AMOR A PRIMEIRA VISTA - UMA HISTORIA DE AMOR

Foi tão repentino,

Que pensava que eu estava tendo um sonho.

A vi num ponto de ônibus, em pé na fila, como outros.

Você estava de vestido florido,

Como a primavera que se anunciava.

De óculos escuros redondos,

Uma bolsa na mão esquerda.

Cabelos castanhos claros e encaracolados,

Que caiam de uma maneira suave sobre os ombros.

O sol que àquela hora, ficava a altura dos seus olhos,

Também lhe davam um toque dourado a sua pele clara.

O rosto sereno completava a visão,

Que os meus olhos não acreditavam.

Fiquei ali do outro lado da rua te observando.

O ônibus chegou e você embarcou.

Foi tão rápido a maneira como você foi embora,

Que a noite abraçou-me e deixou-me na saudade de uma visão.

No dia seguinte no mesmo horário e lugar lá estava eu,

Assim como você também.

Dessa vez você estava de calça jeans e blusa branca e tênis.

Bem jovial simples e aquela serenidade que marcava.

Eu a contemplava de longe com o coração acelerado, um colegial.

Um ônibus chegou,

Vi que você fez uma pergunta a alguém e balançaram a cabeça numa negativa.

Quando o ônibus partiu você ficou só no ponto.

Minha ansiedade deu um salto quando você tirou um objeto da bolsa,

Que identifiquei de imediato;

Uma vareta branca: deficiente visual.

Não tive como me conter diante do exposto.

Uma lagrima correu solta pela face.

Venci minha tristeza e timidez e atravessei a rua.

Fiquei há uns 3m. de você.

Minha cabeça rodopiava.

Eu que me senti indefeso naquele momento.

De perto você era bem mais bonita.

Tive vontade de me aproximar, falar,

Mas o quê?

As pessoas com essa deficiência, aguçam muito mais a audição e percepção,

Notei que você percebeu que alguém tinha se aproximado,

Olhou na minha direção por alguns segundos e deve ter percebido,

Que estávamos só nós dois naquele instante.

O seu instinto de alerta sobressaiu.

Você colocou a vareta a sua frente e perguntou-me com uma voz firme:

O senhor poderia me informar quando chegar o ônibus para o bairro da Penha?

Levei alguns segundos para responder: - Pois não!

Como ela sabia que era um homem, ou foi um ardil para que me identificasse?

Foi bem esperta. Isso fazia parte do seu cotidiano. Ser alerta, sempre.

Outras pessoas chegaram, formaram uma fila.

Eu fiquei na mesma distancia, olhando-a: Como era linda!

O ônibus chegou e alguém a avisou no mesmo instante que eu falei.

Quando ela passou por mim, novamente virou a cabeça e agradeceu-me.

Como poderia saber que era eu que estava naquele lugar?

Eu ri da minha pobreza de percepção e tato.

Novamente no dia seguinte lá estava eu. Mesmo horário e pertinho dela.

Sem dizer uma única palavra ela sabia que eu estava lá,

Pois quando ela passava por mim, virava a cabeça na minha direção,

Era como se estivesse me olhando, era incrível aquilo.

De certa maneira fiquei na expectativa de estar assustando-a.

Não conseguia tira-la do meu pensamento no fim de semana.

Na segunda-feira, no mesmo horário e lugar, lá estava eu a admirá-la.

Numa dessas tardes eu estava no ponto de ônibus,

Quando uma amiga chegou e me perguntou como estavam os meus poemas,

Gosto muito de escrever e isso me ajuda a conquistar novas amizades,

A Clarice era uma delas.

Falei que no momento estava sem inspiração para compor.

Enquanto falávamos, notei que alguém prestava atenção,

Quando percebi falei um pouco mais baixo,

Joguei o verde pra colher o maduro e deu certo.

Ela deu um passo pra escutar a minha conversa.

E novamente partiu no ônibus rumo a Penha.

Confesso que fiquei com vontade de subir para o ônibus também,

Mas isso seria um ato que poderia assustá-la.

Desde o primeiro encontro, já tinha se passado uns 10 dias.,

Eu precisava arrumar uma maneira de iniciar uma conversa.

Mas falar o quê? Não sabia como me aproximar mais.

Num final de semana em casa tive uma idéia.

Iria numa escola de leitura Braile e pediria para alguém,

Escrever um poema meu em código Braile,

E de alguma maneira iria entregar a ela.

Era uma boa idéia, eu achava.

Fui ate o instituto Braile e consegui codificar 5 poemas.

No dia seguinte quando ela chegou, eu já estava lá.

E agora, como entregar a ela?

Sem que ela percebesse, consegui colocar na sua sacola de compras.

No dia seguinte novamente mais um poema na sua sacola.

Eu colocava e saia rapidamente para que ninguém percebesse.

Na sexta-feira, quando mais uma vez iria invadir sua sacola,

Ela percebeu e me falou:

- Gostei dos textos, pode entregar direto pra mim.

Pego no flagra. Não sabia como reagir.

Entreguei a ela e saí rapidamente, o susto foi muito grande.

No sábado e domingo foi uma alegria só.

E mais uma vez tive outra idéia mirabolante.

Na segunda quando ela estava no ponto de ônibus,

Eu aluguei um carro com som externo e declamei um poema.

Maior loucura. As pessoas aplaudiram e ela sorriu.

Que sorriso lindo.

Ela pediu pra alguém me chamar,

E atendi o seu pedido rapidamente.

Foi o mais belo agradecimento.

Perguntei se podia ir ao ônibus com ela.

Agora eu que fui atendido no pedido.

A historia teve um final feliz sim.

Iniciamos um namoro,

Ficamos noivos,

E nos casamos.

Ate nos dias de hoje coloco na sua sacola,

Algum poema em Braile, sempre quando a vejo no ponto de ônibus.

Di Camargo// 26/10/2008

Di Camargo
Enviado por Di Camargo em 26/10/2008
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