A METÁFORA DA SEMENTE

Há muitos anos plantei uma semente de uma árvore frutífera. Algum tempo depois percebi que ela havia germinado. Foi uma grande alegria para mim, como também foi para diversas outras pessoas de minhas relações.

A germinação foi a certeza de que cresceria um belo exemplar daquela espécie, que haveria, além de nos proporcionar uma acolhedora sombra sob sua copa, dar bons frutos para gáudio de todos. Afinal, foi a primeira semente que plantara até então.

Fui cuidando dela, enquanto tenra, com muito carinho e zelo. Tudo aquilo que considerava iria lhe fazer bem apressava-me em providenciar. Nos primeiros anos ela se desenvolveu plenamente, dando provas de muita vitalidade. Os meus cuidados com ela eram constantes.

Já adulta, suponho, começou a produzir os primeiros frutos, assim como, sob a sombra de sua copa, já se podia sentir aquele frescor característico. Por tudo isso, tinha por ela uma atenção especial, pois ela trazia-nos um ambiente de tranqüilidade, alegria e esperança.

Assim, durante anos, convivemos com aquela árvore majestosa, que simbolizava como que uma vitória, não só por eu a haver plantado, como pela punjança que demonstrava a quem a conhecesse. Todos a elogiavam, tal era a sua vitalidade e beleza.

Eis que, de um momento para o outro, percebi que havia algo estranho. A árvore começou a dar sinais de que não estava bem. Alguma coisa teria acontecido inesperadamente. Fiquei a pensar o quê teria ocorrido de errado.

Aquela copa que nos abrigava já não era a mesma, assim como os frutos que produzia não eram como dantes. Procurei, com o maior empenho, todos os recursos para devolver àquela árvore a sua plenitude de antes. E essa procura foi longa e determinada, afinal, a árvore merecia. Em vão, pois todos os recursos empregados não foram capazes de devolver àquela árvore o seu vigor dos primeiros anos. Nunca mais voltamos a ter a mesma felicidade daqueles bons tempos. Nem eu nem a árvore.

Muito tempo se passou. A tristeza tomou conta de mim. Eu podia perceber que o mesmo acontecia com a árvore. Ainda assim, jamais desisti de manter viva a minha esperança quanto à recuperação daquele ser vindo de uma semente que plantei.

Eis que, um belo dia, deparo-me com uma surpresa. Notei alguns sinais de revitalização naquela árvore. O sentimento de tristeza que me assolava transformou-se de repente em sentimento de esperança. Passei a acompanhar mais detalhadamente o processo de volta à vida que estava ocorrendo com a minha amiga árvore.

Hoje vejo que o processo continua, de forma lenta e gradual, mas continua. A cada dia posso perceber sinais vitais que estão sendo, aos poucos, manifestados pela árvore. É o suficiente para renovar as minhas esperanças de voltar a vê-la majestosa, como uma prova inequívoca da capacidade da natureza em nos retribuir pelo bem que a ela fazemos.

Augusto Canabrava
Enviado por Augusto Canabrava em 11/11/2008
Reeditado em 12/11/2008
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