POR UM AMOR CIGANO ( PARTE II )
Monique estava mal, apesar dos cuidados ela morreria, só estavam conseguindo adiar.
Já estava de nove meses, quando o médico disse:
- Ela morrerá, Não há o que fazer.
Naquela noite Monique teve forças para lutar, colocando seu filho no mundo e dizer a mãe:
- Leve-o para os ciganos. Leve-o para Léo e Naira é o filho dele.
A mãe com cuidado, falou da desgraça que se sucedera.
Entre lágrimas Monique chorou.
- Não poderei reparar o que fiz nesta vida, mãe, mas farei. Pagarei o que fiz e os unirei em outra vida.
- Te prometo minha mãe. Juro em nome de Deus, que unirei o que separei.
Naquela noite Gregori nasceu e na manhã seguinte, Monique estava morta e a promessa em seus lábios.
Com pesar a mãe levou o bebê ao acampamento.
Otto e a mãe de Naira a receberam.
- É o pedido da minha filha. É uma parte das vidas que ela tirou por amor.
Otto limpou uma lágrima.
- Aceitamos esta vida para fazer renascer nossa aldeia.
Entre lágrimas soube o final daquela história, beijou a criança, se foi e entre lágrimas disse:
- Monique minha filha que Deus a perdoe.
Monique andava pela colônia.
Neste tempo aprendera tantas coisas, mas a idéia de unir aqueles que separou era forte dentro de si.
Andava pelo jardim com duas crianças, quando Franceslau um espírito muito respeitado lhe chamou e disse:
- É o momento.
- Fala da dádiva da reencarnação.
- Sim Monique, muitos anos se passaram.
- Quantos?
- Só posso lhe dizer que seus netos no passado também já voltaram para o mundo espiritual. Agora nasce novamente como um deles. Era o que queria e o que será. Nasce como prometida de Léo e cabe a você resgatar a amizade dele com o amigo e entregá-lo a Naira ou a luta continuará.
Monique o abraçou com carinho e respeito.
Katina corria feliz pelo acampamento.
Tudo que esperava era a chegada de Ruan, seu futuro marido que estava em viagem.
Sentou-se a beira do lago e lavava suas roupas, quando sua avó aproximou-se cabisbaixa.
- O que foi minha avó? Perguntou feliz.
- Nada querida. Apenas percebo que perderei minha querida neta.
- Como perder vovó? Estarei sempre aqui. Viverei neste acampamento com Ruan e estou muito feliz.
- O seu cigano já chegou e a espera na cidade filha. Veio com um outro povo cigano, que irá acampar por aqui.
- Irei ao seu encontro, disse a jovem feliz.
Ruan estava conversando com outro cigano de nome Pablo e haviam ficado amigos durante a viagem.
O jovem não era de muita conversa e protegia sua futura mulher como uma leoa a sua cria.
Entre eles surgiu Luana uma jovem linda. Nascida cigana e amada por Pablo com toda sua força.
- Vai nos deixar agora Ruan, volta para o teu povo? Perguntou ela.
- Sim, disse ele. Agora sigo viagem com eles, mas não esquecerei aqueles que passei a admirar e respeitar, disse ele encarando Pablo sorridente.
- Parte ainda hoje? Perguntou ela.
- Espero minha futura mulher, disse ele.
- Se casa logo então? Perguntou Pablo.
- Sim. Ainda nesta cidade.
- Que sejas feliz com tua mulher, como serei com a minha, disse olhando sua prometida Luana.
A jovem tentou disfarçar o desgosto.
Não amava Pablo, mas ver Ruan partir doía demais, era triste saber que o cigano casaria com outra e partiria.
Tentava não pensar olhando os dois homens, quando uma jovem cigana surgiu e abraçou Ruan, era Katina.
- Esta é a minha cigana, disse ele sorrindo.
Vendo a jovem cigana, Luana estremeceu, ela era linda, profunda mágoa passou por seus olhos Ruan se despediu e se distanciava.
Luana ficou vendo os dois se distanciarem e queria morrer.
Ruan lançou um último adeus à cigana e foi para o seu povo.
O dia chegava ao fim.
A noite belíssima chegava.
Ruan sentado aos pés de uma árvore estava pensativo.
A velha avó de sua futura mulher aproximou-se.
- Quanto quer por seus pensamentos cigano?
O jovem sorriu, seus pensamentos eram caros.
- Nada penso, disse ele.
- Pensas, disse a velha. Já vi a distancia nos olhos de Katina. Já vi sua partida.
- Partida? Do que fala?
