POR UM AMOR CIGANO - ( PARTE I )

AMOR CIGANO

As altas paredes do castelo se estendiam ocupando grande extensão de terra.

Ao lado árvores altas que transformavam ainda mais a propriedade da família.

Espanha terra das danças, da boa bebida e das mais belas mulheres.

Consuelo andava a procura da filha pela casa entrando e saindo dos quartos. Procurava alguém que pudesse lhe dar notícias da bela jovem de nome Monique.

Adentrou aos quartos e não a encontrou e a criada vinha com algumas toalhas pelo corredor:

- Nina podes me falar se sabes de Monique?

-Não senhora. Talvez ela esteja no jardim, disse um pouco assustada.

Ficava assim sempre que a mulher lhe dirigia a palavra, pois apesar de Consuelo ser uma mãe zelosa ela sempre contara todos os passos de sua filha a Fernandez seu marido que era bom, justo, mas exigia respeito sempre.

Nina já trabalhava há anos por ali e sempre temia uma desgraça, principalmente por saber que Monique com sua riqueza, não agüentaria por muito tempo a vida que viesse a levar.

Sabia que a jovem estava no jardim e que desejava passear por Madrid como as jovens de sua idade, mas os pais a queriam nos salões dançando com aqueles que a queriam cortejar e que fizesse um bom casamento.

Monique estava no jardim calada, podia ouvir o som das músicas e do calcar dos cavalos, trazendo mais uma vez o povo cigano para cantar, vender seus tachos e ler a buena dicha.

Sabia que seus costumes eram ricos e que suas superstições, apesar de serem sem fundamentos, eram ricas.

Estava cansada de ficar em casa e bem sabia que os pais a proibiriam de ver as danças ao anoitecer.

Sem medo tomou a decisão, atravessou o jardim com seu vestido longo e saiu por um dos portões.

Andou por algumas centenas de metros e alguns deles estavam se dirigindo ao centro da cidade.

Ela entrou na multidão e pode ver quando ciganas, em meio à multidão, liam as mãos das pessoas.

Uma jovem de olhos negros e cabelos encaracolados e longos, vestida com uma blusa azul turquesa de babados e uma saia rodada de retalhos azul e preta se aproximou.

Em nada se parecia com ela, teriam a mesma idade talvez, suas mãos cheias de anéis que brilhavam e seus colares quase lhe cobriam o colo que estava quase nu.

- Buena dicha, Senhora?

- Sim, e estendeu a mão delicada e pálida para a jovem cigana.

A jovem primeiramente passou as mãos sobre a dela e aos poucos foi contornando com os dedos cada linha.

- Senhora, disse ela olhando bem fundo nos olhos azuis da jovem moça.

- Deves ficar onde está, vejo tristeza e desgraça se saíres de onde está e um amor mudará sua pessoa.

Monique empalideceu com as palavras da jovem.

A cigana continuou:

- Nasceu no meio deles por que um deles é, e entenda que os povos podem misturar-se, mas não a riqueza com a pobreza.

- Não se deixe levar pelo amor, de repente a jovem cigana fechou os olhos e largou sua mão.

- Não lute por um homem com uma cigana.

Monique ficou olhando a jovem, e antes que pudesse perguntar ou falar qualquer coisa, a cigana se embrenhou na multidão e desapareceu.

Monique se afastou daquele local e de repente encontrou seu irmão.

- Marcus o que fazes aqui?

- Eu é que lhe pergunto minha irmã, disse ele sorrindo e mostrando seus dentes bem alinhados.

- Bem sabes que não suporto ficar em casa.

- Bem sei, disse ele. E eu não vim ver as danças e as mulheres.

- Parece assustada, o que aconteceu?

- Não foi nada, disse ela.

- Com certeza algo aconteceu. Você está estranha minha irmã.

- Bem, disse ela, a pouco uma cigana parou-me e leu a minha mão.

- Monique minha cara, não se deixe levar por estas ciganas, vivem da mentira para obterem alguns trocados.

- Se lhe pagou, esqueça.

- Não lhe paguei, ela saiu em disparada.

- De certo então, pagou sem perceber. Ela lhe roubou e você nem viu.

- Não acredito, disse ela.

- Pois acredite, não sei como fazem, mas de repente elas já levaram.

Monique olhou e suas moedas estavam lá.

- Não. Ela não me roubou não. Parecia assustada com o que dissera.

- E o que disse, falou Marcus divertindo-se com a preocupação da moça com medo da cigana.

- Ela me disse que riqueza e pobreza não andavam juntas. Eu devo ficar onde estou e nunca lutar com uma cigana, por um homem.

- E está atormentando-se. Como vai lutar com uma cigana, disse ele, colocando a mão no pescoço da irmã.

- A não ser que queira recuperar o colar que ela levou, disse ele sorrindo.

Realmente ela estava sem seu colar.

Seria a cigana? Como não percebera?

- Vamos para casa, disse ele, abraçando-a e convidando-a a acompanhá-lo.

Naira entrou em sua carroça atordoada. Olhou ao seu redor e nada viu. Abriu um pequeno baú e lá estava um lenço negro, ela pegou e beijou com amor.

- Nunca roubará ele de mim, disse a si mesma.

A cortina se abriu e Alena entrou:

- O que foi filha?

- Nada minha mãe!

- O que lhe acontece. Está com saudade do teu amor que vem de longe.

- Sim minha mãe.

- Logo Léo estará aqui minha filha, disse a cigana acariciando os cabelos negros da jovem.

Alena era ainda jovem e bela, perdera seu marido há alguns anos e desde então ficara só com a filha.

- Entenda que ele está longe, por nós. Foi com Otto em busca de dinheiro.

- Ficou na cidade que passamos e vai viajar para outra.

- Entenda que ele foi tentar vender nossos artefatos, para nos garantir sem fome aqui em Madrid e voltará com ouro para nós.

- Nos casaremos e pronto.

- Sim minha filha e nada existe que possa impedi-los.

- Vi algo mãe pela manhã.

- O que viu filha. Parece tão perturbada.

- Vi a jovem que atravessará nosso caminho.

- Bobagem.

- Não. Eu li suas mãos e nunca errei mamãe, lhe trouxe seu colar para que coloque a mão e possa sentir a desgraça.

- Você roubou o colar? Sabe que não somos ladrões. Naira como pode roubar algo neste valor. Neste momento com certeza, ele está nos amaldiçoando.

- Trouxe para a senhora sentir, depois mando entregar em sua casa.

- Como sabe onde ela vive? Por acaso misturou-se com essas pessoas?

- Não, eu a vi seguindo para lá, simplesmente para que eu possa devolver o seu colar.

- Pegue mãe e sinta. Sempre deu certo?

Alena pegou o colar nas mãos e fechou os olhos. Imagens desconcertadas surgiram a sua frente e por fim a imagem de Léo.

- E então? - perguntou Naira.

- Faça o possível para que não se encontrem ou nunca mais terá paz em sua vida.

- Me pede para lutar com o destino, minha mãe?

- Não o destino de Léo é ser seu, mas o seu pode mudar.

- O meu. Eu o amo. Nunca mudará.

- Sim mudará, disse a mãe. Não se preocupe pensaremos em algo.

Naira a abraçou com carinho e a mãe a beijou tentando aquietar o coração da filha.

Monique deitada no quarto pensava nas palavras da cigana quando a criada bateu à porta.

- Licença senhorita encomenda para senhora.

- Encomenda, disse ela, abrindo e vendo seu colar roubado.

- É seu colar senhora, disse a serviçal.

- Pode sair Nina, e junto do colar um bilhete:

“Não se esqueça das minhas palavras. Tenho certeza delas agora”.

