se fechou. Duas pedras pretas estavam na capa. A kunzita estava negra.

Então a Cela se abriu, mal deu tempo para Davis esconder o livro novamente dentro das vestes. Olhou em volta e sol já havia se posto. O mesmo ser que tinha dito que iria lutar naquela noite apareceu acompanhado de mais um.

- Fan Nin – Falou o Romício que já conhecia – Aqui está o Balaio.

Fan Nin pegou o cesto e pediu para Davis pegar três pergaminhos. Assim o garoto fez. Logo após Ele devolveu o Balaio para o outro Romício e seguiu com Davis por um longo e sinuoso corredor que subia para os andares superiores. Tão logo começou a subir notou que o barulho aumentava, mas foi só quando saiu que pode notar pra onde estavam levando.

Davis se encontrava numa grande arena, uma multidão gritava, as arquibancadas estavam cheias de Romícios de guerra. Homens pêlos claros, outros escuros. Olhos fundos e cheios de ódio. Todos usavam uma armadura metálica. Pareciam que estavam dispostos a ir mesmo para uma guerra. As luzes iluminavam o centro da Arena e Davis parecia um mísero ponto sendo viajado em todos os ângulos.

Então de um ponto isolado da arquibancada um Romício começou a falar:

“Por Ordem de Fan Gli, General da Terceira esquadra dos povos livres, decreta aberta a luta do Reino Azul. A luta constará de três combates. Não pode matar o adversário, mas pode deixá-lo num estado de semi-vida. O intruso Daniel, por sorteio, escolheu como adversários Aronn do Reino Vermelho, Vilork do Reino Prateado e por fim a invicta Enora a mercenária de Tofron, o Reino verde. Que dêem início ao combate”

Bruno Edson
Enviado por Bruno Edson em 26/07/2008
Código do texto: T1098958
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