- Falo que não ficarão juntos. Partirão separados.
- O que viu, Madalena? Perguntou ele afobado.
- Dê-me a sua mão – pediu ela séria.
Apanhando a mão do jovem, disse:
- A vida tem seus encantos e a magia cigana é evidente. Vejo uma outra cigana em sua vida.
- Luana, disse ele desesperado.
- Já a ama então?
Ruan se levantou passou a mão pelos cabelos.
- Sim. Já a amo. E sonho com ela, com situações em que estivemos juntos. Santa Sara perdoe-me, mas amo não nego. Amo há muito tempo.
- E minha neta? E Katina?
- Irei me casar com ela, mas confesso que apenas gosto dela. Amor eu só sei o que é, depois de conhecer Luana.
- Sabes que não podes fugir, esta é a vossa vida.
- Bem sei. Luana se casará com Pablo um bom amigo. Creio que até ele já percebeu o que sinto, pois não me quer próximo dela.
- Com tal amor temo uma desgraça.
- Não Madalena, sei o que devo fazer. Eu sei.
A figura de Luana não deixava os pensamentos de Katina. Sentiu-se mal com a presença da jovem.
Percebia Ruan distante e cabisbaixo pelos cantos.
À vontade de casar não era a mesma e por vezes ela o pegara com um lenço azul nas mãos.
Estava certa que a outra cigana estava entre eles.
Viu o amor nos olhos da cigana e o ódio nos olhos do cigano Pablo.
Ruan entrou na tenda e a jovem o olhou com amor, abraçando-o.
- O que houve? Perguntou ele.
- Estou com medo, disse ela.
- Medo, medo do que?
- De perdê-lo Ruan. Não deixarei de lutar por você.
- Do que fala? Perguntou ele olhando nos olhos da cigana que chorava.
- Acalme-se, está tudo bem. Estou aqui e sempre estarei.
Todos dormiam no acampamento, mas não Ruan que agarrado ao lenço da jovem andava pelo acampamento em profundo desespero.
- Ruan – ouviu alguém chamando.
Virou-se e Luana estava a sua frente em meio à escuridão.
- Luana, disse ele correndo ao seu encontro. O que fazes aqui?
- Não posso agüentar, eu o quero muito – disse beijando o jovem que com todo amor abraçou a cigana.
- O que faço? Perguntou ele aos céus abraçado a jovem.
Neste instante o vulto de Katina surgiu e os viu na escuridão, jurando amor eterno e paixão até o fim. Agüentariam o destino, calados embora apaixonados.
Katina nada disse, chorou calada e naquela noite não dormiu.
Pensou em ir falar com o futuro marido da jovem para que a tomasse logo como mulher e a levasse dali.
A tristeza se fazia presente, seu homem lhe escapava das mãos. Era seu prometido, mas não seria seu.
A cigana evitava olhá-lo e chorava calada.
O acampamento estava em festa e seguindo a tradição Ruan esperava a sua prometida para tomá-la como mulher.
A jovem penteava os cabelos e aprontava-se quando Luana adentrou em sua tenda.
- O que quer? Perguntou Katina assustada.
A jovem estava pronta para se casar e também seria naquela mesma noite.
- Preciso contar-lhe.
- Não me conte. Sei de tudo, mas Ruan é meu homem e se casará comigo. Nada que você faça pode tirá-lo de mim.
- Ele me ama, é você quem o está tirando de mim, disse Luana entre lágrimas.
Katina não sabia o que dizer a jovem.
- Volte para o seu povo e se case com o seu homem.
- E condenamo-nos todos. Eu viverei com um homem que não amo e você enganada. Ruan me ama.
- Eu sei disso, disse ela. Ruan foi meu até encontrá-la.
- Por Santa Sara não se case, pedia Luana.
- O que muda? Fugirão - disse entre lágrimas – pois seu homem não aceitará.
- Ele me mata, disse ela chorando.
- Saia, por favor, pediu Katina virando de costas.
Ruan a esperava, quando Katina entre lágrimas chegou.
- O que houve? Por que choras?
- Sei de tudo sobre aquela cigana que se chama Luana, ela veio aqui implorar que eu não me case.
- O que você está dizendo? Disse ele assustado.
- Sei de uma cigana cheia de vida e que ama muito. E quero ao meu lado um cigano que me ame ardentemente. Sei que tem esse amor em seu peito. Juras de amor eterno, de sacrifício e paixão. Mas sei que não sou a dona do seu amor, mas ela sim.
- Entreguei você a Luana quando você viajou com eles por necessidade. Ou foi o destino que os cruzou?