Monique empalideceu e bateu no quarto de Marcus.

Ele sorriu quando ela entrou.

- Não me diga que ainda se perturba.

- Não. Ela devolveu o colar e me deu este bilhete. Sabe até onde vivo.

Marcus leu e calou-se.

- Marcus ela pegou meu colar para obter a prova, para ter a certeza das próprias palavras. E teve a confirmação.

- Monique, você só vai lutar com uma cigana, se amar um cigano, o que creio eu não acontecerá.

- É claro que não. Nem saio à cidade, e quando saio isso tudo acontece.

- Ela parece preocupada, talvez a cigana seja ela.

- Acredita nisso.

- Sim. E se for? O que vai te levar à cidade é ela mesma. Porque se bem a conheço você vai a procura dessa cigana para entender isso.

- E vou mesmo, disse ela.

- E a própria cigana te levará até o cigano, disse ele ou talvez nunca mais os veja de novo.

- É claro que não. Mas ao anoitecer irei à cidade ter com essa cigana. E você irá comigo.

- Eu?

- Sim, inventaremos algo e sairemos ao anoitecer.

A noite caiu e as estrelas iluminavam o céu, uma noite quente regada com muito vinho.

Os ciganos já se aglomeravam na cidade e Naira se preparava para dançar.

Assim que ia saindo uma mão a segurou.

- Não vai dançar sem antes eu poder te ver.

A jovem emocionada jogou-se nos braços do cigano. Era Léo ele voltou mais rápido do que pensava.

- Eu estava com muitas saudades.

O jovem vibrava com o amor da cigana que o conquistara.

Desde pequeno, fora prometido a uma cigana de nome Dalva, em outro acampamento cigano, que se deslocava continuamente, todos morreram em uma batalha e ele ficou só e foi adotado pelo grupo de Oto.

Mas, Dalva morrera e o verdadeiro amor nasceu pela primeira vez com a jovem cigana, a mais amada pelos homens do acampamento, para se unir a cigana ele não queria mais ninguém, mesmo porque estava sem empecilho, sem prometida. Então ele e os poucos ciganos restantes juntaram-se ao bando de Oto.

Ele a amou desde o primeiro instante e logo foi muito bem recebido, tinha apenas doze anos quando foi recolhido por Oto, cresceu e viveu ali.

Não tinha pais e foi criado por aquela gente, principalmente por Otto chefe dos ciganos.

Léo era jovem e lindo, cabelos longos e negros, presos num rabo e corpo atlético levando qualquer jovem a apaixonar-se.

E era bom e justo como ninguém. Diziam que haviam nascido um para o outro e que Léo era como filho de todos eles, já que seu bando de ciganos morrera.

Naira o beijou ardentemente.

- Vou dançar meu querido, não deixe de ver, disse ela sorrindo.

Monique e Marcus saíram de casa sem levantar suspeita e se dirigiram a cidade.

A cidade parecia em festa, logo avistaram o povo cigano.

Vendo a jovem dançar com um vestido vermelho, Monique disse:

- Ali está ela, vamos esperar.

- Meu Deus, disse o irmão. Você é linda minha irmã, mas se lutar com essa pérola irão se matar, disse ele sorrindo.

- Pare de brincar, disse ela, vamos esperar.

- Vamos mais perto, disse ele ou ela vai sair e você nem vai ver.

- Eu vou passear por ai. Volto logo, disse Marcus.

- Volte logo Marcus.

Logo a dança terminou e a jovem desceu rápido, sem que ela pudesse vê-la.

O cheiro de vinho pairava no ar e todos a olhavam, visto que a jovem era rica e chamava atenção.

Dois homens se aproximaram e tentaram lhe agarrar.

- Esta só moça, disse um deles vindo em sua direção.

Monique queria sair, mas não conseguiu, pois os homens a cercavam.

Neste instante uma voz masculina os surpreendeu.

- Deixem a moça e vão beber, disse o cigano Léo com seu punhal à mostra.

- Vai nos enfrentar, disse um deles.

- Não preciso. Tenho um bando aqui e vocês sabem disso.

Estava escuro e ela não pode ver quem falava.

Os homens ainda a olharam, mas foram saindo.

Léo se aproximou e a jovem percebeu que se tratava de um cigano.

- Não deve andar só, disse ele.

- Sei disso, disse ela, olhando o jovem que era a coisa mais bela que vira.

- Não estou acostumada a vir aqui. Vim com meu irmão.

- E todas estas jóias. É melhor voltar para a companhia dele.

- Como se chama? Perguntou ela.

- Léo.

- Vim até aqui falar com uma cigana que estava dançando.

Neste instante Naira surgiu e vendo o cigano e a jovem empalideceu.

- Com ela?

- Essa jovem quer falar com você meu amor, disse ele a abraçando.

Monique percebeu que se amavam.

- Eu disse para não se meter conosco, disse ela.

Léo sem entender ouvia tudo, mas Otto o chamou e ele se retirou.

- Sei disso. Recebi seu bilhete.

- O que quer saber? Fique em seu canto e nos deixe.

- Do que tem medo?- disse ela a cigana.

- Nada temo, disse Naira de olhos brilhantes. Mas vi você no meio da minha gente, amando um dos nossos e levando a desgraça.

- Por um cigano?- disse ela, eu nunca os vi antes.

- Já viu o que tinha que ver. A desgraça esta consumada.

- Do que fala?

- Vai saber quando deitar e o sono não vir, vai saber quando tiver que comer e não ter fome perceberá quando sua casa ficar pequena diante de sua vontade.

- Não entendo?

- Não sou Deus moça, mas vai saber quando quiser ser um dos nossos.

- Eu, cigana? Disse ela.

- Só quero que saiba que lutarei por meu homem e o defenderei de sua riqueza, como uma leoa que defende sua cria.

- Quando começar a sentir o amor em seu peito tente matá-lo antes que eu o mate por você, disse a cigana saindo e a deixando só.

Léo se aproximou e viu a jovem pálida.

- Senhora, não fique parada ou será incomodada novamente.

- Não vejo meu irmão, disse ela. Mas vou embora agora mesmo.

- Vou acompanhá-la, disse ele. Vendo os dois homens na multidão.

- Obrigada! Disse ela

Léo veio caminhando com a jovem até saírem da multidão.

- O que falou com Naira?

- Ela leu minha mão, fiquei com uma dúvida. Mulheres são curiosas tudo querem saber.

- É verdade, disse ele. Mas ninguém precisa ler minha mão para saber meu destino.

- Vai se casar com ela?

- Sim, é a minha cigana a amo com todo meu coração.

- A senhorita deve amar também, disse ele.

- Não, disse a jovem, eu nunca amei ninguém.

A casa estava próxima, quando ela lhe estendeu a mão, agradecendo.

Ele pegou em suas mãos e beijou com respeito.

- Adeus, disse ela entrando.

Sua mãe que viu a cena da janela desceu rápido.

- O que fazia com um cigano? Disse gritando.

- Ele veio acompanhar-me.

- Onde esteve? Onde está seu irmão? E a visita na casa de Maria, de certo é uma mentira.

- Sim mãe. Fomos ver as danças na cidade.

- E volta com um cigano?

- Fui falar com a cigana que leu minha mão. Alguns homens tentaram roubar-me. Ele ajudou-me é um cavalheiro.

- Ciganas que lêem a sorte? E você acredita. Poupe-me Monique, vá para o seu quarto, falarei com seu pai.

Léo adentrou sua carroça e Naira o esperava.

- Fui acompanhar aquela jovem.

- O que? Disse ela pálida.

- Acredita que dois homens tentaram atacá-la?

- E você a salvou?

- Sim, mas agora ela está em segurança. Também sair com aquelas jóias e aquele vestido.

