Coração do Palhaço
 
            No meio do espetáculo. Sob o sol de 25º, uma lágrima escorre de seu olho esquerdo, em meio aquela toda maquiagem. Prega um sorriso no rosto e segue em frente. Há dois minutos o seu chão se partirá ao meio. Ainda com o olhar mirado para a saída, ele cai de joelhos perante a platéia. Silêncio. Um ranger de dentes. Ele tira do peito em meio à dor, seu coração. Lágrimas caem.
Sozinho e sem coração ele está.
            De longe a pequena bailarina infantil corre em para sua humilde casa e busca o seu antigo aquário. O enche-o de porção mágica dada pela Cartomante Sarah, e corre para o meio do picadeiro. Lá de fronte ao triste palhaço, com cuidado pega o seu coração carinho, que ainda bate forte e o coloca no aquário. Enxuga as lágrimas do Palhaço, lhe dá a mão e segue rumo ao novo horizonte.
            - Velarei por você, agora! – diz a pequena bailarina Ana.
Com um sorriso esperançoso o Triste Palhaço agradece e acaricia o rosto de seu novo anjo protetor.
 
            Enquanto isso, já do outro lado da cidade na boleia de um caminhão pau de arara, a Cigana Cassandra relembra os momentos de amor com o Palhaço, e como foi duro ter de abandoná-lo. Com um pesado suspiro se desfaz de tal lembrança, então ela beija o rosto de seu novo amor, o jovem cordelista Venâncio, que também não acredita no amor, como era o tal Palhaço. E diz, como em oração:
 
- Quem revogará as leis de um coração apaixonado... – ela mesma responde.
- Ninguém!
 
 
(Segue o circo dos desamores, agora em outra cidade.)


* Memorias Postumas de Sophia de La Boétie
Samara Lopes
Enviado por Samara Lopes em 06/09/2008
Código do texto: T1164057
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.