Revista CELEBRIDADES MÍTICAS entrevista A Morte

Numa entrevista bem-humorada, Morte fala de trabalho, rock, dá uma pincelada sobre um irmão também famoso, sobre seu novo escolhido e sobre como é ser a Musa Inspiradora de alguém.

Celebridades Míticas: Morte, você anda bastante ocupada ultimamente. Como tem sido o treinamento dos subordinados?

Morte: Treinar gente nova não é nada fácil. Dos mais recentes, contratei Tânatos, Shiva, e esse rapaz, o judaico-cristão, mesmo sendo um tanto egocêntrico, é um bom profissional. Além disso, a carga de trabalho tem aumentado a cada ano, e estamos cumprindo as metas em cima do prazo. Mas é gratificante. Gosto muito do que faço, e a minha equipe também.

CM: E a vida particular?

Morte: Não tenho de que me queixar. Entre uma guerra e uma catástrofe natural, imagine só, tenho curtido uma de Musa.

CM: Musa?

Morte: Sim! Eu já andava preocupada. Desde o Manuel Bandeira, e antes dele, o Augusto dos Anjos, não encontrava um admirador que me amasse tanto. Não servia mais de inspiração para escritores e poetas.

CM: E o Tim Burton?

Morte: Ah, ele é muito instável... e depois, ele gosta mais do Johnny Depp do que de mim.

CM: Mas... e então, quem é?

Morte: Olha, ele é bem jovem. Eu o conheci, ou melhor, conheci os seus contos e poemas, na internet. Gente, fiquei abismada com seus contos. Se não sou a protagonista, meu papel é fundamental em sua obra. De todo modo, tudo o que ele escreve, em prosa ou em poesia, tudo gira em torno de mim.

CM: Rolou aquele lance de amor platônico entre o poeta e a musa?

Morte: Há sempre um toque de luxúria relacionado a mim, uma tensão sexual constante. Eu confesso que em alguns textos ele exagera um pouco. Já em outros... aiai...

CM: Então a recíproca pode ser verdadeira? [risos]

Morte: [risos] Sim e não. Que ele é atrevido, isso é. Eu gosto disso, mas não quero alimentar nele nenhuma esperança. Mas eu o provoco sempre que posso. É muito estimulante para o meu trabalho. E excitante.

CM: E para o dele também, eu acredito.

Morte: Ah, eu acho que é.

CM: Dizem que você é muito ciumenta. Outro dia, ouvi falar que um músico que a venerava perdeu uma grande oportunidade de ser famoso por sua causa.

Morte: Mas que xeretas, hein! Na verdade, o músico de que vocês ouviram falar e o meu poeta são a mesma pessoa. Se você quer saber se o boato é verdade: sim, é verdade. A história é mais ou menos assim: no início da década de 80, resolvi encerrar uma banda que já não tinha o mesmo pique, e criei uma lenda: o Led Zeppelin.

CM: Foi você que acabou com o Led?

Morte: É claro! Se não tivesse trazido John Bonhamm para mim, o Led teria entrado para a mediocridade. Fiz o mesmo com muita gente boa. Até hoje eles, e os seus milhares de fãs, só me agradecem. Bom... nem todos os fãs. Muita gente ainda me amaldiçoa porque mandei o David Chapman buscar o Lennon. É uma conseqüência da minha profissão.

CM: Mas e o seu poeta?

Morte: Ah, sim. Há uns anos atrás, o Page, o Plant e o Jason Bonhamm, filho do John Bonhamm, que também é baterista, planejaram voltar a tocar juntos. Como John Paul Jones estava relutante, ou melhor, estava sumido, alguém deu a idéia de fazerem um concurso para que, em cada país onde o Led tocasse, um jovem baixista local assumisse o lugar do Jones. Esse “alguém” que deu a idéia era um tal Todd McCormick, sobrinho do Peter Grant, o legendário agente e empresário da banda. Todd planejava, antes de tudo, fazer uma apresentação memorável como a última dos Stones no Brasil: tocar em Copacabana, para uma multidão inimaginável. Um show de arrasar!

CM: Trabalho e diversão pra você!

Morte: Certamente! Eu me divirto muito em grandes shows. Levo gente ao delírio, ao êxtase, e depois, trago-os para minha casa... Uma loucura! Mas, quando o sorteio do baixista estava em vias de acontecer, recebi uma ligação do meu maninho Destino.

CM: Destino é seu irmão? Como na história em quadrinhos?

Morte: É lógico! [risos] Eu e o Neil Gaiman somos... bem íntimos. Bem, naquele dia, Destino me ligou e disse bem assim: “Mana, adivinha quem será o sorteado para ser baixista do Led Zeppelin por uma noite?”. Você não imagina a raiva que eu fiquei.

CM: Ah, eu imagino sim. Cada vez que você se irrita acontece alguma calamidade. [risos]

Morte: [risos frenéticos] É verdade! Bem, eu não podia deixar que meu poetinha lin-do [fazendo caretinhas, apertando as próprias bochechas] fosse dividir a sua atenção entre uma possível legião de fãs, ou ainda... pudesse arrumar outra musa: a fama. Afinal, não tenho muitos admiradores, não é...

CM: E aí? O que você fez? Mandou o seu escolhido subir no telhado?

Morte: Não ele. O Todd. E em grande estilo. No dia que o empresário estava indo do apartamento dele para o local onde fariam o sorteio, apareci, como uma jovem inglesinha cheia de curvas que ele, ops!, atropelou. Ele foi muito atencioso, me pôs no carro, quis me levar para o hospital... mas ele não resistiu ao meu decote. Nem ao meu olhar de femme fatale.

CM: Você é terrível!

Morte: Terrível não, baby, eu sou irresistível! [muitos risos] Bem..., o Todd perdeu completamente a noção do tempo, do espaço, e dos próprios limites físicos. Morreu. Encontraram mortinho e feliz dentro do carro num estacionamento na Abbey Road. Por causa da morte inesperada do amigo, John Paul Jones, o baixista desaparecido do Zeppelin de Chumbo, reapareceu. E o show deles, no ano passado, foi um enorme sucesso. E infelizmente, a idéia do concerto em Copacabana foi por água abaixo.

CM: E o seu escritor? Quais são os seus planos para ele agora que ele não foi e nunca será o baixista da maior banda de rock de todos os tempos?

Morte: Ah, ele tem bastante coisa para fazer ainda. Está publicando numa e-zine chamada SAMIZDAT, vários e vários contos e poemas sobre mim – ai, como isso é bom! Não é sempre que eu encontro alguém tão inspirado em mim, e que me faça sentir tão... tão desejada. Mas, nunca se sabe, não é? Qualquer hora, eu fico doidinha e o chamo para viver numa das minhas mansões. E garanto que ele vai adorar.

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Para o meu amigo e colega de ofício, Pedro Faria - o cunhadinho do Morfeu.