Naira tentou conter o ciúme e o abraçou.

- Eu o amo querido. Não quero que se misture com eles.

- Sei disso e não vou me misturar, acredite – disse ele a beijando com amor.

Monique passou a noite em claro, pois os olhos do cigano vinham ao seu encontro, lhe impedindo de dormir.

Meu Deus o que está acontecendo comigo pensava ela.

Pela manhã, o pai e a mãe a receberam no café. Monique remexeu e não comeu.

- Soube do episódio de ontem, disse o pai.

- Meu pai, eu quis ver as...

- Cale-se. Quero você longe deles e das festas e seu irmão também. Nunca se casará com um homem de bem se alguém a ver com esse cigano.

- Ninguém viu, disse ela.

- E deixe-os, disse ele. Dom Francisco virá aqui hoje, lhe fazer a corte. Autorizei e faço gosto.

- Está bem meu pai, não irei mais à cidade, para o bem de todos nós.

Os dias iam passando, as danças continuavam na cidade, mas a indiferença de Monique diante das coisas parecia piorar.

- E então quando será o casamento? Perguntou Dom Francisco.

- No verão é melhor, disse o pai.

Monique permanecia indiferente, já não comia e nem bebia.

A vida há alguns meses ali, pareciam insuportáveis.

O dia nascia à noite caia e a cada instante a casa lhe era pequena.

Marcus foi quem percebeu.

- O que há? Desde daquela noite não come, não dorme, vive insatisfeita?

- Eu o vi aquela noite.

- Quem, o cigano?

- Sim. E não o esqueço um só instante, embora esteja lutando contra isso. Não fiz objeções a respeito do casamento, mas não consigo mais viver aqui.

- Se iludiu com a palavra da cigana.

- Eles que são felizes, que amam, que dançam e vivem. Eu queria ser um deles, disse ela num desabafo.

Foi então que se deu conta que o amava, que todas as palavras de Naira aconteciam. Ela queria largar tudo e ser um deles. Nesta hora devia arrancar o amor do seu coração ou a cigana o arrancaria.

- Acalme-se, disse Marcus, eles vão embora logo e então esquecerá.

- Tento, mas não consigo. Vou ter com ele.

- Ele ama aquela cigana.

- Tenho que ouvir meu coração.

- Só o viu uma vez e o ama e larga tudo por ele.

- Parece que já o amo há séculos, disse ela.

- O que vai fazer?

- Vou ter com ele, disse ela.

Monique parecia transformada.

- Ele não a quer.

- Farei algo, disse totalmente mudada.

- O que fará?

- Pensarei, disse ela saindo.

A noite estava quente. Sem que ninguém visse a jovem saiu e foi a cidade vestida mais adequadamente.

Léo estava lá, ela se aproximou não vendo Naira.

- Boa noite, disse ela com o melhor vinho nas mãos.

- Como está? Veio aventurar-se de novo.

- Não, vim lhe agradecer com este vinho, mas quero que beba comigo.

- Não posso, disse ele, tenho que me juntar aos meus.

A dor a invadiu.

- Vim até aqui me arriscar por um brinde. Nega meu presente.

- É claro que não, mas, não costumo beber disse ele pensando.

- Então aceite só um pouco. Vamos num lugar mais calmo.

Monique sentou perto de uma árvore, já próxima do acampamento e lhe deu o vinho.

Aos poucos os dois beberam e Monique sem querer descobriu o ponto fraco do cigano, ele não podia com o álcool. Beberam muito, até que ele já estava bem alterado.

- Temos que ir, disse ele.

- Não, pediu ela se aproximando. Léo não a queria e ela insistia a ocasionar a desgraça.

Marcus passou pela cigana e aproximou-se.

- Conhece Monique?

- Sim, disse ela assustada.

- Sou irmão dela. Soube que leu sua mão e a pouco ela veio à cidade se encontrar com o mesmo cigano que a levou até minha casa. Isso não pode continuar, disse ele mentindo.

- Onde estão, disse pálida.

- Vamos procurá-los.

Andaram, mas Marcus sabia bem onde estavam. Havia combinado com a irmã. Mas assim que chegaram, só havia a bebida.

- Não estão aqui, disse ela. Tire sua irmã do nosso meio, disse ela saindo.

Léo entrou na carroça e Naira o vendo chegar foi ter uma conversa com ele.

- Esteve com ela? Bebendo? O que fizeram?

- Nada, disse ele.

- Se nada fizeram, porque foi beber?

Após tentar explicar tudo a ela, ele disse:

- Iremos nos casar o mais rápido possível e iremos embora se ela a perturba tanto, disse ele a beijando.

Naquela noite Naira chorou, já não tinha certeza do amor de Léo.

Monique estava desesperada e chegou em casa tarde e o irmão lhe deu cobertura.

- E então conseguiu?

- Talvez, disse ela.

- Não conseguiu. Queria que eu levasse a cigana e levei, mas vocês não estavam. Tempo perdido. Onde esteve?

- Tive que sair e continuar meu plano.

- Parece transtornada. Não sei como pude lhe ajudar. Se nunca poderá ficar com este cigano, disse ele saindo.

Monique chorou.

- Lutava com a cigana por ele.

A primavera se foi e o verão ia chegando.

Naira tentava esquecer o episódio daquela noite, mas suspeitava de Léo.

- O que há filha?

- Léo e aquela mulher, mãe.

- O que há querida?

- Beberam juntos há alguns meses.

- Vamos embora é melhor, disse a mãe. Já começa a suspeitar de Léo.

Monique foi ao encontro da mãe, Consuelo lia um livro.

- O que há?

- Preciso lhe contar uma desgraça.

- O que houve?

- Espero um filho minha mãe.

- O que fala? Você e Dom Francisco.

- Não mãe. Estou grávida do cigano.

Consuelo sentiu uma vertigem e parecia ir ao chão.

- Meu Deus. O que faremos agora e Dom Francisco. Não acredito.

- Ele deve honrar o que fez ou me matarei minha mãe, disse ela triste.

Marcus entrou nos aposentos da mãe e viu o espanto em seu rosto.

- O que houve?

- Estou esperando um filho do cigano, disse ela gritando.

- Cale-se pediu a mãe. Falarei com seu pai, disse saindo.

- O que é isso Monique? Você não se deitou com ele.

- Quem sabe? Disse ela.

- Você sabe? Ele não vai assumir.

- Ele estava bêbado, não se lembra do que fez e porque uma jovem rica mentiria e perderia seu casamento rico para ficar com um cigano.

- O ama assim?

- Sim, disse ela e esse é o único modo ou nunca o terei.

- De quem é este filho?

- Não é dele, disse ela saindo.

- De quem é, então?

- Não existe filho algum.

- O que pensa estar fazendo. Deu esta notícia a nossa mãe desta forma, como se anunciasse a compra de um novo vestido.

- De uns meses para cá você mudou muito, não lhe reconheço mais está usando uma mentira, por um cigano.

- É a única forma.

- Não, Monique ele será maltratado se viver aqui. O que espera dele?

- Que papai a case com ele ou que ele a leve com você?

- Nada espero.

- Não. O que faz então?

- Deixe-me Marcus, disse ela saindo.

Os ciganos já se preparavam para partir, quando um senhor rico se aproximou com dois criados e perguntou quem liderava aquele povo, foi encaminhado a Otto.

- O que queres senhor? Já estamos de partida.

- Nem todos devem partir.

- Ou partem todos ou nenhum de nós irá.

- Sou Fernandez e quero um reparo de um de seus ciganos.

- Não entendo. Reparo?

- Sim, um cigano de nome Léo.

Otto empalideceu, não podia ser. O que fizera ele, de certo este homem se enganara.