- Você a ama, não é verdade?
- Sim, disse ele. Não posso negar, mas me...
- Saia daqui, não o desejo assim.
- Pare com isso. O que vai fazer?
- Vou embora, não sou eu quem vai brigar com o destino. Já arrumei algumas coisas e parto. Ninguém se importa com quem você ama, portanto fique com ela, mas eu me importo.
- Diga que fugi, disse ela deixando a tenda.
- Katina o que você está fazendo?
- Te devolvo para ela, porque se não me amou nunca foi meu, disse ela se embrenhando no mato.
Ruan viu a jovem distanciar-se e saiu em disparada para o acampamento de Luana.
Invadiu a tenda de Pablo que se assustou.
- O que faz aqui? Não devia estar com os seus.
- Não, disse ele.
- Sei o que lhe trouxe aqui, foi Luana e até acho que foi corajoso de sua parte, mas se eu tiver que lutar contigo vou lutar por ela, porque nos amamos e ela é minha mulher. E como ousas vir aqui, disse ele tirando o punhal.
Luana entrou na tenda e colocou-se à frente de Ruan.
- O que faz Luana. Saia daí ou será morta com ele e terei toda a nação cigana do meu lado.
- Então nos mate Pablo. Mate a mim primeiro - disse abrindo os braços
Pois amo além de mim e lhe respeito muito, prefiro morrer a ter que lhe enganar.
- O que fala, disse ele cego de ódio.
- Perdoe-me, pedia ela, mas sabes o que é o amor e quer matar por ele. Morreremos todos então, pois estou disposta a morrer por meu amor.
- Sei que não me ama, mas não vou aceitar o que faz, disse ele partindo para cima de Ruan.
Luana tentou impedir, mas o punhal cortou sua carne.
Vendo que a atingira Pablo largou o punhal desnorteado.
- O que fez Luana?
Ruan a amparou, enquanto o sangue manchava sua roupa. Uma profunda dor se deu em Pablo.
- Por que fizeram isso comigo?
- Nos amamos e sei que poderemos os dois morrer por isso.
Rapidamente Pablo afastou Ruan e pegou a jovem nos braços.
- Quero salvá-la, mas não o quero aqui e ainda que demore muitos anos eu o matarei, disse ele ao cigano cheio de ódio.
O dia amanhecia e os ciganos descobriram tudo que se sucedera.
Katina desaparecera, deixando um bilhete pedindo que não os matassem que os deixassem viver.
Ruan não voltou para o acampamento, mas ficou nas cercanias da cidade.
Luana foi socorrida e estava em seu leito sem correr perigo, quando Pablo entrou na tenda.
A jovem o olhou com lágrimas nos olhos.
- Perdoe-me foi mais forte que eu.
- Estou indo embora Luana. Nunca gostou de mim e eu quase a matei. Eu a amo muito cigana e não quero matá-la ou me casar com você para vê-la sofrendo ao meu lado. Nunca me traiu, pois nunca me amou.
- Os ciganos não me perdoarão.
- Não, isso não. Eu partirei e você fica, disse ele.
- Fico? Só?
- Não, fica com ele. E se ele realmente te amar larga os seus e fica com você.
- Você não o matou? Perguntou ela entre lágrimas.
- Não, porque eu não o encontrei. Mas não sei se teria feito se o encontrasse.
Ruan foi meu amigo.
Pablo beijou a testa de Luana e assim que a viu em pé e melhor, deixou o acampamento.
Algum tempo depois Ruan apareceu e a abraçou com amor.
- O que será de nós? Perguntou entre lágrimas.
- Meu povo continua acampado perto da cidade, Katina deixou uma carta e me abandonou. Eles me aceitaram também a você.
- Como? Não entendo?
- Katina partiu e me deixou.
- Ela nunca poderia ter feito isso.
- Fez por nós, disse Luana.
- Sim. Como se precisasse fazer esse sacrifício.
- Que Deus a acompanhe.
Katina adoentada via sua avó ao seu lado.
- Vovó como me achou?
- Vim até você quando soube que estava aqui.
- Estou morrendo vovó. Esta maldita doença me pegou.
- Estou aqui filha.
- E Ruan e Luana?
- Estão entre nós. Ruan é o chefe e você culpada porque abandonou tudo.
- O destino escreve vovó, devemos respeitar.
- Minha neta querida, és muito nobre.
Katina sorriu e fechou os olhos para o mundo.
Fim
Pelo espírito Isabel
Patrícia Cavazzana da Silva
Gil o sete