- Minha filha era pura e ia se casar, mas seu cigano a acompanhou até em casa, depois a embebedou e a iludiu. Tirou sua honra e ela espera um filho, disse Fernandez muito envergonhado de se prestar tal papel.

Filha ingrata pensava ele a todo instante.

Queria que os ciganos a levassem, para livrar-se da filha desonrada, antes que a maldita notícia se espalhasse.

- Quem pode provar-me que foi ele quem fez isso?

Léo aproximou-se.

- O que houve pai? Perguntou ele a Otto.

- Este senhor respeitado da Espanha, me disse que você desonrou sua filha.

- Filha, que filha? Sou um homem sério e amo Naira.

- Então não é verdade que acompanhou Monique até minha casa?

-Sim, é verdade, mas...

- Não é verdade que beberam juntos em lugar afastado e que esqueceram o que fizeram?

Léo empalideceu, não se lembrava direito.

- Foi o único homem com quem minha filha ficou longe de meus olhos.

- Não pode ser, disse ele pensativo e se apavorando.

- Bebeu com ela Léo e não se lembra?

- É verdade.

- Minha filha ia se casar com Dom Francisco, homem conceituado. Te viu por duas vezes e porque motivo mentiria. Terá seu nome jogado na boca da nossa gente, seu casamento arruinado, minha vergonha e meu desprezo, porque mentiria se isso não tivesse ocorrido.

Otto percebeu que o homem tinha razão. Se Léo lhe negasse, mas o jovem também não se lembrava.

- E então? Disse Léo se fiz realmente o que quer de mim.

- Quero então que se case com ela, ou melhor, que a leve daqui, pois pra mim ela morreu.

Otto pensou, de fato o jovem não estaria são. Armação ou não a jovem veio pura como uma cigana vem para seus homens.

- Sou chefe e ela só ficará aqui se puder tornar-se uma cigana e mesmo porque Léo é como um filho.

- Entendo, a trago daqui alguns instantes, disse ele.

- Só que ela terá que agüentar o ódio das ciganas.

- Filha morta. Não me importo, disse ele.

- Um momento, disse ele indo até a carroça de Naira.

A jovem cigana o esperava pálida.

- Aconteceu algo que deve saber.

Léo entrou na carroça neste instante e a jovem abraçada com Alena, olhava esperando o pior.

- Léo desonrou uma jovem e ela espera um filho dele.

Naira fechou os olhos e as lágrimas começaram cair.

- Ele só ficará e ela só virá aqui se você suportar lidar com isso. Caso contrário, deixamos os dois a própria sorte, o que seria o mais correto.

A cigana pensou e olhou fundo nos olhos de Otto.

- Diante deles existe uma criança cigana que não merece viver nas ruas. Que fiquem.

- Naira meu amor, disse o cigano se aproximando.

- Deixe-me, gritou ela. Deixe-me. Não falo por você ou por ela, mas por um inocente.

- Lembre-se filho que traiu a confiança do grupo que te deu carinho e amor quando era criança ainda. E é o mesmo que faremos com vosso filho.

- Mas se me disseres agora que é uma armação, que ama Naira e nunca tocou nesta jovem iremos embora, Alena tentou apoiar.

- Vamos Léo, fale e acreditaremos em você.

Naira sabia que ele deitara-se com ela, sentia isso.

- Não me lembro. Posso ter feito. Sou um homem e honro o que faço.

- Então pode ir, disse Otto, mas não espere muito de mim.

A jovem cigana se atirou nos braços da mãe.

- Ele não fez isso. O destino de Léo é ser seu querida ou vai mudar o destino.

- O destino está mudado, minha mãe. Mas que nunca nenhum deles dirija a palavra a mim. É a condição.

- Como posso eu a amo, disse Léo.

- Saia Léo, pediu Otto. Se amontoe em sua carroça com aquela jovem que desonrou e seja feliz. E agradeça por não ser expulso.

- Não o amas? Não acreditas em teu homem?

- Amo-o sim, mas ele não negou dizendo não fez.

Alena a abraçou.

- Não o quer mais? Não lutará para colocar nesta história a verdade?

- Não o quero mais, acabou. Disse ela deixando a carroça e caminhando rumo à solidão.

Alena pediu à Santa Sara que a amparasse.

Monique estava à frente do acampamento, diante do olhar de todos.

- Pense bem, disse Marcus. Terá que viver como eles, disse baixinho.

- É o que quero, disse ela passando pelo pai e mudando de lado.

Fernandez virou as costas e a deixou ali com a roupa do corpo e o filho que não existia.

Vendo a jovem Léo não sabia o que pensar pegou em suas mãos gélidas e a levou à sua carroça.

O sol já estava alto, quando deixaram Madri para trás rumo à Florença.

- Perdoe-me, disse ele a ela, se lhe destruí os sonhos e seu casamento.

- Eu o perdôo, disse ela por que o quero bem.

- Não será fácil vivermos aqui. Perdi a confiança do povo que me amparou.

- E o coração de Naira, disse ela fingindo estar triste.

- Perdemos muitas coisas, disse ele passando a mão nos cabelos.

- Preciso ouvir de sua boca e de seu coração. Eu realmente lhe desonrei?

Por um momento ela pensou em dizer a verdade, mas já estava feito tinha que ir até o fim com sua mentira.

- Foi o único e fez sim.

- Nunca mais falaremos disso. Serás então minha mulher.

Monique sorriu.

Naira não queria se levantar.

- O que há? Perguntou Alena.

- Mãe esta mulher tirou o homem que eu amava e sua vida, desgraçada.

- Acha que ela mentiu.

- Não sei se fala a verdade.

- O que fará. Virá outro e a fará feliz.

- Não minha mãe. As desgraças vão acontecer aos poucos e se atingir o nosso acampamento, eu a mato. Pois avisei para não lutar comigo, pois eu protegerei os meus.

Florença belíssima, que aconchega o povo cigano com reverência.

As carroças iam chegando e as tendas, sendo montadas um pouco longe da cidade.

Mulheres arrumavam a comida, enquanto os homens de braços fortes, montavam o acampamento.

Já acendiam o fogo e o cheiro da carne pairava no ar.

Alguns homens olhavam a carne, outros bebiam sorridentes.

Léo montou sua tenda, enquanto Monique o admirava de longe.

Monique, disse ele, aqui tem um baú com roupas que vão te servir. Deves andar como um de nós, agora.

Monique abriu o baú e rapidamente olhou as roupas. Assim que Léo saiu, ela se vestiu e rodopiou feliz pela tenda.

- Monique, ele a chamou lá fora, aqui estão nossas roupas para lavar.

Ela nunca lavara roupa antes e não saberia fazer.

- Se nunca lavou tente, pediu ele.

Ela pegou as roupas e foi próxima a alguns baldes. Jogou as roupas dentro e começou a esfregar.

Uma jovem cigana se aproximou:

- Você é a tal Monique? Perguntou ela.

- Sim, e você quem é.

- Sou Lua, disse ela. Está com problema para lavar estas roupas?

- Não se preocupe, posso lavar.

- Se quiser posso ajudá-la. Não acho certo o que Léo fez, mas você agora é uma de nós e merece ser aceita como tal.

- É por causa de Naira.

- Sim. Ela é muito amada aqui e os dois se amavam.

- Entendo, disse ela.

- Tenho certeza, que sabia o que faziam e se entregou a ele, depois veio viver conosco deve, amá-lo.

- Mais que a mim, disse ela verdadeiramente.

Era uma moça boa, amava o cigano e tudo que fizera foi para tê-lo por perto. Assim que as roupas foram estendidas, Monique voltava para sua tenda e deparou-se com Naira, que não pode deixar de vê-la.

- Naira, chamou ela.

A cigana a ignorou e atravessou para o outro lado.

Monique foi para a sua tenda e se deitou.

Já era noite, quando as jovens começaram rodopiar e bailar ao som da música.

Naira estava belíssima e Léo a olhava com insistência.

Monique percebeu, mas o abraçou e o beijou.

A cigana viu, mas não teve nenhuma reação e dançou durante toda noite.

A maioria dos ciganos estava se retirando para suas tendas e a jovem ia fazer o mesmo.

Naira chamou Otto.

- O que há?

- Sente-se bem?

- Estou bem.

- Está certa disso. Não quero vê-la triste.

- Não verá Otto.

- Sei de seu amor.

- Não amo ninguém mais, disse ela saindo.

Léo olhos brilhantes, deitado em sua carroça aguardava o raiar do dia.

No peito lhe ia a dor, a dor de não poder estar com quem amava e por vezes tentara falar com Naira, sem êxito.

Já fazia cinco meses que viajavam pelas cidades para vender seus artefatos, mas ultimamente o país passava por uma crise, impedindo-lhes de lucrarem.

Monique e ele viviam em tendas diferentes e Otto não permitira o casamento, por um único motivo que Alena contou:

- Alena, veja Monique sua barriga não crescerá o suficiente, disse ele.

- Já percebi, disse ela e acho muito estranho.

- Estaria realmente esperando um filho?

- Mesmo se não, ainda assim Léo tirou sua honra, disse Otto. Faremos este casamento.

- Acredita você, que ela será feliz aqui.

- Ela anda em nosso meio, mas anda triste.

- Todos a ignoram.

- E Léo como tem sofrido. Nem conversam mais com ele.

- Sei disso, disse ele e percebo.

- E Naira?

- Parece que o esqueceu, mas ainda vê a desgraça.

- E qual é?

- Não sei. Não sei.

Monique percebia que o tempo passava, colocara panos de baixo do vestido para simbolizar a gravidez, que não existia, mas os meses corriam e pelo tanto que trabalhava não poderia fingir.

Naquela manhã manchou suas mãos com o sangue do animal que mataram para comer. E espalhou sem ser vista, sangue por suas pernas.

E jogou-se próximo a uma árvore, por onde passavam as ciganas.

Mirtes uma cigana do local, vinha passando e ouviu os gritos da jovem.

- Minha Santa Sarah, o que está havendo minha jovem? Disse ela se aproximando.

- Deixe-me, pediu ela. Não me toque, tirei meu filho. Todos vocês me ignoram.

- Você sangra. Deixe-me ver, creio que perdeu sua criança.

- Não, saia – gritou ela. Chame Léo é só o que lhe peço.

Mirtes correu ao acampamento.

- O que aconteces, Mirtes? Perguntou Leo.

- Sua mulher sangra, e não nos quer perto.

- Onde ela esta?

- Venha, chamou ela, lhe mostrando a direção.

Léo correu pelo acampamento e logo avistou a jovem, deitada com o sangue e alguns panos como trouxa.

Ele aproximou-se e ia tocá-la.

- Deixe-me. Nem me amas.

- Acalme-se, você sangra deixe nos ajudá-la.

- Não, chorava ela com as mãos ensangüentadas.

- Cadê nosso filho? Disse ele apontando uma trouxa com muito sangue.

- Fui amaldiçoada, por meu pai e por vosso povo, disse ela chorando.

Léo desesperou-se e quis aproximar-se.

- Não se aproxime. Estou só nesta vida. Jogada a própria sorte, perdida como as jovens de Madrid, que deixam suas casas.

- Por amor a um cigano que não me quer, porque me iludiu? E as promessas que fez? E o amor eterno do qual falou? Chorava ela.

- Perdoe-me, pediu ele, tocando no rosto belo da jovem. És minha mulher. Perdoe-me, disse ele beijando-a no rosto e ela lhe entregou os lábios salgados das lágrimas, pela perda do filho.

Todas as mulheres viam a cena, a dor da jovem que perdera tudo por um homem que não tinha. E foi Otto que decidiu.

- Vamos deste lugar e faremos o casamento em Madrid.

- Madrid, disse Alena. Voltaremos para lá?

- Sim. Estamos mal é o único local que teremos dinheiro.

No mesmo dia diante da desgraça que se sucedera, Monique deixou as terras com os ciganos.

Mais confiante. Não mentiria mais, agora viveria em paz com seu cigano.

Durante a viagem Otto ia preocupado, enquanto Nilo conversava com ele.

- Otto posso lhe falar?

- Sim, diga Nilo.

- Leonel se casará com a jovem de nome Monique, não é certo.

- Sim, é certo. Casarão em Madrid.

- E quanto a Naira? Perguntou o jovem de olhos negros.

- Ela terá que aceitar e sei que está infeliz.

- Se me autorizar posso mudar as coisas.

- Mudar? Mudamos tudo, aceitamos Léo apesar do que fez e tornamos aquela mulher uma de nós, embora nunca seja.

Naira ficou só e infeliz e há meses não sorrimos e dançamos, desde que toda nossa crença e nossas regras se perderam em meio aos acontecimentos.

Então uma criança morre e voltamos à Madrid, no mesmo local onde aquele homem nos entregou a filha pela vergonha.

Otto não ficou surpreso. Sabia do amor de Nilo pela jovem, mas ele nunca havia desrespeitado Léo e nem mesmo a jovem cigana.

Ficara calado e por ironia do destino após a morte de Belina sua mulher ele se calara e não pensava em união.

- É isso que quer? Tomar como mulher alguém que está infeliz, porque seu homem se casará com outra.

- Nossa união lhe fará menos culpado. Naira poderá ser feliz, Léo então a esquecerá e uma vez que seremos casados dará valor a pobre jovem que desonrou.

Otto pensou era uma solução para seus problemas.

Quem sabe assim, os ciganos aceitavam o casamento de Léo.

- Se Naira quiser podes levá-la como mulher.

O sorriso no rosto de Nilo se mostrou presente. Ele era jovem, belo e másculo. Seu jeito se assemelhava ao de Léo, era bom e sempre a quisera.

- Fale com ela, Otto.

- Falarei assim que alcançarmos Madrid, disse Otto mais aliviado. Confiante no sim da jovem cigana.

Pois se sentia culpado de fazê-la conviver com os dois, Léo e Monique.

Seria uma solução.

As tendas já estavam montadas, o fogo estava aceso espantando os maus espíritos.

O vinho era consumido e diante do pedido de Nilo os ciganos voltavam a comemorar, pois Naira não estaria desamparada.

Todos aprenderam a amá-la e vê-la sofrer, queriam vê-la voltar a sorrir. Foi assim que logo Jaime contou a Léo.

- Viste o pedido de Nilo?

Léo que percebera a alegria no povo e até os amigos voltando a procurá-lo, surpreendeu-se.

- Pedido?

- Sim, Nilo pediu autorização para tomar Naira como mulher.

Léo jogou o copo de água que bebia contra uma árvore.

- Ele acredito eu, não autorizou.

- Como não? Fez até gosto. Você ocasionou tudo isso e ela está atirada à própria sorte.

- Nilo era meu amigo.

- Verdade que ainda é, pois luta pela felicidade da mulher que você jurou amar.

- E ainda amo, disse ele nervoso prendendo o cabelo.

- Esqueça-a. Se ela o aceitar não será mais sua. E sabe que se quiseres a mulher, de certo morrerá por nossas mãos.

- O que faço, não sei Jaime?

- Viva com sua mulher que é muito bela e que largou tudo por ti e permita que Naira tente ser feliz.

- Não posso aceitar isto, falarei com Otto.

- Léo nós aceitamos a vocês e deves entender.

- Eu a amo, compreende?

- Sim amigo, por isso peço que a esqueça. Ou a desgraça acontecerá.

Otto arrumava o milho no fogo.

Léo aproximou-se e chamou:

- Pai.

Otto virou-se, já esperava a visita do jovem, pois no fundo sabia que ele amava naira e quanto sonhou em vê-los felizes.

- Já sei o que queres?

- Sabes e vai autorizar isto?

- Sim se Naira quiser. Assim será e sabes bem que a sua história com ela acabará neste dia.

- Não pode. Bem sabes que a amo. Que fui arrastado para a fatalidade.

- Fez e deve responder por isso. Fique com tua esposa e não cobices a mulher alheia ou sentirás o punhal de Nilo em sua carne. Não quero mortes por aqui.

- O que faço Otto? Se tanto a amo.

- Poderias fazer muito, mas agora nada mais podes.

- Ainda que Monique morresse, tem e terá o ódio de Naira para sempre. Nunca ela será sua, nunca. Feriu o orgulho de uma cigana, não percebes o que é isso.

Léo estava atordoado.

- Vou falar com ela.

- Não, vais para tua tenda e cuide de tua mulher. Depois iremos trabalhar ou comida faltará temos dois casamentos.

Léo saiu da tenda atordoado, uma lágrima rolou de seus olhos e o que pensar de tudo isso.

Otto encontrou Naira arrumando os longos cabelos. Há meses ela não dançava e não sorria.

Alena se preocupara, mas tentava respeitar o sofrimento da jovem.

- Naira, a chamou entrando.

- Entre Otto e acomode-se, pediu ela.

- Já sabes o que me traz aqui a notícia se espalhou, sendo que todos torcem por vós. Bem sabes.

- Sim – disse ela. Sei que veio buscar uma resposta, a qual pensei que nunca fosse dar.

- Nilo aguarda e todo o povo cigano quer brindar esta união e esquecer toda desgraça que se colocou a frente do destino que traçamos.

- Podes dizer para Nilo que...

- Não tens certeza.

- Tenho, disse ela, com o coração doloroso, mas com a força da cigana.

- Diga a ele que serei sua mulher, disse por fim sorrindo.

- Fico tranqüilo, disse Otto que se preocupava com a situação do seu povo, diante da desonra da jovem rica de Madri.

- Não se culpes, Leonel fez seu caminho e por bem farei o meu e serei mais feliz do que ele é.

- Filha quero que saibas, que ele veio a minha procura. Desnorteado com esse pedido.

- Não quero saber nada. Nunca houve história alguma entre eu e Leonel.

- Aceito, mas temo uma desgraça.

- Deves saber que ela virá e eu não poderei evitar. Foi esta mulher que trouxe a desgraça com ela e se afetar algum de nós eu a mato.

- Bem sabes que já nos afetou, mas não quero mortes. Quero ver a todos felizes e creio nos caminhos.

- Ela desfez os caminhos e fez com que seguíssemos aquele que ela escolheu.

- Sei disso cigana, sei de tudo. Mas conversarei com Nilo e terás o consentimento.

- Sim, converse – disse ela sorrindo.

Assim que Otto se retirou, Naira voltou a penetrar-se em seu coração, fizera a escolha e fora melhor assim.

Viu um vulto entrar e percebeu ser Léo.

- Retire-se daqui, pediu ela.

- Quero lhe falar.

- Nada tenho a lhe falar, saia – gritou ela.

- Não podes casar com outro, eu a amo mais que a mim. Eu a quero.

Naira sentiu as lágrimas caírem.

- Saia. Não há lugar para nós dois neste mundo, não juntos.

- Deixe-me falar, disse ele se aproximando.

- Saia daqui Léo

Neste instante, Nilo surgiu a porta e falou alto.

- Deixe-a. Saia Leonel, e o cigano viu o punhal de Nilo a mostra.

- Não quero lutar com você amigo, então saia e nos respeite – disse Nilo.

- Vá com tua mulher que o espera e deixe-nos, assim todos viveremos bem.

- Bem sei que és bom no punhal e bens sabes que também sou. Alguém morrerá, mas sabes que todos estarão a meu favor.

Léo olhou para Naira que o olhava e disse.

- É o que quer?

- Foi você que assim quis, disse ela virando de costas enquanto as lágrimas caiam.

- Irei então – disse ele. Irei viver minha vida com Monique. Mas você sabe Naira que sou seu destino e você é o meu. Quer lutar contra ele?

- Já luto há muito contra ela. Foi ela quem mudou o destino e você se deixou levar, terão que lutar com a ira do destino e não serão felizes.

- Mas nós seremos, disse Nilo.

- Eu e Naira seremos felizes, disse ele. Enquanto Léo se retirava, vencido pelas palavras frias da jovem que jurou amá-lo.

Monique recebeu naquela noite Léo em sua tenda.

O jovem bebera e fora chorar em seus braços.

- Porque só quando bebes se lembra de mim.

- Lembro sempre de ti, disse ele alterado vindo para perto dela.

- Leonel percebi o quanto lhe amo, o quanto te quero, disse ela olhando em seus olhos. Mas não quero tê-lo assim.

- Quero tê-lo de verdade, após do nosso casamento.

Monique o abraçou e ele adormeceu em seus braços

Arriscara-se com uma mentira avassaladora, para ter o seu cigano.

O acampamento sorria, Monique teve ajuda de algumas ciganas para vestir-se num vestido azul de grande beleza com medalhas.

Naira vestia um vestido vermelho.

Estavam as duas belíssimas.

Léo vinha com um lenço azul, calças largas e blusa folgada do mesmo tom e cabelos soltos.

Nilo vinha de camisa vermelha, calças largas e lenço vermelho combinando com a roupa de Naira.

Todos sorriam enquanto o casamento se consumava, mas poucos sabiam o que lhes iam à alma.

Naira que via seu destino nas mãos da jovem rica Monique, que perdera seu amor para uma mulher de fora e que ainda traria a desgraça.

Casando-se com Nilo com quem nunca tivera nenhum sentimento.

Nilo recebendo a missão de fazê-la sorrir novamente, mesmo sabendo que seu coração era de Leonel.

Léo vendo-se preso a Monique por desonrá-la. Agora perdeu a chance de ter seu verdadeiro amor.

Monique que se juntara a eles em busca de seu amor, largara seu lar e os seus para ser odiada por um povo que não a queria.

Apoiada num fato que não ocorreu. Casando-se com um homem que não a queria.

Após a celebração, a festa, o vinho e a alegria. A noite logo caiu e o dia nasceu regado de festa e varou por mais de uma noite.

Os homens bêbados já dormiam pelos cantos.

Naira entrou na tenda, enquanto o povo esperava a prova de sua honra.

Nilo se aproximou e beijou a jovem, a despindo com delicadeza. Queria chorar, pois a figura de Léo vinha a sua frente.

Fechou os olhos, mas logo sentia o corpo de Nilo sobre o seu, lhe pedindo que o amasse.

Quando abriu os olhos, Nilo já tinha a prova que mostrou aos seus.

Naira permaneceu deitada, tentando entender o que acontecera.

E entendeu.

- Era a mulher de Nilo e nada mais poderia mudar.

Com Monique tudo aconteceu diferente, pois todos sabiam que ela se deitara com o cigano.

Monique estava preocupada, era ela tão pura quanto Naira.

Léo a tomou nos braços e com carinho lhe fez mulher. Ele virou-se e ela rapidamente jogou os lençóis por debaixo do tapete, não poderiam saber de nada.

Assim que ele adormeceu ela saiu com os lençóis, a fim de lavar a prova de sua mentira.

Mas foi Naira quem se aproximou e viu a jovem lavar sua honra.

A cigana empalideceu e quando Monique a viu desesperou-se.

Os olhos de Naira arregalados e cheios de lágrimas tinham agora a certeza. Por mais que a desmentisse ela sabia toda verdade.

Mal amanhecera e ela se lavava, pensou em Léo, que nunca soubera o que acontecera. Ele não a quis e ela mentiu.

A barriga que não cresceu, a criança morta que ninguém viu.

- Maldita – gritou a cigana avançando em Monique.

Alena e Otto ouvindo os gritos de Monique vieram correndo juntos com Nilo e Leonel.

- Largue-a filha, largue-a – gritava Alena.

Naira tirou o punhal da saia e tentou furar a perna de Monique.

Otto tentou separá-las.

E Nilo arrancou sua mulher de cima da jovem Monique, que foi amparada por Léo.

- O que faz Naira? Gritou Léo. Nos deixe em paz.

Naira se aproximou da água e mostrou o pano com sangue.

- Está é a honra de Monique. Foi tudo uma mentira.

Léo empalideceu e Monique chorava no chão.

- Minha Santa, dizia Alena.

- Nada poderá ser mudado – berrou Otto.

- Porque mentiu? Perguntava ele segurando o rosto de Monique.

- Por amor Léo. Eu te quero muito.

- Quer – disse ele levantando Monique e atirando-a novamente ao chão.

- Não há o que mudar és minha mulher, disse Nilo.

Naira chorava nos braços de Alena, olhando para Léo com amor.

- Perdoe-me, pedia.

Leonel olhou fundo nos olhos de Monique.

- Não sabes o mal que fez. Será minha mulher, mas cada dia que acordar se arrependerá de ter conseguido, disse ele pegando Monique e arrastando para tenda.

- Vamos para nossa tenda Naira, disse Nilo lhe pegando nas mãos.

A cigana entre lágrimas lançou um último olhar para Léo.

- A desgraça só começou, disse Alena.

- Que Deus a perdoe, disse Otto.

Naira lavava suas vestes, mas seus pensamentos estavam longe do que fazia.

O amor de Monique era egoísta e maldoso.

Quando a vira não pensava ser ela assim, dona de belos traços e de um físico invejável, suas mãos delicadas, carregam o futuro negro de seus atos.

Teria ela mudado por amor.

Teria ela perdido a sanidade e enlouquecido se apoiando na mentira da desonra.

Talvez se nunca tivesse lido suas mãos e lhe despertado a curiosidade típica das mulheres, ela não tivesse dado atenção aos devaneios de seu amor que nem soubera sentir.

Teria sido ela a culpada, por ter lhe revelado o futuro?

Não, o destino está escrito e foi ela quem escolheu o pior caminho para chegar ao que queria.

Monique não se parecia mais com a moça frágil que fora ver as danças em Madrid, com seu irmão em seu encalço.

Era verdade o irmão a ajudara a suspeitar de Léo e isto demonstrava como a confiança era tão pouca.

Se Léo tivesse negado eu teria acreditado.

Todos estavam condenados agora e alguém teria que abrir mão de seu amor e de seu egoísmo, para trazer a felicidade novamente.

Alena vendo a filha calada se aproximou.

- O que lhe atormenta minha filha?

- Tudo minha mãe.

- Monique teve o livre arbítrio, bem sabes que todos nós o temos e fez sua escolha.

- E nos arrastou com ela?

- Como podemos depender de suas escolhas? Perguntou a jovem.

Alena olhou fundo nos olhos da filha.

- Estão todos interligados pela dádiva da reencarnação.

- O que fiz minha mãe, para não poder estar com quem amo?

- Nada neste período, mas deve ter feito há muito tempo. O amor de Monique por Léo esteve calado e acendeu novamente, por isso ela mentiu e errou.

- Isto é amor? Condenar todos nós a isso?

- Não julgue Monique, ainda acho que irão surpreender-se com ela.

- Nada que ela faça pode mudar.

- Procure você fazer por ela.

- Eu? E tudo o quanto ela me fez passar.

- Sabes se já a fez sofrer um dia.

- Se pensarmos assim, devemos passar nossa vida tentando acertar para aliviar nossos erros.

- Por isso o esquecimento. Deus é tão certo, que todos nós só acertamos quando amamos.

- E Léo? O que fará?

- Esta é uma escolha dele. Se aquiete filha que as coisas irão para o lugar.

Monique chorava num canto, enquanto Léo lhe ignorava. Sua vida virara um inferno, pois ele a repudiava e a deixava chorar sem se importar.

Monique numa manhã fria quando viajavam vendo Leonel fazendo um tacho dentro da tenda disse:

- Preciso lhe falar.

Ele não a olhou e continuou ignorando a jovem loira.

- Estou esperando um filho.

- Brincas comigo, disse ele. Não cairei em sua mentira novamente.

- Não percebe, estou esperando um filho.

- Me deitei um único dia com você e maldita foi esta hora em que te fiz minha mulher, disse ele.

Monique tinha os olhos chorosos, quando o deixou e saiu correndo da tenda, indo chorar perto de uma arvore.

O que fizera com sua vida? O que fazer? Como provar que falava sério desta vez?

Estava morta para os pais, morta para o marido, tinha o ódio do povo e a fúria de Naira.

Ela lhe avisara que seria infeliz, lhe pedira para esquecê-lo.

Era triste lutar com uma cigana. Pois lutar com um era lutar com todos eles.

Estava jogada a própria sorte. Pensou em partir, mas como para onde poderia ir?

Como se arrependera do que fizera. Sentira por quase dois anos a fúria e o desprezo dos ciganos na própria carne.

Estava só, com um filho no ventre do homem que a repudiara.

Rapidamente pegou uma das cordas das barracas e amarrou na árvore. Sentia como se fosse errar novamente.

A corda estava firme, subiu a grande mesa de madeira e amarrou a corda em seu pescoço.

Queria acabar com sua vida. Nada tinha a perder. Fora à causadora da infelicidade em meio a um povo tão feliz, que contagiava por sua alegria.

Preparada para morrer ela chorou.

- Que Deus me perdoe, disse empurrando a mesa com os pés.

Foi Naira que saia de sua tendo que quando ela empurrava a mesa com a corda em seu pescoço.

Poderia deixá-la morrer, mas não, não era assim que resolveria sua vida.

Lembrou-se das palavras da mãe, quando a jovem empurrou a mesa e ela correu ao seu encontro.

Subindo na árvore e cortando a corda, libertando o peso da jovem.

- Monique, o que pensas fazer, disse tirando a corda do pescoço da jovem que tossia muito e se arroxeara.

- Minha Santa, o que fazer?

- Deixa-me morrer sou sucessora da desgraça.

- Ajudem –gritou Naira, para alguns ciganos que correram e ofereceram água.

Rapidamente a levaram até a carroça de Naira, para espanto do povo cigano.

- Esquecemos tudo ou mais desgraça semearemos, disse em voz alta.

- Porque me ajudaste? Perguntou Monique. Destruí vossos mais belos sonhos.

- Sim, mas cansei-me destes desencontros. Porque fez isso Monique? Não estás com teu amor?

- Não nunca estive com Léo e nunca estarei.

- No começo ele tratava-me com dó e agora com rispidez e desprezo.

- Ele está magoado.

- Estou esperando um filho e não minto, acredite.

Naira empalideceu.

- Mas vou-me embora.

- Vais para onde, com um filho no ventre. Se nem a casa paterna lhe dará refúgio. Nem pensas nisto.

- Filho da mentira, disse ela entre lágrimas.

-Acalme-se. Ficará aqui com nosso povo.

Naira foi ao encontro de Léo e o encontrou.

- Sabe que sua mulher tentou se matar?

- Devia ter morrido.

- Espera um filho teu.

- Acredita nela, depois de tudo que ela nos fez.

- Sim. Desta vez é verdade.

- Não a quero Naira, sabes o quanto a amo.

- Sei de tudo, disse ela e o amo muito, mas ela é sua mulher e fizeste o filho desta vez.

- Pedes que eu aceite?

- Sim e aguarde. Você ainda é o meu destino, disse ela saindo.

Mas após aquele dia Monique não mais se levantara.

Adoeceu e não mais se levantava, vítima de uma moléstia muito grave.

Léo entrou na tenda e a viu deitada, ardendo em febre e falando palavras sem nexo.

Não havia ninguém a sua cabeceira, somente Naira.

- Que fazes aqui?

- Perdoe seus erros. Está muito ruim e seu filho não irá vingar.

- O que fazer então Naira?

- Todos que poderiam salvá-la já a olharam e baixaram a cabeça. Nada nos resta.

- E se chamássemos seu pai?

- Ele a considera morta.

- Não se lhe contarmos que ela sofre e pode morrer.

- Irei chamá-lo, então.

- Faremos melhor. Nós a levaremos até ele. Tem muito dinheiro e pessoas que podem curá-la.

- Devem morar no mesmo castelo.

- Iremos até lá, prepare-a Naira e vamos levá-la.

O castelo de Fernandez continuava belo. Um pouco sombrio pela falta dos filhos.

Marcus se casara há um ano talvez e desde então Fernandez vivia só com a mulher.

Léo se aproximou e bateu ao portão:

- Nina a mesma criada o atendeu. Pois não senhor, disse ela.

- Um momento, pediu Léo indo até a carroça e pegando Monique nos braços.

- Eis aqui o que venho pedir.

- Pedir? Não entendo.

- Ela morre e morrerá de certo em nosso meio. Espera um filho e em nome do amor de pai de Seu Fernandez, que peço que a ajudem.

Logo Fernandez estava à porta e vendo a filha quase morta disse:

- Que aconteces, cigano?

- Monique morre e junto com ela vosso neto.

Fernandez vendo a filha esqueceu da honra e da vergonha e abriu a porta.

A mãe veio correndo ampará-la.

- O que houve?

- Tudo uma mentira. Sua filha mentiu para nos casar e só depois de um tempo descobri que nunca a desonrei. Entretanto já estávamos casados e agora ela morre, com de fato um filho meu em seu ventre.

Logo ela foi levada para dentro.

- Ela fica em vossas mãos, disse saindo.

Léo sentia o coração doer, era horrível devolvê-la, mas era a doença que o levava a tomar tal atitude.

Em nenhum momento pensou em devolvê-la.

A grande falha da jovem foi errar e era perdoável por ser por amor.

Sua cigana casada com Nilo e mesmo sem Monique, seus sonhos estavam destruídos.

Naira e Léo deixaram a jovem sobre os cuidados dos pais.

Pensou no ódio do pai da jovem, quando lhe foi querer reparo da desonra, que não ocorreu.

Mas os pais perdoam, ainda que Monique viesse a falhar como filha no íntimo seria perdoada.

Léo observou Naira subir na carroça. A jovem que um dia estivera em seus braços, parecia muito distante.

A mão cheia de anéis, de repente tocou o rosto do cigano e como um sussurro ela disse:

- Ainda te amo.

Léo sabia o que era o amor da cigana e seu ódio também.

Mas não a teria, a não ser se fugissem. Fugir era deixar o acampamento e viverem pelo mundo amaldiçoados pelos seus.

A que ponto uma mulher os levava a desgraça.

Léo queria lutar com o dono de Naira antes seu amigo, agora seu inimigo.

Poderiam se matar e destruir a harmonia em que viviam, isto era certo.

Não haveria o que mudar.

Aquele sussurro da cigana que ao chegar desceu da sua carroça e foi para sua tenda, era um pedido, lute por mim.

Um convite à guerra que não partira dos lábios de Monique, que trouxera a guerra, mas de sua cigana que só queria casar e lhe dar filhos.

Com sua confissão:

- Ainda te amo.

Ela disse estar preparada, ainda que saíssem mortos dali.

Morreria com ela então.

- Diga-me minha mãe, o que existe entre nós?

- Não é tempo de saber minha filha, você ainda pode evitar uma desgraça.

- Fala de Nilo.

- Sim, ame-o e...

- Sabe que nunca virei a amá-lo. Que serei infeliz se aqui ficar.

- Do que fala?

- Se Léo me querer, iremos daqui.

- Abençoados por mim, mas odiados pelos nossos. As pragas dos ciganos os seguiriam até o fim. Deixar Nilo que a amparou e a amou é deixar todos nós.

Naira olhou fundo nos olhos da mãe.

- Bem sabes mãe, que se Monique não tivesse surgido nada disso teria acontecido.

- Seu erro foi temer e lhe revelar o futuro naquele dia.

- Verdade mãe, E se amar é errar. Errarei de novo.

- Filha, disse a mãe lhe segurando nos ombros.

- Sou cigana e um erro, não justifica outro e por ser cigana ficarei do lado de meu povo.

- Vai virar as costas pra mim.

- Sim, disse a mãe.

- Realmente minha mãe a desgraça caiu sobre nós, disse com os olhos tristes e saiu.

Léo aproximou-se da jovem e com os olhos felizes disse:

- Vamos daqui cigana, arruma tuas coisas e vamos embora.

Naira o beijou com amor e entre lágrimas, disse:

- Preparado para o ódio de Nilo.

- Sim estou. Ao cair da noite sairemos daqui.

- Te espero, disse ela se distanciando.

Ao cair da noite, a jovem se levantou e olhou Nilo com pesar.

Estaria fazendo o certo?

Virou-se sem olhar para trás e em meio a escuridão, Léo a esperava.

Avistando o cigano ela correu para os seus braços com paixão.

- Perdoe-me Léo.

- Amo-te Naira, sempre te amei.

Um vulto saiu do meio do mato e gritou:

- Saia daí Naira, minha luta é com ele.

Do meio das folhagens saiu Nilo e ao lado estava sua mãe.

Os olhos da jovem se encheram de lágrimas.

- Porque minha mãe? Perguntou entre lágrimas.

- Só quero impedir que vá, fique e esquecemos tudo.

- Não esquecerei – gritou Nilo com seus punhais na mão ele foi ligeiro.

E os atirou rapidamente, na direção de Léo.

Aos gritos Naira se colocou na frente do seu cigano, um punhal a atingiu, seguido de mais um.

A mãe aos gritos, correu para filha entre lágrimas.

- O que fez Nilo?

Léo pegou a jovem nos braços e ela sorrindo lhe pediu que continuasse.

- Morrer juntos, disse.

Com tais palavras ela lhe pedia para lutar.

Com ira, Léo foi para cima de Nilo e lutaram.

Uma luta de gigantes, as forças iguais e de repente no mesmo momento Léo atingiu Nilo e ele atingiu Léo.

Os dois cambalearam e Nilo caiu.

Léo ainda se arrastou até Naira, pegou em sua mão e fechou os olhos.

A mãe da cigana gritava, com a jovem no colo e logo os ciganos acordaram.

Aos gritos a mulher sentia-se culpada. Antes de contar a Nilo haviam conversado e ele havia prometido que a perdoaria.

Oto a amparou e chorou ao ver que Monique trouxera a desgraça. Três filhos do povo cigano estavam mortos.

Continua...

Gil o sete
Enviado por Gil o sete em 10/11/2008
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